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Será que a Nestlé poderá se tornar virtuosa e lucrativa?

Maior companhia de alimentos do mundo está tomando medidas para reduzir o seu impacto sobre o ambiente; um dos produtos desenvolvidos pela marca é um cheeseburger de bacon vegano

4 dez 2019 - 07h11
(atualizado às 10h38)
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LAUSANNE, Suíça - Mark Schneider, diretor executivo da Nestlé, a gigante suíça dos produtos alimentícios, pegou algo com a aparência de uma rosquinha, uma espécie de cheeseburger de bacon, mas sem bacon, queijo ou carne. Deu uma mordida: era uma imitação de carne, um alimento sem laticínio, simbolizando o possível futuro da indústria alimentícia. Era também um exemplo da resposta das grandes corporações como a Nestlé à uma intensa pressão para ajudar a combater a mudança climática.

"A razão pela qual gosto tanto de produtos à base de vegetais é que aqui as duas coisas se fundem", ele afirmou no centro de pesquisa e desenvolvimento da Nestlé, em Lausanne. "Há um aspecto ambiental nisto, e outro que diz respeito a uma alimentação saudável."

A Nestlé, a maior fabricante de alimentos do mundo, está no centro de ambas as tendências. As exigências feitas à Nestlé e a outras corporações estão aumentando, à medida que os consumidores se mostram mais atentos às consequências do que estão comendo para o meio ambiente.

A agricultura produz mais de 20% das emissões de gases do efeito estufa, e a produção e incineração de plásticos mais 10%.

As ações das companhias consideradas responsáveis pela deterioração do ambiente superam consideravelmente as ações que não se incluem nesae grupo, segundo um estudo recente pulicado pelo Deutsche Bank. O mesmo relatório concluiu que os consumidores estão cada vez mais baseando as suas decisões de compras nas marcas que, na sua opinião, não prejudicam o ambiente.

Schneider insistiu que o compromisso da Nestlé com o ambiente e a nutrição do público é sincero e vem de muito tempo. As dimensões da Nestlé e a variedade dos seus produtos significam que a companhia, sediada às margens do Lago de Genebra, em Vevey, costuma estar na mira de grupos de ativistas. A Nestlé tem mais de 300 mil funcionários, e, no ano passado, suas vendas chegaram a $ 93 bilhões. Ela opera praticamente em todos os países.

Uma das maiores críticas feitas à Nestlé é que ela estimula a obesidade porque vicia os consumidores com alimentos doces e gordurosos.

A companhia declara que, desde 2000, cortou o açúcar dos seus produtos em mais de 33%, e cortará mais 5% no próximo ano. E estabeleceu metas semelhantes para as gorduras saturadas e o sal.

Também prometeu aumentar os vegetais e os ingredientes ricos em fibras como nozes, grãos integrais e feijão em alguns produtos.

A água engarrafada é outra operação em que a Nesté se mantém frequentemente na defensiva. A companhia é dona de marcas como a Perrier, San Pellegrino e Poland Spring.

Em lugares como a Florida e a Califórnia, a companhia foi acusada de contribuir para o esgotamento de aquíferos de nascente e de vender um bem público visando lucro.

Recentemente, Cédric Egger, um hidrólogo geológico que é gerente de recursos aquíferos geológicos, guiou uma excursão pelas colinas acima da aldeia suíça de Henniez para demonstrar por que motivo ele acredita que as acusações são injustas. A Nestlé adquiriu a marca da água mineral Henniez em 2008 de uma empresa familiar.

"Os camponeses estavam desconfiados", falou Olivier Mayor, um camponês. Mas ele próprio disse que a Nestlé trabalhou com camponeses da região para aprimorar suas técnicas agrícolas de maneira a proteger a qualidade da água. Por exemplo, a Nestlé alimenta uma planta de biogás próxima da usina de engarrafamento da Henniez com estrume local e pó de café usado de cápsulas recicladas de Nespresso. Os camponeses usam o lixo como fertilizante, o que reduz o emprego de produtos químicos.

Schneider reconheceu que a companhia ainda precisa trabalhar para reduzir seu impacto no planeta. "Há o lado do meio ambiente", afirmou. "Nós reconhecemos os nossos erros e agimos quando a responsabilidade é nossa."

A Nestlé planeja fornecer o burger vegano às suas cadeias de restaurantes, mas ainda não anunciou nenhum cliente. Como a pecuária e os laticínios são os principais fontes dos gases de efeito estufa, os alimentos substitutivos têm o potencial de ajudar a salvar o planeta e ganhar dinheiro.

"Evidentemente, se quisermos alimentar um planeta de 10 bilhões de pessoas dentro de algumas décadas", disse Schneider, "dispor de mais alternativas e de uma dieta mais baseada em plantas será uma grande contribuição".

Estadão
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