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Shoppings batem recorde de vendas em 2023, mas resultado fica abaixo do previsto pelo setor

Valor no ano passado chegou a R$ 194,7 bilhões, um aumento de 1,5% em comparação com 2022; expansão esperada era de 14,6%, mas sofreu impacto dos juros altos e da inflação

6 fev 2024 - 19h04
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As vendas dos shoppings do Brasil foram recordes no ano passado, mas o desempenho ficou abaixo do inicialmente previsto por conta do peso dos juros altos e da inflação, de acordo com levantamento divulgado nesta terça-feira, 6, pela Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce).

As vendas somadas de todos os lojistas de shoppings em 2023 atingiram o maior valor da história, R$ 194,7 bilhões. O montante representa elevação de 1,5% na comparação com 2022, quando foi a R$ 191,8 bilhões.

O faturamento do setor em 2023 também superou em 1% a desempenho de 2019, que foi o último ano antes da chegada da pandemia e marcou R$ 192,8 bilhões. O resultado de 2023 indica que o setor foi capaz de se recuperar da crise sanitária, de modo geral.

Por outro lado, a alta de 1,5% das vendas em 2023 ficou bem abaixo da projeção que a Abrasce fez no início daquele ano, que era de expansão de 14,6%.

Setor de shoppings esperava forte alta em 2023
Setor de shoppings esperava forte alta em 2023
Foto: Tiago Queiroz / Estadão / Estadão

"Considerando a conjuntura que enfrentamos, estou satisfeito com o desempenho de 2023?, disse o presidente da Abrasce, Glauco Humai, em entrevista. "Ficamos aquém do potencial, mas ainda assim foi satisfatório. O setor mostrou resiliência."

Segundo Humai, o setor sentiu o peso dos juros altos, uma vez que o início do ciclo de queda levou mais tempo que o esperado pelos economistas. Além disso, nos primeiros meses do ano passado ainda houve pressão inflacionária. Juntos, esses dois fatores frearam o poder de compra da população, que já vinha bastante endividada.

"O segundo e o terceiro trimestre de 2023 foram muito ruins para o setor como um todo. As datas comemorativas tiveram vendas abaixo do esperado. Só no fim do ano passado veio uma sinalização de acomodação política e econômica e melhora dos dados gerais", disse Humai. "O saldo positivo de 2023 foi preparar terreno para um desempenho melhor em 2024?, emendou.

A despeito das turbulências, foram inaugurados cinco shopping centers em 2023, sendo dois no Sudeste, um no Sul, um no Centro-Oeste e um no Nordeste. Com isso, o total de empreendimentos em operação subiu de 634 para 639 shoppings.

Em termos de área bruta locável (ABL), essa expansão representou um aumento de 1,9% sobre o ano de 2022, com um total de 17,8 milhões de metros quadrados, ante os 17,5 milhões apontados em 2022, de acordo com levantamento da Abrasce.

O número de lojas também cresceu e chegou a 121 mil, um acréscimo de 4,5% na comparação com 2022 (ganho de 115 mil lojas). Com isso, a taxa de ocupação nos shoppings ao longo de 2023 alcançou 94,6%, ante o patamar de 94,4% de 2022 e bem próxima da marca de 2019, de 95,3% (a maior até então).

Pela primeira vez, a pesquisa da Abrasce computou o total de quiosques, que aproveitam os espaços reduzidos para venda de produtos, serviços e alimentos. Ao todo são 15.612 unidades em operação.

O fluxo de clientes também foi positivo, na visão da Abrasce, apresentando um número médio de 462 milhões visitas por mês, um aumento de 4,3% em comparação a 2022, quando a média mensal foi de 443 milhões.

Ao todo, o setor acumulou 1,062 milhão de empregos diretos, alta de 1,8% em relação ao ano anterior.

Perspectiva de crescimento

O setor de shoppings espera ampliar em 4% o faturamento em 2024, chegando ao patamar R$ 202 bilhões, de acordo com projeção da Abrasce. Se confirmado, o número representará um novo recorde para o mercado.

Segundo Humai, há um clima de "otimismo cauteloso" para este ano. De modo geral, as condições gerais da economia brasileira são melhores do que no ano passado, com inflação controlada, juros em queda e crescimento do emprego — fatores que devem sustentar o consumo.

"O setor entra com otimismo cauteloso. Estamos mais otimistas porque se vê um cenário macroeconômico mais bem estruturado", disse Humai. O ponto de cautela fica por conta do encaminhamento das contas públicas no Brasil e pela situação da economia dos Estados Unidos, com potencial de influenciar o câmbio e os juros por aqui.

Dentro do setor, entretanto, a situação das operações pode ser considerada saudável. Na média, a ocupação dos espaços destinados a lojas dos shoppings está dentro da média histórica, de 94,6%. Além disso, a inadimplência dos lojistas recuou após o período da pandemia e ficou em um nível considerado baixo, de 5,2%. "Não vemos pressão de aumento da vacância nem de inadimplência de lojistas daqui para frente", citou.

Apesar da crise vivida por grandes varejistas como Americanas, Marisa, TokStok, entre outras nos últimos meses, os shoppings foram capazes de substituir os varejistas e atrair novos grupos, apontou o presidente da Abrasce.

"Sempre vão existir lojistas. Se não é o 'A', tem o 'B', o 'C' e por aí vai. O shopping continua sendo atrativo para os lojistas", disse, citando a procura aquecida por parte de redes varejistas em expansão, marcas internacionais que desembarcam no país, e planos de crescimento de franquias.

Na sua avaliação, o shopping ainda é o principal ponto de encontro entre as grandes marcas e os consumidores, superando o comércio de rua. "Mais de 50% dos espaços nos shoppings são ocupados por franquias, e este é um setor que continua crescendo e demandando áreas nos shoppings".

Inaugurações

A Abrasce estima que haverá até 18 inaugurações de shoppings neste ano. Entretanto, o mais provável é que esse número fique entre dez e 12, segundo Humai. "Nunca na história todos os shoppings previstos foram 100% inaugurados", ponderou.

Boa parte desses empreendimentos tinha previsão de abrir as portas em 2023, mas acabou escorregando para 2024 diante do ritmo mais lento das obras e da dificuldade de atração de lojistas nos trimestres anteriores — o que tem mudado devido à queda dos juros e queda no custo dos financiamentos, segundo ele.

No caso das maiores redes de shoppings — Allos, Iguatemi e Multiplan — a prioridade será a expansão da área dos empreendimentos já em operação e não a abertura de novos centros de compra.

A Multiplan vai investir R$ 1,5 bilhão na expansão de sete dos seus 20 shoppings, conforme anunciado em dezembro. Um deles é o shopping Barigui, em Curitiba, e o outro é o Diamond Mall, em Belo Horizonte. Entre os próximos da fila estão o Park Shopping Maceió e o Morumbi, em São Paulo.

A Allos, empresa resultante da fusão entre Aliansce Sonae e BrMalls, vai tocar oito projetos neste ano, conforme anunciado em janeiro, considerando expansão da área dos shoppings, revitalizações e mudanças no uso dos espaços. O valor total do investimento será divulgado em breve, segundo a empresa.

A Iguatemi também prevê expansão de shoppings como o Iguatemi Brasília, e o Iguatemi São Paulo (situado na Avenida Brigadeiro Faria Lima), conforme anunciado em novembro. Hoje, a companhia colocou na lista a reformulação do MarketPlace, na capital paulista.

Estadão
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