Selic estagnada: conheça opções de investimentos no cenário atual
A Selic deve ser mantida em 10,5% na próxima reunião do Copom, na semana que vem, de acordo com as projeções do mercado, devido a uma combinação de fatores que inclui pressão inflacionária persistente, temor sobre o cumprimento das metas fiscais pelo governo e até mesmo a influência do cenário internacional, com a ausência de sinalização pelo Fed, o banco central norte-americano, de uma queda de juros dos EUA ao menos no curto prazo.
Para o investidor, o desafio é entender por que o cenário mudou desde o início do ano, quando as projeções eram bem diferentes, e encontrar as melhores opções nessa nova realidade para obter boa rentabilidade e ampliar seu patrimônio, evitando o risco de estagnação ou até mesmo de perda de capital.
Este texto vai trazer algumas opções nesse sentido, mas, antes, vamos tentar entender como chegamos até esse ponto em que a Selic está fadada, aparentemente, a se manter estacionada nos dois dígitos pelo menos até o fim do ano.
Selic não ia chegar a um dígito?
Era essa, ao menos, a expectativa do consenso do mercado na virada do ano, quando a Selic estava em 11,75% ao ano, após quatro quedas consecutivas de meio ponto durante o segundo semestre de 2023. Seria um ano de aquecimento da economia, com queda de juros e inflação que merecia cautela, mas com tendência de se manter perto da meta de 3% ao ano - com margem de tolerância de 1,5 ponto para cima ou para baixo.
O primeiro Boletim Focus de 2024, divulgado em 8 de janeiro pelo Banco Central, projetava como consenso do mercado uma Selic de 9% e um IPCA de 3,9%. E o cenário se confirmou até março, com as duas primeiras reuniões do Copom mantendo o ritmo de queda da Selic em meio ponto, para 10.75% ao ano. Na virada de março para abril, as projeções para o IPCA chegaram a 3,75%.
Ainda em março, contudo, as expectativas começam a se mexer após o governo enviar ao Congresso uma proposta de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para 2025 com déficit fiscal zero, quando a previsão inicial era de superávit. Por mais que o mercado, em geral, já tivesse dúvidas sobre a capacidade do governo de cortar gastos e zerar o déficit neste ano, a admissão de uma meta fiscal mais frouxa teve consequências negativas e iniciou um processo de alta nas taxas de juros futuros.
Com isso, já na reunião de maio, o Copom pôs o pé no freio e reduziu o ritmo de corte da Selic, desta vez em 0,25 ponto, para 10,5%, mas não foi o suficiente para ajustar as expectativas do mercado. O Ibovespa seguiu em queda, assim como o IFIX, índice de fundos imobiliários, revertendo o processo de alta que vinha desde o trimestre final de 2023, e o Focus desta semana já trazia o IPCA novamente em 3,9% e a Selic em 10,25% ao ano, ou seja, com margem para apenas mais uma queda em 2024.
Com o IPCA de maio chegando a 0,46%, com 3,93% no acumulado dos últimos 12 meses, e a decisão do Fed de manter os juros norte-americanos no intervalo de 5,25% a 5,5% ao ano, com destaque para a dificuldade de se aproximar da meta de inflação, de 2% ao ano, a expectativa de uma redução da Selic na reunião do Copom que se encerra na próxima quarta-feira (18) caiu para perto de zero.
"O cenário fiscal se deteriorou, com uma piora concentrada tanto nas expectativas quanto na sustentabilidade do arcabouço fiscal. A ausência de sinalização de algum ajuste pelo lado da despesa coloca em xeque o futuro do plano. Nesse contexto, somou-se uma piora nas expectativas de inflação, o que deve forçar o Banco Central a interromper temporariamente o atual ciclo de cortes", afirmou a AZ Quest, gestora de fundos, em sua carta mensal.
Renda fixa é a melhor opção?
É uma convenção de mercado que momentos de juros altos são mais atraentes para os investimentos em renda fixa, cuja remuneração é atrelada aos juros básicos e que, no atual cenário, tendem a pagar bons rendimentos com pouco risco.
Alessandra Gontijo, CCO e sócia da Investo, gestora de fundos, endossa o discurso, especialmente diante de um cenário de incertezas fiscais e pressão sobre a inflação, em que a renda fixa serve como proteção contra a volatilidade da economia brasileira.
"Ativos indexados à inflação estão extremamente atrativos, devido ao aumento das projeções do IPCA pelo mercado, oferecendo prêmios acima da inflação e protegendo o poder de compra do investidor", explica a especialista, citando os títulos NTN-B, papeis do Tesouro Direto atrelados à inflação oficial do país.
Alexandre Pimentel, da Fator, gestora de fundos de várias modalidades, também vê a renda fixa como opção atraente, mas faz a ressalva de que há alternativas de renda variável.
"Acreditamos que o melhor comportamento para o investidor ainda seja a alocação em ativos de renda fixa em função da queda potencial da Selic ainda ser gradativa, mas também vemos boas opções em renda variável, principalmente em ações ligadas ao ciclo doméstico", explica o analista.
Ele acredita, inclusive, que o ciclo de queda da Selic foi interrompido provisoriamente, mas deve ser retomado ao longo de 2025. "Nossa projeção é terminarmos o ano de 2024 com a taxa Selic em 10,25%, mas com um viés de baixa. Certamente no ano de 2025 teremos a Selic com um dígito", projeta Pimentel.
Como fatores que devem estimular a queda dos juros numa próxima reversão de mercado, o analista da Fator acredita num processo de redução pelo Fed, nos EUA, e também na melhora das perspectivas de longo prazo com a redução do impacto da expansão fiscal iniciada em 2023.
Selic estagnada: opções de investimento
A RB Capital aponta que um mercado em boa situação, mesmo com a Selic parada e o IPCA sob pressão, é o de debêntures incentivadas, cujos ativos em geral têm remuneração atrelada à inflação, o que garante a manutenção do poder de compra do capital investido. A casa atua nesse mercado com o fundo RB Capital Debêntures Incentivadas FIC FI RF.
"O hedge proporciona menor volatilidade no valor da cota, assim como proteção contra movimentos da curva de juros. Importante e válido lembrar que o fundo conta com isenção de imposto de renda para pessoa física", reforça a gestora.
No mercado de fundos imobiliários, embora o IFIX venha sendo fortemente pressionado e tenha retornado aos índices do fim de 2023 nesta semana, a empresa vê o segmento de FIIs de papel, que atua na aquisição de recebíveis imobiliários, como promissor diante do atual cenário.
"O RRCI11 é um fundo que tem mais de 60% da carteira em ativos IPCA+, com taxa média de 9,43%, o que traz um prêmio atrativo contra as NTN-Bs. Além disso, quase 30% estão alocados em ativos CDI+, com taxa média de 3,90%, também apresentando prêmio relevante em relação aos títulos públicos. Desta forma, a composição traz um equilíbrio entre os índices, reduzindo volatilidade e risco da carteira", defende a gestora.
Alexandre Pimentel, da Fator, também vê de forma positiva o mercado de debêntures incentivadas e reforça o ponto da isenção de impostos, uma vez que o setor atua no financiamento de obras de infraestrutura e, por isso, conta com o benefício fiscal para atrair os investidores.
"O Fundo Fator Debêntures Incentivadas proporciona um retorno acima do CDI, com isenção de impostos, alocação de grande parte da carteira em ativos com ótimo risco de crédito, ou seja, com rating AAA e AA e baixa volatilidade", explica, destacando a taxa de retorno líquido, atualmente em 110% do CDI, já descontando impostos e taxas.
Alessandra Gontijo, da Investo, fala do NTNS11, um ETF, fundo de índices listado na B3 que replica o índice Teva Tesouro IPCA 0 a 4 anos, com investimento apenas em títulos públicos de curto prazo. "Essa alocação em títulos com vencimentos mais curtos permite se expor ao mercado com uma volatilidade inferior aos títulos de vencimento mais longo. Hoje, apresenta uma rentabilidade de IPCA+6,58%", destaca a gestora.
Ela enfatiza que a rentabilidade é superior ao spread oferecido por todas as NTN-Bs disponíveis hoje no mercado, com volatilidade de 1,5% nos últimos 12 meses, ante 8% de volatilidade da NTN-B com vencimento em 2055.
Na área de crédito privado, o fundo AZ Quest Supra FIC FIM tem estratégia de extrair retorno consistente dentro do universo de ativos de crédito privado, investindo em emissões de "empresas de alta qualidade brasileiras ou internacionais com parte significativa dos seus negócios localizados na América Latina", e uma parcela alocada em crédito estruturado.
No ano, a rentabilidade acumulada está em 6,33%, e nos últimos 12 meses, de 19,53%, bem acima da Selic antes mesmo do ciclo de cortes.