Summit Agro Brasil 2022: Agro do País 'anda sozinho', mas há entraves ao investimento estrangeiro
Segundo a chinesa Amy Chan, executiva da Dakang Brasil, burocracia, excesso de regulação e câmbio oscilante dificultam
Independentemente de quem estiver à frente do governo do Brasil, o agronegócio e a economia continuarão "andando", avaliou a diretora de Investimentos da empresa chinesa Dakang Brasil, Amy Chan, que foi a principal palestrante do Summit Agronegócio Brasil 2022, promovido pelo Estadão entre os dias 7 e 9 de novembro, em formato online e presencial, em São Paulo. "Percebemos que o agro brasileiro não para. Economia e agro seguem caminhando", reforçou.
No Brasil, a companhia controla as empresas Fiagril, Belagrícola e Fex Agro, do setor de insumos agropecuários.
Mais alimentos
A executiva acrescentou que a necessidade de segurança alimentar da China foi o principal motivo que levou a Dakang a investir aqui. "A segurança alimentar é a maior estratégia para entrar no Brasil. A China não tem recursos naturais para garantir sua autossuficiência alimentar", justificou. Ela advertiu, porém, que as mudanças regulatórias frequentes, o regime tributário complexo e as ações judiciais longas desafiam o investidor estrangeiro interessado no País. "O volume de mudanças regulatórias a cada ano é expressivo. Os processos de cartórios e longas ações judiciais também dificultam", acrescentou.
Segundo Chan, há, além disso, complexidade para o investidor estrangeiro confirmar informações contábeis e burocráticas. "Às vezes não há sistema para controlar faturamento e não há auditoria externa", criticou.
A volatilidade cambial significativa do País é outro fator de complexidade para o investidor estrangeiro. "A oscilação do dólar afeta muito o valor de investimento. Não é fácil procurar soluções para hedge (proteção do investimento) com oscilação cambial expressiva", apontou Chan, mencionando, além disso, variações expressivas na taxa básica de juros do País, a Selic.
Amy Chan contou que, nos 16 anos em que atua no Brasil, já passou por quatro presidentes da República e volatilidade cambial expressiva, pois, quando chegou por aqui, o dólar variava na casa dos R$ 2,07.
Parceria
Sobre a relação comercial entre Brasil e China, ela pontuou que hoje o Brasil é o principal fornecedor de alimentos para lá, sendo responsável por 91% das importações do gigante asiático em dez produtos agropecuários. Atualmente, os chineses adquirem do Brasil principalmente soja e carnes - bovina, suína e de frango. Além disso, o crescimento exponencial da classe média no país pode servir de oportunidade para o agronegócio brasileiro "diversificar a pauta de exportação com produtos de maior valor agregado".
Mesmo assim, ela avaliou que seu país não será "autossuficiente em soja", e que continuará demandando a oleaginosa do Brasil. "A necessidade de importação continua, mesmo com o crescente investimento chinês em esmagamento. Mas a China tem muitas limitações em relação a clima e a recursos naturais. Não acho, por isso, que chegará ao ponto de parar ou diminuir as importações do grão brasileiro", avaliou.
Chan destacou que considera também a possibilidade de o Brasil exportar milho para lá. "Podemos ver interessante evolução nos próximos anos nessa exportação, além, como já disse, dos produtos de maior valor agregado."
Mais mercados
A executiva considerou também que, além da China, vê oportunidades para o Brasil exportar para países como Indonésia. "Vejo demanda especialmente do Meio-Oeste e Sudeste da Ásia." Amy Chan destacou, porém, ter percebido, nos últimos anos, uma "retórica contra a China" por aqui. "O Brasil recusou alguns convites da China nos últimos anos. Não sei se o novo governo vai mudar isso", afirmou, ao ser questionada sobre as eventuais mudanças na relação entre os dois países a partir do governo do presidente recém-eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Busca pelo investimento chinês
O Brasil deve deixar claro que está aberto a receber investimentos chineses, disse a sócia-diretora da Vallya Agro, Larissa Wachholz, no Summit Agro. Ela ressaltou, porém, que a China prefere negociações de alto nível, governo a governo. "É uma particularidade deles, que buscam maior segurança."
Diante disso, Wachholz defendeu que o Brasil proponha uma agenda de visitas presenciais, assim que a China reabrir suas fronteiras, sanada a crise de covid-19, "o que deve acontecer nos próximos meses".
Ela citou como exemplo dessa necessidade as rodadas das reuniões da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação. "Os projetos acontecem entre empresas privadas, mas é preciso garantir que o governo vê com bons olhos essas parcerias."