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Saúde: uma questão vital

Por mais austeros que sejam os governos, a demografia fará com que gastar mais com o setor se torne imposição

7 out 2022 - 04h11
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Recentemente, com Rudi Rocha e Miguel Lago, organizei A Saúde do Brasil, publicado há poucas semanas pela Editora Lux, com 15 capítulos e participação de 28 autores da mais alta qualidade. O livro abre com uma epígrafe do dr. Adib Jatene, que é uma espécie de adaptação para a área médica da fábula da "Belíndia", do economista Edmar Bacha, acerca do velho dualismo brasileiro: "Temos de ser contra a distorção a que estamos assistindo, da coexistência do mais alto nível de assistência médica e do mais baixo nível de assistência à saúde, na mesma cidade e no mesmo local". Com os condicionantes impostos pela limitação de espaço, sintetizo o que poderia ser um roteiro dos principais ensinamentos que deixa a leitura do livro.

Lei obriga SUS a fazer exames de câncer em 30 dias
Lei obriga SUS a fazer exames de câncer em 30 dias
Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil / Estadão

i) O Serviço Único de Saúde (SUS) é uma conquista civilizatória que deve ser preservada e aperfeiçoada por qualquer governo que tiver a saúde da população como prioridade.

ii) O sistema de saúde representa uma política pública que, inequivocamente, reduz o grau de desigualdade da sociedade brasileira.

iii) A chave para o aperfeiçoamento do sistema passa pelo aprimoramento da cooperação federativa, que falhou terrivelmente na pandemia de covid-19.

iv) A descontinuidade administrativa, em qualquer dos níveis de governo, é um dos maiores traços de nosso subdesenvolvimento como nação.

v) O êxito do combate às doenças e a mudança no perfil epidemiológico da população trazem como resultado uma mudança dos desafios a enfrentar. Por exemplo, quando se consegue evitar que adultos morram cedo por doenças infecciosas, teremos, no futuro, mais pessoas sofrendo de câncer, de problemas cardíacos e, mais tarde, de outras doenças, como o Alzheimer.

vi) A demografia conspirará contra os esforços de contenção fiscal: por mais austeros que sejam os governos, a mudança do perfil etário da população fará com que gastar mais com saúde se torne uma imposição da realidade.

vii) Saúde não tem ideologia: na gestão do sistema, o pragmatismo é fundamental para que os setores público e privado possam conviver da forma mais harmônica possível e com o melhor desempenho.

viii) O País precisa que a política pública de saúde tenha um braço voltado para a ampliação da autonomia tecnológica.

ix) E a maior digitalização do sistema de saúde, especialmente da atenção primária, com o uso adequado da ciência de dados, bem como da telemedicina, será chave para o aumento da eficiência - e é um elemento central de uma estratégia de superação dos problemas do setor.

* Economista

Estadão
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