Riscos maiores nas contas públicas ameaçam a segunda metade do mandato de Lula
Uma política fiscal mais equilibrada facilitaria a manutenção de juros mais baixos e mais favoráveis à expansão da atividade, mas não é o cenário previsto para os próximos dois anos
Inflação em alta, juros maiores, dólar mais caro e governo mais endividado tornam mais feio o cenário previsto para os próximos dois anos, segundo o relatório Focus divulgado na segunda-feira, 18. Se esse quadro se confirmar, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva completará seu mandato com a economia ainda desarranjada. Isso complicará a vida de seu sucessor - ou a dele mesmo, em caso de reeleição. O crescimento econômico, estimado em 3,10% para 2024, deverá ficar em 1,94% no ano seguinte e em torno de 2% em 2026 e 2027.
Embora mais otimistas, as projeções do Boletim Macrofiscal, apresentado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também apontam um quadro de preços ainda desafiador, com inflação de 4,4% neste ano, apenas 0,1 ponto abaixo do limite do limite de tolerância, e de 3,6% em 2025. A estimativa de crescimento econômico em 2024 foi revista de 3,% para 3,3%.
Para o próximo ano foi mantida a expectativa de 2,5%, superior à do mercado. Mas nada justifica, por enquanto, apostar num maior dinamismo no curto e no médio prazos. O ramerrão da taxa anual em torno de 2% deverá prolongar-se enquanto permanecer baixo o investimento em meios de produção. O aumento da fabricação de máquinas e equipamentos, em 2024, pode ser um sinal de maior investimento produtivo, mas convém esperar informações mais completas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Só se obtém crescimento duradouro quando se investe seguidamente na expansão da capacidade produtiva. Isso inclui aplicação de capital tanto no potencial das empresas quanto na infraestrutura. Envolve, portanto, participação governamental na mobilização e destinação de recursos.
No Brasil, o valor investido em meios físicos de produção nem sempre supera 18% do Produto Interno Bruto (PIB) e é frequentemente inferior, em termos proporcionais, às parcelas destinadas a essa finalidade em outras economias emergentes. Algum avanço parece estar ocorrendo no Brasil, mas uma avaliação mais precisa do quadro dependerá de informações coletadas e organizadas pelo IBGE.
Se reorganizar suas finanças e controlar seus gastos com maior eficiência, o governo contribuirá duplamente para a elevação do investimento produtivo: fará um melhor uso de seu dinheiro e deixará ao setor privado mais capital para suas aplicações. Além disso, uma política fiscal mais equilibrada facilitará a manutenção de juros mais baixos e mais favoráveis à expansão da atividade. Mas o cenário previsto para os próximos dois anos é, por enquanto, muito menos atraente.