Questão fiscal não diz respeito apenas a um ou outro governo; é um assunto institucional, diz Levy
Para ex-ministro da Fazenda, importante é garantir sustentabilidade do arcabouço fiscal, que segundo ele deverá ser cumprido neste ano, ainda que o centro da meta não seja atingido
O ex-ministro da Fazenda e diretor de estratégia econômica e relações com o mercado do Banco Safra, Joaquim Levy, reforçou nesta quarta-feira, 18, que a questão fiscal segue sendo um ponto importante para avaliar a solidez do Brasil, mas que esse é um assunto institucional, que não diz respeito apenas a um governo ou outro, ou apenas ao poder Executivo.
Levy citou, por exemplo, que o aumento de quase três vezes no valor do benefício do programa Bolsa Família aconteceu no governo de Jair Bolsonaro, quando o benefício era chamado de Auxílio Brasil.
Ele também apontou que os gastos com pessoal vem preocupando muito mais nos níveis municipal e estadual do que no Executivo Federal. "Sem dúvida nenhuma, a questão fiscal é importante. Mas é uma questão profunda. Uma grande parte dela tem a ver com transferências sociais. Transferências, basicamente, decididas pelo Congresso", acrescentou o ex-ministro da Fazenda, em seminário do grupo Lide, em São Paulo. Ele discursou para uma plateia de empresários e economistas.
Para ele, o importante nessa questão é garantir a sustentabilidade do arcabouço fiscal, que segundo ele deverá ser cumprido neste ano, ainda que o centro da meta não seja atingido. "Pode ser que o déficit zero não seja totalmente déficit zero, mas ele vai ser cumprido dentro do que a regra estabelece", disse o ex-ministro, que também lembrou dos recursos extraordinários enviados ao Rio Grande do Sul neste ano.
"Tem 30 bilhões para o Rio Grande do Sul. Acho que ninguém era contra isso, mas também não tinha como acomodar (no resultado primário). É um crédito extraordinário", frisou.
Inflação
Para Levy, a inflação no Brasil está baixa. Para referendar a informação, ele citou que a estimativa utilizada como deflator do cálculo do Produto Interno Bruto (PIB) na divulgação dos dados do segundo trimestre de 2024 cresceu 2,8% no ano contra ano, nível abaixo dos 3%.
"O IPCA está subindo um pouquinho mais por razões diversas, como o que foi uma interpretação um pouco mais generosa do que seria a política monetária norte-americana", detalhou Levy, acrescentando que isso trouxe um certo temor para o mercado e, consequentemente, para a cotação do câmbio. "O câmbio está influenciando o IPCA bastante", frisou.
Em relação ao desempenho do PIB neste ano, Levy apontou que é bem possível que a economia cresça ao redor de 3% mais uma vez, mas que, por ora, ele enxerga um desempenho mais próximo de 2,5% de alta na economia, uma vez que há expectativa de acomodação da atividade no segundo semestre.
Ainda que o cenário para a segunda metade do ano seja de alta no juro, ele afirmou que espera que o mercado de trabalho siga respondendo positivamente, entre outros motivos, por uma taxa de participação que ainda não se recuperou do nível pré-pandemia.
Otimismo
Levy iniciou sua participação no Lide afirmando que "é muito difícil" não ser otimista com o Brasil. Ele citou, em seguida, que um dos problemas da atividade econômica brasileira hoje, que deverá contribuir para a alta da Selic a partir desta semana, é "um problema bom", e se refere a uma taxa de desemprego muito baixa.
O ex-ministro da Fazenda também pontuou que o Brasil é um país de grande atrativo para investimentos, principalmente os ligados a iniciativas de transição energética e economia verde, como biocombustíveis, minerais e fertilizantes. "As portas estão abertas", disse.