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Real seguirá volátil, mas posições contrárias à moeda estão "sobrecarregadas", diz BNP Paribas

24 ago 2020 - 14h03
(atualizado às 14h45)
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A volatilidade do real, já a maior do mundo entre as moedas relevantes, deve persistir nos próximos meses conforme o mercado segue com as atenções voltadas para os problemas fiscais do Brasil, disseram à Reuters estrategistas do BNP Paribas nesta segunda-feira.

10/09/2015
REUTERS/Ricardo Moraes
10/09/2015 REUTERS/Ricardo Moraes
Foto: Reuters

Mas o posicionamento técnico contra a divisa brasileira já está "sobrecarregado", o que ampara alguma chance de ajuste conforme outras métricas --como conta corrente-- têm melhorado.

Segundo Gabriel Gersztein, estrategista-chefe global para mercados emergentes do banco francês, o real segue afetado por um combo que inclui falta de "carry" (retorno) ajustado pelo risco (diante da Selic baixa), incertezas sobre o rumo das contas públicas, economia debilitada, pandemia e ruídos políticos.

Mas, em sua avaliação, como a taxa de câmbio tanto real quanto nominal está nas mínimas históricas ou perto delas, há aumento de probabilidade de uma correção favorável ao real.

"Estamos entrando numa situação em que a melhora dos termos de troca em algum momento aumenta as chances de algum repasse para os preços (do câmbio)", disse Gersztein.

Os termos de troca, de forma geral, relacionam os valores das importações e das exportações. Quanto maiores os termos de troca, mais benigno é o cenário de entrada de capital ao país.

Em julho, o Brasil registrou superávit comercial de 8,1 bilhões de dólares em julho, maior para todos os meses da série histórica do Ministério da Economia iniciada em 1989, mais uma vez beneficiado por um forte tombo nas importações em meio à crise com o coronavírus. Para o ano, o Ministério da Economia prevê um superávit de 55,4 bilhões de dólares para as trocas comerciais, acima do saldo de 48,1 bilhões de dólares no ano passado.

Por ora, contudo, a instabilidade do câmbio deve continuar e, segundo o estrategista, ela vem sendo exacerbada pelas movimentações de investidores nos minicontratos de dólar futuro da B3.

Luca Maia, estrategista de câmbio e juros para a América Latina e que assinou junto com Gersztein estudo recente sobre o peso dos minicontratos de dólar na volatilidade cambial, analisou milhões de operações com esses instrumentos.

Ele concluiu que uma medida de posições "agressoras" de comprados em dólar --aquelas que fugiam dos padrões, mas que carregavam volume relevante-- chegou a 3,77 bilhões de dólares no somatório de 21 dias móveis, o maior valor do histórico, que começa em fevereiro.

Na prática, mais investidores elevaram posições a favor do dólar, depreciando o real.

A importância das movimentações nos mercados de minicontratos de dólar futuro aumenta conforme os volumes nesse segmento crescem.

Em outubro de 2019, o giro no mercado de contratos reguladores de dólar futuro superava o de minis, mas a relação se inverteu nos últimos meses e com ampla margem. Pelos dados mais recentes, o volume médio diário no mercado de minis de dólar está em 33,3 bilhões de dólares, mais do que o dobro dos 13,2 bilhões de dólar do modelo padrão de contrato de dólar futuro.

"Paradoxalmente, o aumento de liquidez no minicontrato veio acompanhado de mais volatilidade porque o contrato mini gera mais fonte de atividade especulativa", disse Gersztein.

Ambos os estrategistas avaliaram que o Banco Central deveria ter sido mais ativo no câmbio nos últimos meses para conter a volatilidade e que, devido a uma mudança de regime de juros, entre outros fatores, a presença do BC no mercado ainda se faz necessária.

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