Saiba por que Abilio Diniz deixou o comando do Pão de Açúcar
"Hoje é um dia muito importante", afirmou Abilio Diniz em sua conta pessoal no Twitter. Nesta sexta-feira, o empresário brasileiro deixa a posição de comando do Grupo Pão de Açúcar, que ajudou a construir com seu pai em uma história de mais de 50 anos - primeiro supermercado da rede foi aberto em 1959, quando Diniz tinha apenas 19 anos. Seu lugar nas tomadas de decisões passa a ser ocupado pelo franco-argelino Jean Charles Naouri, do grupo Casino.
Em 1968, o Pão de Açúcar já contava com 40 supermercados e 1,6 mil funcionários e Abilio era um executivo jovem e empreendedor. Em sua história com a empresa, ele enfrentou um racha com seus irmãos por problemas sucessórios e viu a rede à beira da falência em 1990. Abilio viria a assumir o principal posto do grupo apenas em 1995, com a aposentadoria de seu pai, Valentim dos Santos Diniz. Na mesma época, o empresário costura a sociedade com o grupo Casino, visando a expansão dos negócios.
O Casino investiu pela primeira vez no Pão de Açúcar em 1999, quando resgatou o grupo de dificuldades. Conforme acordo acertado em 2005, a holding do Grupo Pão de Açúcar, chamada Wilkes, é controlada conjuntamente pelos franceses e pelo empresário brasileiro. O acordo previa também que o Casino teria a opção de aumentar sua participação gradativamente na holding, e até deter a maioria das ações com direito a voto.
Nesta sexta-feira, a assembleia geral da Wilkes marca a mudança na estrutura de governança corporativa do grupo. Apesar do empresário brasileiro reter o título de presidente do conselho do Pão de Açúcar, seu peso na tomada de decisões será bastante reduzido, já que suas manobras dependerão da aprovação do Casino.
"Dia que demonstro que cumpro os contratos e compromissos. Hoje transfiro o controle do GPA", celebrou Diniz no Twitter. Em seguida, o empresário postou agradeceu "todas as mensagens de apoio. Estou bem, sereno e tranquilo. Forte e preparado para todas as coisas que virão pela frente". O grupo francês, entretanto, não assumirá o controle do Pão de Açúcar imediatamente. Diniz terá 60 dias para vender 2% das ações que possui ao Casino, ficando com 48% de participação na companhia. Caso o empresário não se posicione até 22 de agosto, o Casino exercerá a opção de compra de uma ação ordinária da Wilkes, passando a ser o sócio majoritário do grupo.
Interesse francês
Atualmente o Brasil é o segundo maior mercado para o Casino no mundo depois da França e é um pilar importante na expansão do grupo francês em mercados emergentes em um momento de fraqueza na Europa. Depois que o Casino assumir o controle, o Brasil vai representar 44% das vendas estimadas do grupo, de quase 54 bilhões de euros.
Para Jean Charles Naouri, que passará a ter o comando do Pão de Açúcar, o posto tem um gosto de revanche sobre Diniz, que no ano passado tentou romper o acordo com o Casino ao propor uma fusão da companhia brasileira com o arquirrival do grupo francês, o Carrefour. A tentativa gerou polêmica e foi anulada duas semanas depois sob críticas do próprio Casino e a desconfiança de irregularidades no apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Com informações da Reuters.