Radicalismos corroem o debate econômico
Prejudicando discussões sérias dos problemas que impedem o Brasil de crescer
Vá para Cuba! Vá para Venezuela! Comunista! Essas eram as mensagens que chegavam em grande número às emissoras, em programas transmitidos pela internet, quando eu participava de debates ou entrevistas e tecia críticas eminentemente técnicas à política econômica do governo Bolsonaro. Meus clientes se divertiam, porque sabiam que há mais de 30 anos vivo de consultoria prestada principalmente ao mercado financeiro. Da mesma forma, quando eu condenava, inclusive neste jornal, os equívocos das gestões petistas, que levaram o Brasil a uma das mais severas recessões do pós-guerra, a esquerda me chamava de fascista, de "vendido aos banqueiros" e coisas do gênero.
Esse radicalismo ideológico tem prejudicado a discussão séria e racional dos problemas que há mais de quatro décadas vêm impedindo que o Brasil ingresse em trajetória de crescimento econômico sustentado. E aí reside o grande risco para o debate eleitoral em 2022. Mesmo as chamadas candidaturas de centro estão perdendo muito tempo discutindo nomes e alianças e não projetos sérios para o País.
Essa discussão radical é burra e turva a visão dos fatos. Até o governo atual, apesar de sua política econômica chinfrim, realizou alguns avanços, como a aprovação dos marcos regulatórios do saneamento básico e das ferrovias, não por coincidência, medidas conduzidas pela ilha de competência no Executivo que é o Ministério da Infraestrutura. Não incluo entre essas conquistas a reforma da Previdência, pois o mérito dela é mais do Legislativo e de governos anteriores. Bolsonaro só atuou para atrapalhar. Do outro lado, a administração petista foi um fracasso na economia, principalmente com Dilma Rousseff, mas não se pode negar que deixou sua marca positiva nas políticas sociais e na defesa do meio ambiente.
O Brasil é uma economia de baixa produtividade e isso decorre principalmente da submissão dos governos aos setores que gritam mais alto em Brasília, não necessariamente os mais produtivos, clamando por protecionismo, subsídios, renúncias fiscais e anistia de suas dívidas, entre outros favores.
Nosso sistema tributário, especialmente a tributação do consumo, é complexo, gera má alocação de recursos em virtude da guerra fiscal e penaliza o investimento e as exportações. O Legislativo chegou a uma boa proposta para mudar isso, mas Paulo Guedes preferiu começar por uma confusa reforma do Imposto de Renda que, felizmente, não foi para a frente.
Precisamos de uma reforma administrativa, não inteiramente por via constitucional, que, além de mirar a redução do gasto público, objetive melhorar a qualidade dos serviços que os servidores prestam à população.
Enfim, um projeto para o crescimento terá de abandonar o populismo e o radicalismo e, para isso, necessitará arbitrar conflitos e ferir interesses. Quais candidatos se habilitam?