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Recuo previsto no comércio de fim de ano afeta projeções para 2022

24 nov 2021 - 17h11
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O estrago provocado pela alta da inflação e dos juros e a queda do poder de compra do brasileiro não deve se limitar ao consumo de fim de ano. Normalmente, a movimentação da economia no último trimestre tem desdobramentos no começo do ano seguinte. Quando o final de ano é bom, janeiro começa com reposição de estoques e muitos empregos temporários viram definitivos.

Caso o cenário de recuo das vendas no último trimestre traçado pelo estudo da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) se confirme, corre-se o risco de começar o próximo ano sem esse impulso, alerta a economista da Prada Assessoria, Marcela Kawauti. "O começo do próximo ano pode ser bem morno", prevê.

Ela lembra que 2022 terá dificuldades adicionais porque é um ano eleitoral, quando as incertezas aumentam, o que afeta os investimentos. Também a alta da taxa de básica de juros para conter a inflação, além de encarecer o custo do crédito neste momento, ainda não teve seu efeito pleno de deprimir o consumo. "O impacto maior acabará se manifestando ao longo de 2022."

O consumo das famílias responde por mais da metade da geração de riqueza na economia brasileira, e não é sem motivos que as expectativas para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2022 começam a migrar para estabilidade e até para desempenho negativo.

Rancho parcelado

Mesmo com custos pressionados, varejistas tentam virar o jogo e animar as vendas, alongando prazos de pagamento.

A Via, dona da Casas Bahia e do Ponto, decidiu parcelar em até 30 vezes no cartão próprio as compras da Black Friday, por exemplo.

A Lojas Cem é outra grande rede varejista do setor de móveis e eletroeletrônicos que pretende ampliar a quantidade de parcelas sem juros para tentar "encaixar" a prestação no orçamento do consumidor.

José Domingos Alves, supervisor-geral da rede, diz que o ajuste na forma de pagamento é necessário porque hoje há um número menor de pessoas com condições de comprar. "O mercado está menos consumidor em relação ao ano passado porque o custo de vida subiu muito e sobram menos recursos para gastar com outros itens", afirma, acrescentando que esse é o cenário para Black Friday e Natal.

Até a rede de supermercados Dia Brasil está parcelando em três vezes no cartão de crédito quando as compras de alimentos, produtos de higiene e limpeza superam R$ 90. "Alongar prazo é uma boa fórmula, mas antecipa o consumo", observa Marcela. Segundo ela, o risco dessa estratégia é que mais à frente poderá ser preciso fazer algum ajuste para que essa conta seja paga.

Viagem adiada

Todo ano o cabeleireiro Edgar Godoy, dono de um salão na zona norte da capital paulista, pega a estrada para passar as festas com familiares em Mato Grosso do Sul. Em 2020, não foi por causa da pandemia. Até seis meses atrás, tinha planos de ir. Mas desistiu. "Está inviável, a gente não tem expectativa de ganho", diz. Só de ida, gastaria cerca de 100 litros de etanol, e o combustível já encareceu 45,86% no ano, até outubro.

Com a reabertura do salão, em junho, Godoy chegou a ter um bom movimento, que se equiparou com o mesmo mês de 2019, antes da pandemia. Mas, de lá para cá, o faturamento não tem se sustentado. A receita mensal ainda está entre 40% e 45% menor em relação ao mesmo período pré-pandemia. "O pessoal está sem dinheiro, e muitos clientes estão desempregados. Outros, de idade avançada, têm medo de vir ao salão." A queda no movimento ocorre mesmo sem ele ter aumentado os preços dos serviços: faz dois anos e meio que não reajusta a tabela, apesar das pressões de custos.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Estadão
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