Setor de serviços do Brasil frustra expectativas e fecha setembro com queda, indicando perda de ritmo
O Brasil registrou queda no volume de serviços em setembro, e o setor termina o terceiro trimestre frustrando as expectativas com a segunda queda mensal e indicando perda de ritmo.
O volume de serviços contraiu 0,3% em setembro na comparação com agosto e teve queda de 1,2% em relação ao mesmo mês do ano anterior, informou nesta terça-feira o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Em agosto, o setor registrou retração de 1,3%, numa revisão par abaixo de queda de 0,9% informada antes, e assim acumula uma perda de 1,6% nesses dois meses, eliminando parte do ganho de 2,2% do resultado somado de maio a julho, de acordo com o IBGE.
Os dados de setembro foram bem piores do que as expectativas de economistas em pesquisa da Reuters de altas de 0,3% na base mensal e de 0,5% na anual.
Ainda assim, o setor de serviços termina o terceiro trimestre com alta de 0,1% em relação aos três meses anteriores, depois de ganho de 0,3% no segundo trimestre e queda de 0,8% no primeiro.
"A dinâmica dos últimos meses e a performance dos indicadores antecedentes, principalmente a confiança dos empresários do setor, sugerem que a perda de ímpeto deve continuar nos próximos meses", disse Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura.
Os serviços estão 10,8% acima do nível pré-pandemia, de fevereiro de 2020, e 2,6% abaixo do ponto mais alto da série histórica, registrado em dezembro de 2022.
"Os serviços estão em redução de ritmo", destacou Rodrigo Lobo, analista da pesquisa. "Setembro foi o terceiro mês de menor receita oriunda de prestação de serviços no ano, na frente apenas de janeiro e abril".
O setor de serviços vem mostrando resultados mistos ao longo do ano. De um lado favorecem um mercado de trabalho aquecido e estímulos fiscais, mas de outro ainda pesam os juros elevados, o que inibe o consumo, apesar de o Banco Central estar flexibilizando a política monetária.
O BC fez no início do mês um terceiro corte de 0,50 ponto percentual na taxa Selic, a 12,25% ao ano, e afirmou que sua diretoria antevê reduções equivalentes nas próximas reuniões.
"Acreditamos que o setor (de serviços) continuará andando de lado até fim do ano, impactado pelo efeito dos juros ainda altos na economia. Nossa previsão é de que os serviços terminem o ano com expansão de 2,6%", avaliou Claudia Moreno, economista do C6 Bank
O IBGE destacou no mês de setembro o desempenho do setor de serviços profissionais, administrativos e complementares, que teve queda de 1,1%.
Outras duas das cinco atividades da pesquisa apresentaram retração no volume: serviços de informação e comunicação (-0,7%) e transportes, serviços auxiliares aos transportes e correios (-0,2%).
Em transportes, o resultado foi influenciado pelos setores de transporte rodoviário de carga, o principal segmento desse grupo e um dos maiores pesos da pesquisa, seguido por transporte áereo de passageiros.
"Essa menor intensidade do transporte de cargas impacta bem o dinamismo do setor de serviços", disse Lobo, explicando o que o setor agrícola tem menos dinamismo no segundo semestre, o que afeta o escoamento e a contratação de máquinas e fertilizantes.
Ele destacou também o aumento de preço das passagens aéreas observado em setembro (13,47%), "o que acabou pressionando negativamente a receita real das companhias aéreas".
Apresentaram ganhos os serviços prestados às famílias (+3,0%) e outros serviços (+0,8%).
O índice de atividades turísticas, por sua vez, cresceu 1,5% em setembro sobre agosto, após queda de 1,4% no mês anterior. Com isso o segmento está 4,5% acima do patamar de fevereiro de 2020 e 2,9% abaixo do ponto mais alto da série, de fevereiro de 2014.