'Temos de buscar ações de reparação', diz presidente da Procter & Gamble Brasil
Pandemia acelerou necessidade de tomada de posições de governos, empresas e indivíduos, afirma executiva
Presidente da operação brasileira da multinacional de bens de consumo Procter & Gamble - gigante corporativo que faturou US$ 70 bilhões no ano passado -, a executiva Juliana Azevedo acredita que a pandemia de covid-19 aumentou a exigência de posicionamento de grandes companhias ao redor do mundo, pois atingiu de forma desproporcional justamente os grupos sociais mais frágeis. "Temos de trabalhar por ações afirmativas e reparadoras", afirma.
A pandemia acelerou a necessidade de se adotar causas?
Sim. A pandemia e o assassinato de George Floyd (que foi morto por um policial nos EUA) realmente catapultaram a tendência da sociedade em tomar posição. Não basta você não ser racista, você tem de ser antirracista, tem de trabalhar por ações afirmativas e reparadoras.
E é inevitável que uma grande companhia adote isso hoje?
Eu tenho a sorte de atuar em uma empresa que há muito tempo pensa em propósito. Desde o século 19, mulheres já estavam nas gerências de fábricas da P&G. E temas da comunidade LGBTQIA+ já eram tratados, com outra nomenclatura, desde os anos 1970. Então, temos essa preocupação vindo de dentro. E a pandemia acelerou isso: a consciência de que a responsabilidade de uma empresa não é só funcional. Adotar causas sociais é um caminho que não tem volta. O momento é uma oportunidade de intensificar isso, de trazer outras empresas (para o debate).
O que a P&G já conseguiu construir, internamente, em termos de diversidade?
Temos 40% de mulheres (na nossa equipe), 50% na liderança de gerência para cima e 50% entre os CEOs (das operações ao redor do mundo). Nós temos uma fluidez em relação a esse assunto, mas não temos medo de apresentar nossas vulnerabilidades. Agora, temos o desafio de ter 100% de nossas embalagens plásticas recicláveis ou feitas de material reciclado.
Com o movimento #PrideSkill, a P&G quer servir de exemplo a outras empresas?
A gente vê nossa posição com responsabilidade, no sentido de que não temos apenas de manter (o ritmo), mas acelerá-lo. O desemprego na comunidade LGBTQI+ é de mais de 20%, enquanto o da população em geral é de 14,4%. As minorias - e também as maiorias minorizadas, como as mulheres - acabam sofrendo mais em tempos de crise como o atual.
Qual é o objetivo da plataforma de diversidade?
O aspecto (da orientação sexual) é parte do que as pessoas são. E há, sem dúvida, um preconceito estrutural. Tanto que 30% das empresas dizem que não contratariam (pessoas LGBTQIA+) para cargos de alta liderança. Então, nossa campanha é para sugerir e recomendar que as pessoas coloquem em seu currículo a questão do #PrideSkill como uma habilidade. É um programa de longo prazo. Muitas das nossas intervenções sociais têm se tornado plataformas para promover transformações duradouras. E estamos preocupados também com a comunidade trans, que é um grupo (dentro da comunidade) que sofre ainda mais.