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Presidente do Bradesco defende reforma tributária da Câmara

Para presidente do Bradesco, proposta é consistente na necessidade de reduzir o número de impostos

26 jul 2019 - 04h12
(atualizado às 08h18)
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O presidente do Bradesco, Octavio de Lazari, prefere a reforma tributária patrocinada pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), às demais propostas. Com o argumento de que o texto, apresentado originalmente pelo deputado Baleia Rossi (MDB-SP), é muito consistente, ele defende a simplificação do sistema brasileiro, com redução do número de impostos para no máximo sete.

Sobre a retomada da economia após um primeiro semestre aquém do esperado, Lazari diz que o Produto Interno Bruto (PIB) só vai deslanchar se a reforma tributária e a independência do Banco Central vierem na sequência da aprovação dos ajustes na Previdência. "Se a reforma tributária e a independência do Banco Central vierem no bojo da reforma da Previdência, estamos no caminho certo para crescer por muito tempo", afirmou, em entrevista exclusiva ao Estadão/Broadcast. Abaixo, os principais trechos da entrevista:

A reforma da Previdência está encaminhada e o governo vai liberar R$ 30 bilhões do FGTS. O que falta para a economia brasileira deslanchar?

De fato, a reforma da Previdência está aprovada para gerar o impacto de R$ 1 trilhão de economia, e trazer no bojo duas mudanças importantes: a reforma tributária e a independência do Banco Central. A reforma tributária é valiosa do ponto de vista do investimento. É muito complexa e grande a escala de tributos no Brasil. Empresas têm 350 pessoas só para cuidar disso. A independência do Banco Central, por sua vez, dará confiança para o investidor internacional, principalmente. Se essas duas medidas vierem logo em seguida à reforma da Previdência, estamos no caminho certo para crescer por muito tempo.

O presidente do Bradesco, Octavio de Lazari
O presidente do Bradesco, Octavio de Lazari
Foto: Paulo Whitaker / Reuters

Qual das propostas de reforma tributária o senhor prefere?

O mais importante é diminuir a quantidade de tributos. Não é o valor da tributação porque não dá para reduzi-lo agora porque temos o (governo) precisa da receita tributária. Mas é preciso diminuir a complexidade dos impostos. Não é só o imposto em si e o trabalho para geri-lo. É tudo que vem depois, a judicialização dos impostos, advogados. Tudo isso é custo, que deixará de existir quando tivermos uma simplificação para seis ou sete impostos no máximo no Brasil.

Qual das reformas tributárias é a mais indicada para mudar essa realidade?

A reforma tributária encaminhada pela Câmara é muito consistente.

Após idas e vindas, o FGTS ainda será eficaz na economia?

Não podemos imputar ao FGTS a responsabilidade de crescimento da economia. De qualquer jeito, por menos que seja, o FGTS somado ao pagamento do PIS/Pasep, o 13º salário, vai ajudar. São pílulas de ajuda e boas iniciativas que no todo vão colaborar. Pode parecer pouco porque o saque do FGTS está limitado a R$ 500, mas vai permitir às pessoas consumir mais. Cerca de 70 milhões de brasileiros consumindo mais dá um bolo de dinheiro. Sozinho, porém, o FGTS é ineficaz para a retomada da economia.

Se o recurso do FGTS é mais seguro que folha de pagamento para concessão de crédito, a população terá acesso a empréstimos com juros mais baixos?

Estamos ainda fazendo estudos em torno da linha de crédito com o FGTS como garantia para sabermos quais são os custos. Não sabemos como irá funcionar. Na modalidade que utilizará o fundo de garantia, se tivermos regras boas e a tarifa paga à Caixa for pequena, é para ter taxa de juros inferior, inclusive à do crédito consignado, de 1,8% a 1,7%.

O sr. pode garantir ao cliente Bradesco que o banco não repassará o aumento da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSSL) trazido pela reforma da Previdência aos empréstimos?

Não dá para garantir porque não sabemos o que vai acontecer. Tudo depende da concorrência. Mas se pensarmos que até alguns meses não tínhamos mais a CSLL e voltaremos a ter, o impacto no juro não foi tanto assim. Os dados do Banco Central mostram que as taxas até caíram. Nosso desejo é operar com taxas de juros atendendo o desejo dos nossos clientes. Mas tributo é tributo. Nós teremos de pagar.

Mas os bancos não têm dito que a competição está acirrada?

Se a competição é acirrada e nossos concorrentes não aumentarem a taxa de juros, o Bradesco vai acompanhar.

O ex-ministro Antonio Palocci acusou os bancos de doarem recursos ao PT em troca de favores. O banco abriu alguma investigação por conta disso?

Todos os processos dentro do banco de compliance (atender leis e regulamentos) e segurança são feitos não em função de uma denúncia, mas todos os dias dentro da organização. Estamos super tranquilos com relação a isso. As doações foram feitas a vários candidatos e estão registradas no TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

As denúncias do Palocci não preocupam o Bradesco?

Não temos preocupação porque não tivemos nenhuma mudança nos nossos números ou lucros absurdos em determinado momento. Também mantemos crescimento consistente há 76 anos. Não precisamos nos valer desses subterfúgios ou artifícios para conquistar resultado e admiração dos clientes. Para, nós, isso não faz sentido. O processo de investigação é um algo contínuo na inspetoria do banco, auditoria interna e externa e também do Banco Central. Os números do Bradesco estão abertos.

Do lado dos investimentos, com a ação da Cielo a R$ 6, faz sentido tirá-la da bolsa como o Itaú Unibanco fez com a Rede?

Não. A gente não quer fechar o capital da Cielo, que está se reinventando. Ela é uma empresa vitoriosa, com mais de 40% de participação de mercado e está mostrando com crescimento da base de clientes. É lógico que, com a margem comprimida, a Cielo não vai mais dar o resultado do passado até em função da concorrência e da própria regulação. A Cielo é uma empresa importante no mercado e nossa ideia é permanecer lá e manter o capital aberto.

Significa que o Bradesco está fechado a estrangeiros que queiram comprar a Cielo? Chineses estão de olho na líder, não?

Interessados podem comprar na bolsa. Vamos manter nossa participação por enquanto.

E no ressegurador IRB Brasil Re? O banco pretende se desfazer de ações?

Não. Estamos no IRB como investidores. Só. Tivemos a preocupação de manter essa condição para termos uma porta de saída assim que acharmos que devemos vender. Depois da oferta, a ação do IRB subiu. Por enquanto, vamos manter a nossa posição na empresa. Se vier o crescimento que estamos esperando no Brasil, o IRB tem possibilidade de melhorar ainda mais a rentabilidade.

O Bradesco está mais perto de voltar a ser o segundo banco mais rentável do País?

Sinceramente, não me preocupo com isso até em função do tamanho do patrimônio do Bradesco em relação a seus concorrentes. Obviamente, vou trabalhar sempre para dar o melhor retorno possível. Nossa meta é crescer o retorno.

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