Quem é o baiano que está na lista de futuristas mais importantes do mundo
Paulo Rogério Nunes foi eleito um dos 100 futuristas e inovadores de origem africana mais influentes pela MIPAD, parceira das Nações Unidas
Paulo Rogério Nunes é um empreendedor inovador de 43 anos reconhecido pelo MIPAD (organização parceira das Nações Unidas) como um dos 100 afrodescendentes mais influentes. Ele está à frente de projetos que buscam diversificar o mercado da comunicação, acelerar startups e promover o afrofuturismo.
Um "empreendedor serial". É assim que Paulo Rogério Nunes, de 43 anos, se define. Há cerca de 20, ele está à frente de diversos empreendimentos - e todos, de alguma forma, são ou foram inovadores. Desde a lan house que criou na comunidade onde cresceu em Salvador, no início dos anos 2000, até sua empresa de aceleração de startups, a Vale do Dendê, conhecida e reconhecida nacionalmente.
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Por essa trajetória, Paulo Rogério foi eleito pela Most Influential People of African Descent (MIPAD), organização parceira das Nações Unidas, um dos 100 futuristas e inovadores de origem africana mais influentes do mundo. Anualmente, a MIPAD divulga listas de pessoas que foram relevantes para a comunidade afrodescendente.
O nome de Paulo Rogério aparece na categoria "Afrofuturismo e Criativos", que, segundo a organização, celebra indivíduos que exploram a interseção da cultura africana, da ficção científica e da arte, moldando futuros imaginativos e ampliando os limites criativos. Há mais uma nomeação brasileira na lista, referente à professora e executiva Grazi Mendes.
O que é afrofuturismo?
Paulo Rogério Nunes descreve o afrofuturismo como um movimento cultural, político e filosófico global que insere afrodescendentes ou pessoas de origem africana no centro do debate sobre o futuro ou de imaginação desse futuro. No campo das artes, ele cita como um dos exemplos mais marcantes desse afrofuturismo o filme Pantera Negra.
"A própria noção filosófica de se imaginar no futuro por muito tempo foi negada para um povo que foi escravizado", resume Paulo Rogério.
O trabalho dele nas diferentes frentes em que atua, desde que começou a empreender, está relacionado a essa inserção de pessoas negras no futuro.
"Eu não sou o cara de ficção científica, eu não sou o cara que pensa nessa narrativa mais especulativa. Eu trabalho mais com o campo da tecnologia e da preparação das pessoas afrodescendentes, negras em geral, para que elas entendam que o futuro está chegando em relação à inteligência artificial, em relação à blockchain, em relação à internet das coisas, à robótica. Se preparar para esse novo mercado, mas também se preparar para os desafios que vêm aí na frente em termos éticos, em termos da concentração da tecnologia na mão de poucas pessoas", explica.
Trajetória de inovação e protagonismo negro
Antes de ser indicado na lista que reconhece iniciativas do afrofuturismo, Paulo Rogério foi, em 2018, nomeado pela mesma organização como um dos 100 afrodescendentes mais influentes com menos de 40 anos. Ele menciona os nomes de Lázaro Ramos e Taís Araújo que também apareceram na mesma lista, no ano anterior ao seu reconhecimento.
Programador de profissão e posteriormente formado em Publicidade, uma das primeiras empresas das quais Paulo Rogério ajudou a fundar foi a Mídia Étnica, em 2005. A empresa buscou diversificar o mercado da comunicação na cidade mais negra do País.
"A gente formou praticamente uma ou algumas gerações de profissionais de comunicação que hoje estão no mercado, jornalistas, publicitários, cineastas, com esse foco na diversidade, quando naquela época não tinha tanto debate como tem hoje", diz.
Paulo Rogério não participa mais do projeto, que se mantém ativo. Mas através das outras iniciativas que fundou junto com parceiros, como a Afar Ventures, a Afro.TV e a Vale do Dendê, continuou no mesmo propósito de capacitar, incentivar e fomentar a diversidade.
Ele não consegue estimar quantas pessoas foram alcançadas por seus projetos durante esses anos. De números concretos, cita com segurança aqueles relacionados à Vale do Dendê, que já treinou cerca de duas mil empresas.
No programa de aceleração de startups, os empreendedores selecionados não pagam nada para receber a capacitação, assim como também recebem investimentos monetários.
"Os programas são gratuitos, as empresas patrocinadoras que pagam. A gente já deu recursos na pandemia e fora da pandemia para muitas empresas, recursos financeiros de R$ 5 mil, R$ 10 mil, R$ 50 mil na mão desse empreendedor", lembra.
Juntando essa bagagem, Paulo Rogério lançou um livro, em 2019, chamado Oportunidades Invisíveis, em que conta histórias de empreendedores que conheceu durante sua trajetória. Agora, ele revela que um novo livro está no forno, dessa vez, ainda mais voltado para as questões do futuro.