Taxas de juros futuras sobem com mercado à espera de pacote fiscal e projetando ciclo maior da Selic
As taxas dos DIs fecharam a quarta-feira em alta, com investidores projetando um ciclo prolongado de elevações da Selic, na esteira da ata do Copom divulgada na véspera, e reagindo negativamente à demora do governo Lula em anunciar seu pacote fiscal.
Comentários do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reafirmando o esforço do governo em finalizar o pacote tiraram um pouco da pressão da curva no fim da tarde.
A taxa do DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2025 -- que reflete as apostas para a Selic no curtíssimo prazo -- estava em 11,422%, ante 11,412% do ajuste anterior. Já a taxa do contrato para janeiro de 2027 marcava 13,37%, em alta de 4 pontos-base ante o ajuste de 13,334%.
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2031 estava em 13,01%, ante 12,99% do ajuste anterior, e o contrato para janeiro de 2033 tinha taxa de 12,88%, ante 12,856%.
Pela manhã os rendimentos dos Treasuries cediam após o anúncio de dados de inflação dentro do esperado nos Estados Unidos. O índice de preços ao consumidor subiu 0,2% pelo quarto mês consecutivo, informou o Departamento do Trabalho. Nos 12 meses até outubro, o indicador avançou 2,6%, depois de ter subido 2,4% em setembro. Economistas consultados pela Reuters previam alta de 0,2% no mês e de 2,6% na base anual.
Apesar do exterior, a curva de juros brasileira foi se firmando em alta ainda pela manhã.
"Tem um pouco do ciclo externo na alta dos juros hoje. Continuamos a ver o dólar muito forte lá fora, o que acaba afetando o dólar aqui e acaba afetando a curva", comentou no início da tarde Adauto Lima, economista-chefe da Western Asset. "E tem também a ausência de medidas na área fiscal, seguida pela ata de ontem do Copom, que foi muito dura", acrescentou.
Como nas sessões anteriores, a demora do governo Lula em finalizar seu pacote fiscal motivava parte do avanço do dólar e das taxas dos DIs.
A ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que na véspera falou em "prolongamento do ciclo de aperto" dos juros em caso de deterioração adicional das expectativas de inflação, também continuou a fazer preço. Na semana passada, o colegiado elevou a Selic em 50 pontos-base, para 11,25% ao ano, e não passou uma indicação para o próximo encontro, em dezembro.
"Há revisões no mercado do ciclo de juros, e isso vem pegando (nos preços) desde ontem", disse Lima.
A ponta curta da curva já precifica chances majoritárias de o BC acelerar novamente o ciclo de altas da Selic no próximo mês.
Perto do fechamento a curva precificava 59% de probabilidade de alta de 75 pontos-base da Selic no próximo mês, contra 41% de chance de elevação de 50 pontos-base.
"Ainda acho que as projeções de 50 são mais prováveis, mas temos variáveis que pautam os 75. Além do fiscal e da desvalorização do real, temos um cenário inflacionário mais forte", comentou Vitor Oliveira, sócio da One Investimentos. "A inflação está acima da banda superior da meta", lembrou.
No relatório Focus mais recente, divulgado antes da ata do Copom, a mediana das projeções do mercado para a inflação em 2024 estava em 4,62% -- acima do centro da meta de inflação perseguida pelo BC, de 3%, e do teto deste objetivo, de 4,5%.
Na reta final da sessão, novamente sem detalhar as medidas a serem adotadas, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que não sabe se há tempo hábil para o governo anunciar nesta semana o conjunto de medidas para controle de gastos públicos, ressaltando que a apresentação será feita quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva autorizar.
Porém, o ministro afirmou que o impacto fiscal do pacote será "expressivo", argumentando que a ideia é fazer rubricas do Orçamento se enquadrarem na regra de crescimento de despesa do arcabouço fiscal.
"Mais do que o número, que é expressivo, mais do que o número, que na opinião da Fazenda reforça o nosso compromisso de manter as regras fiscais estabelecidas desde o ano passado, mais do que isso é o conceito que nós utilizamos para fazer prevalecer essa ideia de que as rubricas devem todas elas, na medida do possível, ir sendo incorporadas a essa visão geral do arcabouço para que ele seja sustentável no tempo", disse.
Os comentários de Haddad contribuíram para as taxas dos DIs reduzirem os ganhos e fecharem com altas menores que as vistas mais cedo.
Por outro lado, no exterior os rendimentos mais longos dos Treasuries passaram a subir durante a tarde. Às 16h43, o rendimento do Treasury de dez anos --referência global para decisões de investimento-- subia 1 ponto-base, a 4,439%.