Selic: mercado eleva projeções do juro para janeiro, março e fim de 2025
As medianas de 43 instituições consultadas pelo 'Estadão/Broadcast' indicam ao menos mais duas altas seguidas de 0,50 ponto no juro e uma janela menor para o afrouxamento monetário
Embora o comunicado da reunião de novembro do Copom tenha sido lido como "neutro" por boa parte do mercado, uma vez que houve quase repetição do texto do encontro anterior, cresceram as apostas por um nível de Selic mais alto nos primeiros meses do ano que vem.
As medianas de 43 instituições consultadas pelo Estadão/Broadcast indicam agora ao menos mais duas altas subsequentes de 0,50 ponto no juro básico, em dezembro e janeiro. Os cenários agora também apontam para uma janela menor para retomada do afrouxamento monetário nos meses finais de 2025, uma vez que a mediana para a Selic no final do ano que vem subiu de 11,25% para 11,75%.
Além da elevação da projeção do Banco Central para a inflação no horizonte relevante, que passou de 3,5% para 3,6%, pesam sobre o cenário de prolongamento do aperto no juro a preocupação com os rumos da política fiscal doméstica em um ambiente de incerteza global ainda mais acentuada, sobretudo quanto ao nível do câmbio, observam analistas consultados pelo Estadão/Broadcast.
Após o comunicado de quarta-feira, 6, revisaram seus cenários para o nível da Selic ao final do atual ciclo de aperto, instituições como o Barclays (12% para 12,75%), UBS BB (12,25% para 12,75%), XP Investimentos (12% para 13,25%) e Rabobank (12,5% para 13%).
Na avaliação da XP, a elevação do BC para a projeção de inflação no horizonte relevante indica dois elementos: que o agravamento de outros fatores inflacionários tem superado o efeito do aperto monetário projetado pelo mercado; e que o "plano de voo" da autoridade monetária — não divulgado — provavelmente contempla uma taxa da Selic acima de 12,50% ao fim do ciclo de aperto monetário. "O colegiado pode optar por um ritmo mais acelerado para atingir o nível terminal mais cedo", escreveram, em relatório.
Para o economista da área de política monetária do Santander Brasil, Marco Antonio Caruso, o Copom, ao praticamente repetir o comunicado da reunião anterior, reforçou sua posição de que está data-dependent. "O fato de não haver muita mudança na comunicação joga nesse sentido de que a porta está aberta para decisões futuras", afirma.
Na avaliação de Caruso, o Copom parece ter uma preferência pelo plano de voo com altas de 0,50 ponto na Selic, mas, ao reforçar que o ciclo de aperto será aquele que for necessário para trazer a inflação à meta, as portas para uma elevação de 0,75 ponto não estão totalmente fechadas. "Mas teria de acontecer algo muito complicado para concretizar essa aceleração para 0,75 ponto em um cenário em que praticamente todo o mundo está cortando juro", pondera.
Por ora, o Santander mantém a expectativa de mais duas altas de 0,50 ponto no juro em dezembro e janeiro e uma derradeira elevação de 0,25 ponto em março, com a Selic ao fim do ciclo atingindo 12,5%. Caruso atenta, porém, para o peso que a questão fiscal tem ganhado para as decisões de política monetária. "O BC colocou ali, no comunicado, que talvez as expectativas de inflação sejam quase que impermeáveis às decisões dele se não houver uma política fiscal remando para o meu mesmo lado".
Já para o economista da CM Capital Matheus Pizzani, o comunicado de ontem ainda não trouxe elementos suficientes para justificar qualquer "movimento brusco" nas projeções para a taxa Selic à frente. Ele reconhece, porém, que o cenário pode mudar, a depender do conteúdo da ata, na semana que vem.
A CM Capital tem em seu cenário-base juro básico atingindo 12,5% em março e se mantendo nesse nível até o segundo semestre do ano que vem. "Até o meio de 2025 devemos ter um cenário com o pico do aperto, e Selic estável logo depois. O primeiro trimestre para a dinâmica da inflação ainda não deve ter uma composição muito benigna, pela sazonalidade", detalha.
A avaliação é corroborada pelo economista-chefe do Banco Bmg, Flavio Serrano, que manteve as projeção de Selic em 12,5% em março do ano que vem. Para ele, o comunicado da autoridade monetária foi quase um "copia e cola" e por isso não há razão para maiores alterações no cenário.
Em relação à mensagem do Copom sobre política fiscal, Serrano avalia que também não houve grandes novidades, visto que o BC também já havia mencionado preocupação no comunicado da reunião anterior.