Real Digital, a moeda digital brasileira, estreará em 2023
Banco Central trabalha no desenvolvimento da versão digital do real, que será uma extensão do dinheiro físico
Após a revolução do Pix, outra grande inovação digital financeira está prevista para acontecer no Brasil. A partir do ano que vem, o país deverá ter a sua própria moeda digital, o Real Digital. Os testes pilotos com a nova moeda, que deverá funcionar como uma extensão do real físico, estão previstos para começar em 2023, de acordo com o Banco Central do Brasil (BC).
“A moeda digital do Banco Central será uma expressão da nossa moeda soberana. Com ela, será possível oferecer novos serviços e maior segurança para transações realizadas de maneira digital”, afirmou o economista do Banco Central Fabio Araújo, durante o evento Febraban Tech, realizado esta semana em São Paulo.
A versão digital do real é amparada no conceito CBDC (Central Banks Digital Currencies), que são as moedas digitais criadas por bancos centrais em diversos países do mundo. Diferentemente das moedas digitais tradicionais, como o Bitcoin, o Real Digital terá o lastro e a garantia do BC e do governo brasileiro, como ocorre com o dinheiro físico.
“A grande diferença é que, enquanto as moedas digitais tradicionais são privadas, as CBDCs são emitidas por bancos centrais e possuem lastro do governo”, explica Thamilla Talarico, sócia da área de consultoria para instituições financeiras da EY e líder de Blockchain. Esse lastro, diz Thamilla, garante maior estabilidade às CBDCs em relação às similares que circulam atualmente no mercado financeiro mundial, como o Bitcoin.
Afinal, o CBDC vai ser uma criptomoeda?
“O CBDC não é uma criptomoeda, e sim a moeda fiduciária (oficial do país), em sua versão digital”, diz Thamilla. A explicação é compartilhada com o vice-presidente de Finanças e Controladoria da Caixa, Rafael Morais. “O valor da CBDC não está ligado à moeda em si, e sim ao país onde ela é emitida”, diz Moraes.
Pelo menos no primeiro momento, o Real Digital deve ser utilizado apenas para transações financeiras e investimentos. Ou seja, não deve ser utilizado pela população em geral nas transações eletrônicas cotidianas, função que já é bastante atendida pelo Pix.
Thamilla lembra que, mesmo assim, o Real Digital deve cair no gosto do brasileiro, que acompanha com interesse as novidades digitais no mundo financeiro. “O brasileiro tem muito interesse em novas tecnologias. Basta ver a popularização do Pix. Moedas como o Real Digital vão ocupar o seu espaço com muita força”, cita Thamilla.
O representante da Caixa concorda. Morais lembra que, no período de um ano, o número de chaves Pix no Brasil aumentou mais de 100%, atingindo todas as camadas sociais da população. Grande parte dos beneficiados pelo Auxílio Emergencial do governo federal durante a pandemia, por exemplo, sacou o dinheiro em formatos eletrônicos. “Quando o Real Digital chegar, a população já vai estar bastante familiarizada com transações digitais financeiras”, afirma Morais.
Diversos países do mundo já trabalham no desenvolvimento de suas moedas digitais oficiais. Entre eles, China e Estados Unidos, onde o FED (o banco central norte-americano) já faz ensaios com o dólar digital. “É um caminho sem volta”, acredita Morais.