Quem é o indicado por Bolsonaro à presidência da Petrobras
General da reserva foi ministro da Defesa no governo de Michel Temer e é considerado alguém de perfil discreto e pacificador
BRASÍLIA - O general da reserva Joaquim Silva e Luna, indicado por Jair Bolsonaro para assumir o comando da Petrobrás, no lugar de Roberto Castello Branco, é considerado um quadro próximo do presidente da República. No comando da Itaipu - seu cargo atual -, usou o orçamento da hidrelétrica binacional para fazer várias obras, incluindo uma ponte que liga Brasil e Paraguai, o que agradou a Bolsonaro.
Como militar, é visto como um cumpridor de ordens, apesar de não ter uma postura próxima à do ministro da Saúde, general Eduardo Pazzuelo, que é considerado, dentro do governo, como alguém mais subserviente ao presidente. Luna é tido como alguém de perfil discreto e pacificador. Seu nome ainda precisa ser aprovado pelo conselho de administração da estatal.
Com 71 anos, ele trabalhou durante cinco anos no Ministério da Defesa, inicialmente como secretário de Pessoal, Ensino, Saúde e Desporto; depois, como secretário-geral do ministério; e, por último, como ministro da Defesa.
Nos seus 12 anos como oficial general da ativa, foi comandante da 16.ª Brigada de Infantaria de Selva, em Tefé, Amazonas, de 2002 a 2004. Foi chefe do Estado-Maior do Exército de 2011 a 2014 e comandou várias companhias de Engenharia de Construção na Amazônia.
Luna tem pós-graduação em Política, Estratégia e Alta Administração do Exército, em curso realizado na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (1998); e doutorado em Ciências Militares, realizado na Escola de Comando e Estado Maior do Exército (1987/88), entre outros cursos.
No exterior, foi membro da Missão Militar Brasileira de Instrução e Assessor de Engenharia na República do Paraguai, de 1992 a 1994; e adido de Defesa, Naval, do Exército e Aeronáutico no Estado de Israel, de 1999 a 2001.
O ex-presidente da República Michel Temer, de quem Silva e Luna foi ministro da Defesa, disse à Coluna do Estadão que "o Brasil e os acionistas vão se surpreender positivamente" com o general na presidência da Petrobrás. Em conversas reservadas, o ex-presidente costuma dizer que se surpreendeu com o "perfil de administrador austero" do militar.
Estratégia para a Petrobrás
Em entrevista ao Estadão no sábado, 20, Silva e Luna disse ser necessário "equilibrar as atenções" entre os interesses de acionistas e investidores da empresa e os da sociedade, que sente o reflexo de ações da empresa, como os reajustes de combustíveis e de gás.
Ele disse não ver possibilidade em interferências nos preços e que, se aprovado pelo conselho de administração da empresa, pretende ter diálogo com o governo federal, principalmente com o Ministério da Economia, comandado por Paulo Guedes, e com o Ministério de Minas e Energia, que abriga a estatal em seu guarda-chuva.
O general negou possíveis intervenções na política de preço vigente e ressaltou que a responsabilidade sobre o tema é da diretoria executiva da empresa, e que a decisão sobre o tema é colegiada. "Uma pessoa, um assento, vai ser um voto em um contexto de tantos outros." Por outro lado, o general não descarta que o tema seja discutido pelo colegiado. "As pessoas podem conversar sobre tudo isso, encontrar outra forma, nada está definido e encerrado. Sempre tem outra possibilidade de ter outra maneira de ver um problema, sempre é possível fazer alguma coisa", disse.
Ainda em uma avaliação inicial, o militar da reserva disse que a Petrobrás tem de ser uma empresa forte, que traga segurança aos investidores, e que seu presidente tem de "equilibrar atenções" e enxergar o impacto que a empresa tem para a população. "Ele tem de enxergar. Às vezes fica muito focado em que a empresa tem de dar lucro, que a empresa está no mercado, tem seus acionistas, tem seu valor, tudo isso. Mas também tem de enxergar, isso é um pensamento inicial, de forma muito primária, posso até mudar o que estou dizendo, tem de enxergar a sociedade, a finalidade na qual a empresa existe, se não fica desfocado", afirmou.