Seca na região Sul exigirá acionamento de térmicas ao menos em março, diz ONS
Uma seca que tem sido registrada no Sul do Brasil neste ano levou ao acionamento de mais termelétricas locais no final de semana, e a situação climática na região deve manter térmicas ligadas ao menos neste mês de março, disse à Reuters nesta segunda-feira o diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Luiz Eduardo Barata.
A situação difere de outras áreas, como Sudeste e Nordeste, onde estão os maiores reservatórios de hidrelétricas, que têm recuperado seus níveis com chuvas intensas desde o final de janeiro.
A condição da região levou a Agência Nacional de Águas (ANA) a iniciar nesta segunda-feira reuniões do que o órgão chama de "sala de crise" do Sul, para "acompanhar a situação hidrometeorológica desfavorável" local, discutindo medidas para aliviar os impactos da escassez de precipitações.
Na semana passada, o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), que reúne autoridades e técnicos da área de energia do governo, já havia autorizado "medidas excepcionais" para atender à região, inclusive com acionamento de mais usinas térmicas que o determinado pelos modelos matemáticos que guiam a operação do sistema elétrico.
"É como se fosse uma moeda, tem duas faces. A situação vai muito bem no Sudeste, Nordeste e Norte, e não tão bem no Sul. No Sul, o que tem acontecido é que as frentes frias têm passado 'voando'... estão bastante abaixo da média, e as precipitações são pequenas e rápidas", disse o diretor-geral do ONS.
Ele apontou ainda que não há perspectiva de melhora imediata, o que faz com que o CMSE mantenha um quadro de atenção, que prevê avaliações semanais sobre a situação da oferta da região.
As usinas hídricas do Sul do país estão atualmente com 20,15% da capacidade de armazenamento, contra 45,38% no Sudeste, 65,42% no Nordeste e 57,10% no Norte.
Já as chuvas na região dos lagos das usinas do Sul neste mês foram estimadas pelo ONS em apenas 38% da média histórica, contra 111% no Sudeste e 101% no Nordeste. No Norte, a projeção é de 88%.
Para atender à demanda por energia do Sul e ao mesmo tempo evitar uma piora no quadro de reservatórios local, o ONS tem programado o envio de excedentes de geração do Norte para o Sudeste, que então exporta para apoiar a região.
Também têm sido acionadas em alguns momentos termelétricas adicionais, por motivos de garantia de suprimento energético, como as usinas Jorge Lacerda A, B e C, da Engie Brasil Energia, e Araucária, um empreendimento conjunto entre a paranaense Copel e a estatal Petrobras.
"Pode acontecer de no mês de abril a situação mudar e termos uma recuperação das condições climáticas no Sul. Mas no curto prazo não vemos nenhum sinal de mudança forte", disse Barata.
Ele ressaltou, no entanto, que o nível de precipitações na região tem sido tão baixo que é difícil esperar uma piora.
"Vamos continuar com monitoramento e avaliações semanais no CMSE. E no caso de haver mudança súbita e forte, a gente muda também a operação. Mas é improvável, porque as chuvas estão muito baixas, é muito improvável que a gente passe por uma piora. O mais provável é que em março continue desse jeito e a partir de abril melhore", apontou.
A meta do ONS tem sido levar os reservatórios do Sul para cerca de 30% da capacidade, segundo Barata.
Eventualmente, importações de energia da Argentina e do Uruguai também podem ajudar à atender a região, mas a oferta desses países para envios é limitada porque eles têm enfrentado situação climática semelhante, acrescentou.
QUADRO POSITIVO
O diretor-geral do ONS destacou, no entanto, que o quadro mais delicado no Sul não gera preocupações de atendimento à demanda local e nem quanto ao sistema elétrico brasileiro como um todo.
"O balanço é que a situação hoje é muito melhor do que estava no ano passado, mesmo com essa situação no Sul, e bem melhor que no início do ano", afirmou.
As hidrelétricas do Sudeste, que concentram os maiores reservatórios, têm se recuperado mais recentemente para o melhor nível em anos, após terem começado janeiro de 2020 perto de mínimas históricas vistas em 2015.
Já o Nordeste, segunda região em volume de armazenamento nos lagos, também tem visto importante recuperação das precipitações e deve ter o melhor ano em quase uma década, após temporadas consecutivas de chuvas fortemente abaixo da média, disse Barata.
"Desde 2012 a gente não vê nada parecido com isso. São condições bastante boas na região Nordeste. Tomara que isso seja realmente um processo de reversão (de tendência) e não algo esporádico", afirmou.
Em meio às chuvas mais favoráveis, a elétrica mineira Cemig disse que sua hidrelétrica de Três Marias, no rio São Francisco, abriu parcialmente as comportas no final de fevereiro para liberar excesso de água, o que não ocorria na usina desde janeiro de 2012.