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Superávit em petróleo e derivados amortece no Brasil impacto da guerra

Desde 2016, o País é exportador líquido de petróleo e combustíveis; no ano passado, a balança comercial de petróleo e derivados teve superávit recorde de US$ 19 bilhões

21 mar 2022 - 05h10
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A invasão da Ucrânia pela Rússia deflagrou um novo choque de preços de petróleo, com potencial de espalhar novas rodadas de pressões inflacionárias e minar o crescimento da economia global. Mas, desta vez, o Brasil tem um amortecedor que não tinha em outras crises deste tipo.

Desde 2016, o País é exportador líquido de petróleo e combustíveis, mostram dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério da Economia. No ano passado, a balança comercial de petróleo e derivados teve superávit recorde de US$ 19 bilhões, conforme cálculos do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), que representa as empresas de petróleo e gás.

As exportações de petróleo bruto somaram US$ 30,6 bilhões em 2021, salto de 56% ante 2020, quando as cotações do barril despencaram, no início da pandemia, e derrubaram o valor exportado. Em 2021, o volume até registrou queda, mas os preços dispararam. Considerando apenas a balança comercial de petróleo e óleos combustíveis, e não de todos os derivados, o superávit de 2021 foi de US$ 20,4 bilhões, segundo os dados da Secex. Em 2016, o saldo positivo foi de US$ 1,02 bilhão.

De acordo com economistas, esse colchão não é suficiente para impedir impactos da guerra na Ucrânia sobre o Brasil. No fim das contas, o saldo da nova crise é negativo. Mesmo assim, a condição de grande exportador de matérias-primas, incluindo agora a balança de petróleo e derivados, evita efeitos mais dramáticos, vistos em outras crises causadas por choques do petróleo, nos anos 1970 e 1990. O sinal mais imediato aparece no câmbio.

O salto nas cotações de petróleo - o barril do tipo Brent, negociado em Londres, chegou a encostar em US$ 140 por barril no início do mês - tende a aumentar o fluxo de dólares para países exportadores.

COMPENSAÇÕES

Assim, mesmo que o petróleo mais caro pressione ainda mais a inflação para cima e atrapalhe o crescimento econômico, a queda da taxa de câmbio, ou uma alta abaixo do que se esperaria em tempos de guerra, pode suavizar as novas pressões inflacionárias. E isso tem acontecido no Brasil.

"O Brasil, historicamente, sempre foi importador líquido de combustível e derivados. Quando o petróleo subia, resultava em mais inflação e menos crescimento econômico", diz Bráulio Borges, economista sênior da LCA Consultores. "Agora, o Brasil está em um momento em que a alta do preço do petróleo melhora as receitas de exportação e favorece a valorização do câmbio."

Esse processo conta com o auxílio de juros altos, lembra André Perfeito, economista-chefe da corretora Necton. Em 2021, as exportações de matérias-primas como soja, petróleo e minério de ferro já tinham garantido superávit comercial recorde, mas o câmbio não deu o alívio esperado.

Ao explicar o descolamento, muitos analistas destacaram riscos políticos e fiscais. Perfeito ressalta que, em março de 2021, a taxa básica de juros estava em 2% ao ano. Hoje é de 11,75%. "O Brasil exporta duas coisas: commodities e juros", diz, numa referência figurada à atração de investidores financeiros globais que buscam ganhos superiores aos de mercados mundo afora.

Estadão
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