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"Ruídos afetam projeções do mercado", diz Campos Neto

Para presidente do Banco Central, a preocupação com o aumento dos gastos públicos já tem elevado as estimativas do mercado para a inflação em 2022, que estão acima do centro da meta

18 ago 2021 - 06h01
(atualizado às 07h33)
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O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta terça-feira, 17, que "ruídos" recentes em relação aos impactos fiscais do novo Bolsa Família e do parcelamento das dívidas judiciais do governo, os chamados precatórios, estão afetando as projeções do mercado financeiro para a inflação de 2022.

Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, participa de entrevista coletiva à imprensa
07/04/2020
REUTERS/Adriano Machado/File Photo
Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, participa de entrevista coletiva à imprensa 07/04/2020 REUTERS/Adriano Machado/File Photo
Foto: Reuters

Durante evento virtual do banco Bradesco BBI, Campos Neto citou o fato de as projeções do mercado indicarem uma inflação superior ao centro da meta no próximo ano, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). O BC calcula o índice exatamente no centro da meta, de 3,50%, para o ano que vem.

Em meio aos choques mais recentes de preços, economistas de bancos e corretoras projetam um IPCA em 3,90% para o próximo ano, acima do centro da meta. Foi a quarta semana consecutiva em que as projeções do Relatório Focus aumentaram.

Segundo Campos Neto, surgiram ruídos recentes sobre o novo desenho do programa Bolsa Família, que passará a se chamar Auxílio Brasil, e o pagamento de precatórios. Em uma Proposta de Emenda Constitucional enviada ao Congresso, o governo prevê o parcelamento em 10 anos das dívidas acima de R$ 66 milhões, e também das dívidas entre R$ 66 mil e R$ 66 milhões quando o valor total dos precatórios exceder 2,6% da receita corrente líquida da União. Valores abaixo de R$ 66 mil continuariam a ser pagos integralmente. Segundo especialistas, a proposta representa um "calote" do governo.

O presidente do BC pontuou que o impacto sobre as projeções dependerá de como o governo fará o programa e como explicará ao mercado de onde vem o dinheiro. Segundo Campos Neto, o "barulho fiscal" contribui para aumentar a já alta volatilidade no mercado de câmbio. "É importante ressaltar que acreditamos em câmbio flutuante", destacou. Ele disse ainda que há um fluxo de dinheiro para o Brasil, que também impacta no câmbio, em um momento em que investidores internacionais estão olhando para crescimento e sustentabilidade.

Na semana passada, Campos Neto já havia citado o risco fiscal como um potencial desafio para a política monetária, quando falou que "é impossível a qualquer banco central do mundo fazer um trabalho de segurar as expectativas (de inflação) com o fiscal descontrolado".

Nesta terça, Campos Neto, no entanto, buscou minimizar os efeitos das preocupações do mercado sobre a economia. Ele afirmou que, apesar dos ruídos, é preciso reconhecer que, "quando olhamos os números, temos um cenário melhor do que era esperado no meio da crise". "Vemos que o número final é melhor do que o ruído sugere", acrescentou.

BC fará 'o que for preciso' contra a alta inflação.

O presidente do BC afirmou ainda nesta terça que a autoridade monetária perseguirá a meta de inflação e fará "o que for preciso" para isso. Questionado sobre o comprometimento do BC com a meta de inflação, Campos Neto disse que o maior impacto para a economia é ter inflação alta e expectativas desancoradas, isto é, acima do nível esperado conforme a política de juros. "Queremos levar inflação para a meta, é a melhor forma da economia crescer de maneira sustentável", acrescentou.

Campos Neto disse ainda que os modelos da autoridade monetária mostram que, se os juros forem aumentados acima de certo nível, a inflação acabará abaixo da meta. "É necessário olhar os dados disponíveis a cada encontro (do Copom, o Comitê de Política Monetária)", completou.

No evento, o presidente do BC ressaltou que há aumento de preços em insumos como metais e semicondutores, mas disse que a inflação no Brasil e no mundo é mais afetada pela demanda reprimida no período da pandemia. "A (questão da) oferta é muito menor do que o choque pelo lado da demanda", concluiu.

Campos Neto reconheceu que os números do mercado para o IPCA - o índice oficial de inflação - já são maiores que os do BC, mesmo considerando os novos níveis para a Selic (a taxa básica de juros).

Ao justificar a diferença, Camps Neto lembrou que os profissionais do mercado modelam o IPCA de diferentes formas e que, em função dos vários choques recentes de preços, também ficou mais difícil projetar a inflação. Segundo Campos Neto, isso explica "em parte por que o mercado possui números mais altos que a gente tem".

Estadão
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