Taxas futuras de juros despencam com atuação de BC e Tesouro e avanço do pacote fiscal
As taxas dos DIs recuaram nesta quinta-feira, com quedas de mais de 60 pontos-base para alguns contratos, à medida que a curva de juros recebia alívio com o avanço do pacote fiscal do governo no Congresso, falas do futuro presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, e recompras de títulos pelo Tesouro Nacional.
No fim da tarde, a taxa do DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2026 estava em 15,06%, ante 15,478% no ajuste anterior. Já a taxa do contrato para janeiro de 2027 marcava 15,3%, com queda de 65 pontos-base ante o ajuste anterior de 15,955%.
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2029 estava em 14,965%, em queda de 67 pontos ante os 15,639% do ajuste anterior, e o contrato para janeiro de 2031 tinha taxa de 14,67%, ante os 15,299% da quarta-feira.
Por mais uma sessão, os investidores estavam focados na tramitação das medidas de contenção de gastos do governo no Congresso, com as notícias sobre a questão gerando estresse no mercado na abertura, o que contribuiu para a alta momentânea dos prêmios de risco do país.
Os agentes reagiam ao adiamento, na véspera, da votação da Proposta de Emenda à Constituição que restringe o acesso ao abono salarial, projeto que faz parte do pacote de ajuste fiscal, com o mercado temendo a desidratação ou rejeição da medida pelos parlamentares.
Algumas taxas apresentaram altas de 50 pontos-base durante a manhã, em reflexo dos receios com a trajetória das contas públicas. Mas ao longo do pregão, uma série de eventos contribuiu para o alívio dos juros futuros.
A forte intervenção no câmbio realizada pelo Banco Central mais cedo, com a venda de 8 bilhões de dólares à vista em dois leilões separados em meio à desvalorização do real, teve efeito positivo na curva de juros, já reduzindo alguns dos prêmios de risco, com investidores aprovando a atuação da autarquia.
Também repercutiram bem no mercado falas consideradas positivas do futuro presidente do BC Gabriel Galípolo durante coletiva de imprensa do Relatório Trimestral de Inflação, quando ele defendeu a meta de inflação e um ajuste fiscal contínuo e rejeitou a ideia de um ataque especulativo contra a moeda brasileira.
Em outro impulso, o Tesouro Nacional voltou ao mercado nesta quinta para realizar a recompra de títulos públicos, obtendo mais de 7 milhões de títulos, que se somaram às 400.000 notas adquiridas na véspera, ajudando a derrubar as taxas futuras elevadas.
"Hoje estamos observando um respiro na curva de juros. Mais cedo a gente via contornos de estresse, mas aí tivemos movimento de recompra do Tesouro, que ajuda a mitigar essa volatilidade", disse Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.
"Ainda estamos em um patamar exacerbado, mas tivemos uma pequena devolução de prêmios, com o Tesouro mostrando que existe um comprador marginal", completou.
Notícias positivas do cenário fiscal chegaram durante a tarde, provocando quedas adicionais nas taxas.
Após o adiamento da véspera, a Câmara dos Deputados aprovou, em primeiro turno, o texto da "PEC do Abono", restando agora pendente a análise em segundo turno para que a matéria possa seguir ao Senado.
O retorno do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Brasília, após recuperação de uma cirurgia em São Paulo, também elevava o otimismo sobre a possibilidade de o pacote fiscal ser totalmente aprovado até o fim desta semana.
Segundo Spiess, no entanto, ainda há um problema de longo prazo a ser resolvido.
"Lula de volta em Brasília pode ter um efeito positivo na tramitação do pacote fiscal... sem dúvida pode ajudar mais do que atrapalhar. Tem pouco tempo para aprovar bastante coisa, mas o avanço tem sido notado", disse.
"Entretanto, isso não resolve todo o problema fiscal que se criou em termos de credibilidade e previsibilidade na trajetória do endividamento."
No cenário externo, os mercados ainda reagiam à decisão do Federal Reserve anunciada na véspera, quando as autoridades reduziram a taxa de juros, mas sinalizaram um afrouxamento monetário menor do que o esperado anteriormente para o próximo ano.
O rendimento do Treasury de dez anos --referência global para decisões de investimento -- subia 5 pontos-base, a 4,552%.