'Só o Brasil acha graça em construir usinas térmicas', diz presidente da Omega
Antonio Bastos, presidente da empresa geradora e fornecedora de energia, afirma que projetos de energia eólica e solar poderiam reduzir a dependência das hidrelétricas em menor tempo do que novas usinas de gás natural, mais poluentes
RIO - Nos últimos seis meses a Omega Energia anunciou investimentos de R$ 2 bilhões em energia renovável. E é por esse segmento que o presidente da empresa, Antonio Bastos, enxerga a maneira que o Brasil deveria enfrentar as mudanças climáticas que levaram ao esgotamento dos reservatórios das hidrelétricas, e não construindo usinas térmicas mais caras e poluentes.
Chamado de inocente e sonhador em 2007, quando começou a Omega, Bastos hoje tem clientes como Cargill, 3M, Bayer, Grupo Mateus, entre outros, que, segundo ele, hoje só querem saber de energia renovável. Por este motivo, considera completamente sem sentido a recente aprovação de um novo parque térmico a gás natural de 8 gigawatts (GW), que só deverá entrar no sistema nos próximos cinco anos (tempo de construção de um empreendimento térmico), enquanto projetos de energia eólica e solar saem do papel em um ano e a um custo bem menor.
"Só o Brasil está achando engraçado fazer térmica. A sociedade decidiu que não vai mais bancar a energia suja, e, além disso, a energia limpa é mais barata", afirmou Bastos ao Estadão/Broadcast. "A revolução que deveríamos promover no Brasil deveria ser de renováveis. Imagina fazer uma revolução industrial no Nordeste com energia barata? A oportunidade que isso gera para o País e para a diminuição do abismo de desigualdade que o País tem?", questionou.
De acordo com Bastos, com os mesmos recursos previstos para a construção das térmicas seria possível instalar o dobro da potência, com emissão zero e quatro anos antes. "É só questão do interesse de um grupo que tem força para aprovar essas coisas (térmicas), porque a discussão meritória, com base em dados e fundamentos, não dura cinco minutos, essa que é a triste realidade", disse o executivo, que lamentou também a volta do carvão com um programa de estímulo por parte do governo e os sinais para o crescimento da energia nuclear.
Hidrogênio
De olho no futuro, Bastos disse que a Omega já assinou acordos de exclusividade com produtores de hidrogênio para fornecer energia renovável, "mas ainda em estágio muito embrionário, para estudar", afirmou. Ele disse ter conversas sobre o combustível que interessa principalmente aos países europeus em estados onde a Omega está presente (Ceará, Bahia, Maranhão e Piauí).
Segundo Bastos, mesmo que seja aprovado o novo marco regulatório para a energia solar distribuída, projeto em tramitação no Congresso que tira subsídios da fonte de energia, o preço continuará competitivo e ela continuará crescendo no País.
"A geração distribuída é a atividade do setor elétrico mais rentável que eu conheço no mundo. Instalar no telhado traz uma taxa de retorno de 30% ao ano, 10 vezes a mais que a poupança. Mesmo se repuser todos os encargos, essa conta vai para um retorno de 20%", afirmou.
A Omega foi reconhecida com classificação A na avaliação de ESG da MSCI, companhia global que fornece pesquisas e análises de práticas de negócios ambientais, sociais e de governança para milhares de empresas em todo o mundo, baseado na estratégia de sustentabilidade da empresa associada a um plano de ação para tornar a empresa referência em ESG até 2024. Desde a abertura de capital, em 2017, a empresa já cresceu sete vezes de tamanho.
"É o rating mais importante do mundo em termos ESG (sigla em inglês para padrões ambientais, sociais e de governança) e temos meta de até 2024 sermos a número um entre todas as companhias da América Latina entre empresas listadas em ESG", disse Bastos.
Apesar do prejuízo registrado no segundo trimestre do ano, de R$ 159,3 milhões, o executivo prevê que o resultado do segundo semestre, quando a safra de ventos garante melhor performance para a geração eólica, irá compensar essa perda. "Ano passado tivemos prejuízo no primeiro semestre e fechamos o ano com um belo lucro, tudo leva a crer, se não tiver nenhum tipo de anomalia, que esse ano vai se repetir", disse.
A crise hídrica ajudou com preços mais altos, o que favoreceu a comercializadora da Omega, e a tendência é de que permaneçam elevados durante todo este ano e possivelmente em 2022. As medidas adotadas pelo governo, como a proposta de redução da demanda por consumidores de mais de 30 megawatts é considerada equivocada por Bastos e, na sua opinião, deveria envolver toda a sociedade. "Eu seria mais arrojado no setor industrial. Trinta megawatts é muito alto, eu seria mais ousado, iria para 5 MW e não teria vergonha de fazer alguma ação a mais com o restante dos consumidores", afirmou.
Bastos prevê que mesmo com toda a necessidade de uma revisão geral da garantia física dos empreendimentos elétricos do País, e os vários projetos de modernização do setor em andamento, o único projeto que pode ir para frente em 2022, na sua avaliação, é o que confere maior abertura ao mercado livre, para que os clientes possam escolher a distribuidora de quem querem comprar eletricidade. Hoje, essa alternativa é restrita a grandes consumidores de energia.
"O que pode passar é a abertura do mercado livre pela pressão do preço. A sociedade clama por redução de preço, e, sem dúvida nenhuma, a maior abertura do mercado livre pode passar esse ano, e estamos focados nisso", disse. "Fora isso, não vejo grandes mudanças por ser ano eleitoral. A gente vai ter um ano de extremos, e de passar mensagens difusas para os investidores, vai ser preciso muita cautela. Infelizmente, a gente vai ter um ano um pouco mais confuso e volátil do que os passados, apesar de terem sido de pandemia", afirmou.