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Sem solução financeira para Angra 3, governo Bolsonaro promete conclusão de usina

Apesar da afirmação, obra tem diversos obstáculos em seu caminho: acumula 30 anos de paralisações, tem uma dívida de R$ 9 bi em financiamentos públicos e precisa de mais R$ 15 bi para ser concluída

3 dez 2020 - 20h14
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BRASÍLIA - Sem ter uma solução financeira resolvida para viabilizar a conclusão da usina nuclear de Angra 3, tampouco chance de inaugurar a planta paralisada no litoral do Rio de Janeiro até o fim de 2022, o governo Jair Bolsonaro afirmou, nesta quinta-feira, 3, que "em breve" o País poderá contar com a geração da nova usina.

A declaração foi dada pelo ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, que participa da "live" do presidente Jair Bolsonaro na noite desta quinta-feira, 3. "Hoje temos as usinas de Angra 1 e Angra 2. Em breve, teremos Angra 3. Nós vamos triplicar essa geração de energia nuclear, que é fundamental para a manutenção dos nossos reservatórios", disse Albuquerque.

Angra 3 acumula hoje o posto de obra de infraestrutura mais cara do Brasil.
Angra 3 acumula hoje o posto de obra de infraestrutura mais cara do Brasil.
Foto: Arquivo/Agência Brasil / Estadão

O fato é que Angra 3, que hoje é obra de infraestrutura mais cara do Brasil, acumula 30 anos de paralisações, possui uma dívida de R$ 9 bilhões em financiamentos com bancos públicos e depende de mais R$ 15 bilhões para que possa ser concluída. Além de resolver todo esse passivo, a retomada de Angra 3 depende, fundamentalmente, da entrada pesada de um sócio privado na operação, além de definições políticas que envolvem o processo de privatização da Eletrobrás.

Isso significa que, se tudo isso der certo no caminho de Angra 3, ela estaria pronta somente em 2026, ou seja, mesmo que Bolsonaro fosse reeleito, só teria chances de inaugurar a usina em seu último ano do segundo mandato, caso não ocorresse mais nenhum atraso.

O tema nuclear foi provocado por Bolsonaro, que disse conhecer as plantas e Angra 1 e 2 e citou que estas, no passado, eram criticadas pelo PT, que depois deixou de reclamar da geração nuclear.

Bolsonaro comentou que a geração nuclear pode dar segurança ao abastecimento do País, porque pode gerar 365 dias por ano, diferentemente da geração hídrica, eólica ou solar, que dependem de chuva, vento e sol para entregarem energia. Ocorre que, no dia-a-dia, a geração nuclear brasileira não responde sequer por 1,5% da potência nacional, que hoje tem mais de 60% de sua matriz baseada em geração hidrelétrica, seguida pelas fontes eólica, gás natural, diesel e solar.

"Eu lembro, eu era garoto, nos tempos da academia (militar) e Resende (RJ), as broncas contra a usina nuclear lá de Angra. O PT fazia um trabalho contrário. Depois fomos ter, por duas ou três vezes, prefeito do PT lá em Angra dos Reis. Nunca mais falaram no assunto de abandonar essa forma de fazer energia no Brasil", disse Bolsonaro.

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que acompanhava a live, disse que, tenho um "governo sério" como o de Bolsonaro e uma "administração técnica" como a de Bento Albuquerque, "está claro que isso pode avançar e muito".

Todo ano, a Eletronuclear gasta pelo menos US$ 10 milhões para manter, em plenas condições de uso, os equipamentos que já adquiriu para Angra 3, além das estruturas da planta já executadas. Isso significa US$ 360 milhões despejados no projeto durante seus 36 anos de paralisação. Em valores de hoje, portanto, é mais de R$ 1,9 bilhão usado para manter uma estrutura paralisada.

De 2015 para cá, os gastos com esses serviços aumentaram ainda mais e já chegam a R$ 130 milhões por ano, envolvendo manutenção de toda infraestrutura e contratos de serviços relacionados que estão em andamento, segundo informações da Eletronuclear.

A pressão financeira imposta pela manutenção da estrutura de Angra 3 sofre sente ainda o impacto dos financiamentos que a Eletronuclear tomou com BNDES e Caixa Econômica Federal. Todo mês, a estatal recebe um boleto de R$ 25 milhões da CEF e outro de R$ 30 milhões do BNDES.

Estadão
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