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Rombo bilionário na Caixa causado na gestão Bolsonaro pode afetar o brasileiro?

Banco terá que arcar com calote proveniente de duas medidas provisórias que buscavam o voto do mais pobres para o ex-presidente

31 mai 2023 - 05h00
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Jair Bolsonaro e Pedro Guimarães, ex-presidente da Caixa, em evento em junho de 2022
Jair Bolsonaro e Pedro Guimarães, ex-presidente da Caixa, em evento em junho de 2022
Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

Tentando alcançar o eleitorado mais pobre, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) criou duas linhas de crédito — que liberavam dinheiro para pessoas endividadas —, e empréstimos consignados ao Auxílio Brasil. A abertura generosa dos cofres da Caixa Econômica Federal na tentativa de reeleição levou à inadimplência de 80% dos beneficiários que, por sua vez, pode fazer com que a Caixa tenha que dar conta de um prejuízo na ordem de R$ 600 milhões.

Além desse prejuízo ao banco público, há também a questão dos ativos de alta liquidez — esse montante é o dinheiro mínimo que o Banco Central obriga as instituições bancárias a terem sempre disponível, para evitar uma quebra. No fim do ano eleitoral, a Caixa tinha R$ 162 bilhões, volume mais baixo da série histórica, desde 2017.

A crise, porém, parece estar limitada às portas do banco e não deve abalar o mercado financeiro brasileiro ou, mesmo, os correntistas da Caixa. Esta é a análise de especialistas ouvidos pelo Terra.

Linhas de crédito criadas

• Para pessoas com nome sujo — que fez com que a Caixa emprestasse R$ 3 bilhões no programa, chamado SIM Digital. O dinheiro, porém, não voltou ao banco estatal: a inadimplência alcançou os 80% neste ano, e parte desse rombo deve ser coberto com verbas do FGTS;

• Empréstimos consignados ao Auxílio Brasil — no qual a Caixa liberou R$ 7,6 bilhões entre o primeiro e o segundo turno das eleições no ano passado. Em um pente-fino do novo governo, mais de 100 mil devedores foram excluídos do Bolsa Família, fazendo com que o pagamento das parcelas se tornasse incerto.

Apesar do dinheiro liberado pelas duas medidas ter sido injetado na economia brasileira, a Caixa terá que lidar com o prejuízo dos maus pagadores, que não pagaram as parcelas dos empréstimos.

Quem será afetado?

Por enquanto, a previsão é que apenas os tomadores de crédito de ambos os programas sejam afetados. Isso porque eles têm uma dívida com a Caixa, seja por meio do empréstimo consignado ao Auxílio Brasil (atual Bolsa Família), seja com o SIM Digital.

Mesmo que aqueles que tomaram empréstimo pelo SIM Digital, mas estão inadimplentes, não devem conseguir fugir da dívida: a Caixa irá confiscar para o pagamento uma parte do saldo do FGTS no saque-aniversário, por exemplo.

No entanto, o economista Igor Lucena aponta para a deturpação dos objetivos de ambos os programas e suas consequências, reduzindo valores de benefícios para pagar empréstimos. "É uma situação complexa, porque não resolveu o problema financeiro dessas pessoas. A Caixa terá que tirar dinheiro do FGTS e de parte do Bolsa Família, o que faz com que a renda dessas pessoas caia. Com isso, você subverte o mote dos programas", aponta.

O mais preocupante é como o banco estatal irá lidar com os valores que não serão ressarcidos pelo Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), valor na ordem de R$ 600 mi. Essa preocupação, porém, parece não sair do banco. "Vai focar muito mais na gestão interna para resolver o problema, apesar das questões políticas, a Caixa é um banco bastante saneado com recursos em caixa", diz.

Marcello Marin, CFO da Spot Finanças, empresa especializada em contabilidade e gestão financeira, concorda que os impactos para os clientes da Caixa serão "mínimos ou nulos", mas aponta para a necessidade de impedir uma histeria coletiva entre os correntistas.

"O que a gente normalmente vê quando acontece [escândalos envolvendo bancos], é uma corrida para as pessoas sacarem seu dinheiro. Isso não pode acontecer", alerta.

Caso uma movimentação assim aconteça em algum momento, a tendência é que os problemas do banco estatal sejam muito maiores dos que os atuais.

Rombo na Caixa

A manobra feita por Pedro Guimarães, então presidente da Caixa, para facilitar o fluxo de recursos da estatal para as duas linhas de crédito foi revelada pela jornalista Amanda Rossi, no UOL.

A questão principal acerca dos mecanismos usados por Guimarães diz respeito à redução dos ativos de alta liquidez da Caixa, ou seja, a quantidade de dinheiro mínima que o Banco Central obriga as instituições bancárias a terem sempre disponível, para evitar uma quebra. Isso foi feito para que o banco tivesse à disposição tanto dinheiro quanto Bolsonaro precisava para que as medidas funcionassem imediatamente.

No final de 2022, esse montante chegou a R$ 162 bilhões. O valor registrado foi R$ 70 bilhões a menos que no ano anterior e foi o volume mais baixo da série histórica.

Fonte: Redação Terra
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