Sigma Lithium encerra 2024 fortalecida por inovação sustentável e crescimento industrial
Nos dois últimos anos, o preço do lítio despencou em mais de 80%, passando de US$ 70 mil para US$ 10 mil por tonelada no quarto trimestre de 2024. Foi exatamente nesse período que a Sigma Lithium, empresa canadense liderada por uma executiva brasileira, começou a registrar os primeiros resultados de sua aposta em tecnologias sustentáveis que contrastam com a imagem arcaica do setor de mineração.
Adotando o conceito de greentech, a companhia aumentou a produção em 28% no trimestre, impulsionada por um processo inovador de empilhamento a seco de rejeitos e reuso de água, sem uso de barragens. A tecnologia permitiu recuperar lítio anteriormente descartado como resíduo, resultando em um acréscimo de 17 mil toneladas de óxido de lítio com alta pureza, produzido na planta localizada no Vale do Jequitinhonha (MG).
Essa guinada tecnológica veio na esteira de um cenário adverso no mercado internacional. Com a queda drástica dos preços e ajustes de receitas não recorrentes referentes a contratos do ano anterior, a Sigma encerrou o ano de 2024 com prejuízo líquido de US$ 51,4 milhões. Ainda assim, a companhia entregou resultados operacionais que a colocam entre os líderes mais eficientes do setor: margem operacional de 42% no 4T24, margem EBITDA ajustada de 26% e custos significativamente abaixo da média global. Além disso, a empresa encerrou o período com um valor de caixa de US$ 45,9 milhões.
Na leitura da CEO Ana Cabral, os números precisam ser interpretados com foco no futuro. “Esse ‘prejuízo’ é investimento, isso volta em lucro operacional. A resiliência operacional é muito grande. Independentemente do preço do lítio, estamos gerando fluxo de caixa. Isso é uma validação econômica clara do nosso compromisso com a sustentabilidade. Aumentamos a produção simplesmente reciclando o lítio dos rejeitos. Isso valida nosso modelo sustentável e mostra que eficiência e inovação caminham com resultados financeiros”, afirmou a executiva.
Em 2024, foram produzidas 240.828 toneladas de concentrado de lítio verde em 2024, com vendas de 236.811 toneladas. No quarto trimestre, a produção chegou a 77.034 toneladas – ritmo que, anualizado, confirma o guidance de 270 mil toneladas projetado para 2025.
Cinco zeros – Olhando além do balanço, o principal ativo da Sigma é o produto: o Lítio Quíntuplo Zero – sem carbono, químicos tóxicos, água potável, carvão ou barragens. Esse padrão atende às exigências de montadoras que buscam descarbonizar sua cadeia e permite à Sigma praticar preços acima da média, com vendas a US$ 900/t CIF China no quarto trimestre de 2024, mesmo diante da crise de preços.
A disciplina financeira também se manteve. Apesar de estar em expansão, os custos operacionais se mantiveram sob controle: o custo CIF China por tonelada caiu 17% no trimestre, chegando a US$ 427/t, consolidando a posição da Sigma como uma das mineradoras de lítio mais competitivas do mundo. Para 2025, o guidance é de custo total (AISC) de US$ 660/t, já considerando o avanço do projeto de ampliação da capacidade industrial.
Com apoio do Fundo Clima do BNDES, a Sigma avança na construção de sua segunda planta greentech, que dobrará a capacidade de produção até o fim de 2025. As obras estão no cronograma, com terraplenagem, fundações e aquisição de equipamentos já concluídas. A meta é iniciar a operação no quarto trimestre, alcançando 520 mil toneladas anuais até 2026, o que posicionará a empresa entre os cinco maiores produtores globais de lítio para baterias.
A expansão se apoia também na saúde financeira. A empresa ampliou linhas de crédito, reduziu os juros de exportação de 15,5% para 8,7% ao ano e preservou sua posição de caixa. A expectativa é que os custos financeiros por tonelada caiam pela metade até 2026.
Outro destaque do trimestre foi a revisão técnica do projeto Grota do Cirilo, principal ativo da companhia no Brasil. As reservas provadas e prováveis foram atualizadas para 76 milhões de toneladas, com teor médio de 1,29% de óxido de lítio, garantindo pelo menos 22 anos de operação. Mesmo com preços deprimidos, o valor presente líquido (NPV) do projeto é estimado em US$ 5,7 bilhões.
Desde o IPO em 2018, a Sigma segue uma trajetória de crescimento consistente. “Estamos dobrando a aposta no conceito de greentech, impulsionados pela transição energética global, e agora com lastro financeiro validado pelo aumento da capacidade produtiva. Isso nos coloca em uma posição privilegiada para atender a demanda mundial por baterias de lítio”, afirmou Ana Cabral.
Às vésperas da COP-30, com o Brasil em evidência no cenário da economia verde, a Sigma Lithium se posiciona como símbolo de uma nova mineração – mais limpa, eficiente e estratégica. Em um mercado volátil, a aposta da empresa é clara: transformar inovação tecnológica em vantagem competitiva de longo prazo.