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Sustentabilidade no setor de alimentação é urgente para 89% dos brasileiros, aponta pesquisa

Levantamento da Sodexo revela, no entanto, incoerência entre o desejo de adotar hábitos sustentáveis e a prática

6 fev 2024 - 08h51
(atualizado às 08h56)
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A sustentabilidade ganhou vez no setor de alimentação e se tornou um agregador de valor para marcas que têm a prática como um dos seus principais pilares ou atuam com foco na agenda ESG (sigla para boas práticas em meio ambiente, social e governança).

Grandes marcas de alimentação têm anunciado metas relacionadas à Agenda 2030 do Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU) e aderido a práticas como a adoção de embalagens sustentáveis, diminuição do uso de plástico e a redução da pegada de carbono. Elas também apostam em alterações desde a produção.

A Hershey's, por exemplo, anunciou a meta de reduzir o consumo de água em 25% até 2025, enquanto a Coca-Cola tem como uma de suas metas sustentáveis tornar 100% das embalagens recicláveis até 2025. Essa também é uma tendência seguida na PepsiCo, fabricante de Pepsi, Doritos e Lays, que tem dentre os seus objetivos introduzir embalagens mais sustentáveis na cadeia de valor e reduzir o uso de plástico virgem em 50% em seu portfólio global de alimentos e bebidas até 2030.

A tendência tem sido exigida pelos próprios consumidores, que, segundo especialistas, buscam cada vez mais consumir de forma consciente, de marcas que sejam socialmente responsáveis e que estejam atreladas a valores ESG. Segundo uma pesquisa global divulgada pela multinacional francesa de alimentação corporativa Sodexo nesta segunda-feira, 5, 79% da população mundial considera urgente a adoção de uma alimentação sustentável.

No Brasil, a percepção sobre a necessidade de mudança e engajamento nesta pauta é ainda maior, com 89% das pessoas considerando o tema urgente. Em termos de comparação, a percepção de urgência é de 82% na França, 73% na Inglaterra e 72% nos Estados Unidos. A pesquisa contou com a participação de 1.525 brasileiros.

As mudanças já refletem, em parte, no comportamento de consumo dos brasileiros: 76% afirmam ter reduzido o desperdício de alimentos em casa, 60% compram alimentos de produtores/vendedores locais, 49% disseram ter diminuído o consumo de alimentos processados, 46% evitam o uso de embalagens plásticas e 48% consomem produtos sustentáveis sempre que possível.

Vale destacar que a preocupação do setor alimentício com a agenda ESG tem se mostrado uma tendência cada vez mais forte nos últimos anos e impulsionado, inclusive, a criação de novas companhias que tem como seu core bussines a preocupação social e ambiental.

Uma onda de startups, por exemplo, tem apostado no desperdício como mote central de seus negócios, ressignificando o consumo para evitar o descarte de alimentos em bom estado. É o caso de companhias como Frubana, Mercado Diferente, Gooxxy e Fruta Imperfeita, que usam da logística e outras tecnologias para evitar o descarte de frutas ou legumes que não são considerados padrões para serem comercializados nos mercados por serem muito grandes, pequenos ou não terem os formatos e cores tradicionais.

Percepção distorcida

Embora os consumidores afirmem que a sustentabilidade se tornou um fator relevante na hora de escolher as marcas, ainda existe uma discrepância entre a percepção que as pessoas têm dos seus alimentos e a sua real sustentabilidade, além de um gap entre o desejo e a prática efetiva.

No mundo, 56% das pessoas entrevistadas acreditam que a sua alimentação já é sustentável. No entanto, por exemplo, os produtos lácteos (78%) e a carne (71%) continuam a ser os produtos mais consumidos regularmente em sua rotina alimentar, cenário que acaba por ter impacto direto no meio ambiente.

A produção de carne bovina exige abundância de recursos naturais, como o solo e a água, e contribui para a emissão dos gases de efeito estufa. Segundo uma pesquisa recente da Universidade de Oxford, no Reino Unido, se as pessoas que mais consomem carne no país reduzissem a quantidade ingerida por dia, o efeito na redução das emissões de gases do efeito estufa (GEE) seria o mesmo que retirar 8 milhões de carros de circulação.

No Brasil, uma mudança como essa enfrentaria uma grande barreira cultural. O levantamento demonstra que 74% entrevistados revelam um consumo regular de proteína animal (acima da média global, 71%), sendo que 34% dos brasileiros relatam que não têm o desejo ou intenção de reduzir o consumo.

Segundo a CEO da Sodexo, Andrea Krewer, a mudança deve ser vista como uma jornada, considerando o contexto cultural, econômico, social de cada região. "Temos o desafio de levar informações para que os consumidores conheçam cada vez mais os benefícios das proteínas vegetais, mas não como substituto e sim como uma alternativa saborosa, atrativa e que pode contribuir com a sustentabilidade do nosso planeta", afirma.

Estadão
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