Tempo seco e lavoura envelhecida reduzem safra de cana 18/19 no centro-sul, diz FCStone
A moagem de cana no centro-sul do Brasil deve alcançar 573,9 milhões de toneladas na atual safra 2018/19, o menor volume desde 2014/15, projetou nesta sexta-feira a INTL FCStone, citando o tempo seco e o envelhecimento dos canaviais como razões para esse cenário.
A quantidade, caso se confirme, ficaria abaixo dos 596,3 milhões de toneladas do ciclo 2017/18, além de representar um corte em relação à estimativa anterior da consultoria, de 587,7 milhões de toneladas.
"É indiscutível que o tempo seco de fato afetou significativamente as lavouras do centro-sul. Entre os meses de fevereiro e junho, a precipitação sobre o cinturão canavieiro registrou 378 mm, 31,4 por cento abaixo do ano passado e 33,4 por cento a menos do que a média histórica", comentou o analista de mercado da INTL FCStone, João Paulo Botelho, em nota.
Ele ponderou, contudo, que a falta de chuvas "não está espalhada" por todo o centro-sul, principal região produtora do maior player global do setor sucroenergético.
"A seca se concentra nos Estados de São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul. Embora sejam responsáveis por 73 por cento da área projetada, a quebra dentro desses Estados não é generalizada. Na importante região canavieira de Araçatuba (SP), por exemplo, as chuvas no acumulado do ano estão maiores em relação à média histórica", comentou.
A estiagem, contudo, tende a favorecer a concentração de Açúcares Totais Recuperáveis (ATR), que deve alcançar 139,1 kg por tonelada de cana processada nesta safra.
A consultoria alertou que o envelhecimento dos canaviais, após anos de dificuldades financeiras entre as usinas, também responde pela perspectiva de baixa produtividade. Na atual safra, a idade média das plantações é de 3,7 anos, contra 3,3 anos em 2014, quando outra forte seca afetou o centro-sul.
PRODUTOS
A INTL FCStone prevê que as usinas do centro-sul do Brasil destinarão cerca de 60 por cento da oferta de cana desta safra para a produção de etanol, cuja remuneração está mais atrativa, com a fabricação de álcool hidratado prevista em um recorde.
A consultoria prevê produção de 28,2 bilhões de litros de etanol de cana em 2018/19, contra 25,6 bilhões na temporada anterior e 27,7 bilhões na última projeção. Desse volume, 18,8 bilhões de litros seriam de hidratado, usado diretamente nos tanques dos veículos, e 9,5 bilhões de anidro, misturado à gasolina.
Também é esperada a produção de 1,1 bilhão de litros de etanol de milho, mais que o dobro ante 2017/18.
O etanol vem se mostrando atrativo às usinas desde o ano passado, na esteira de mudanças tributárias no Brasil e do enfraquecimento das cotações internacionais do açúcar.
"A paridade entre os dois produtos continua favorecendo o etanol, mesmo em uma época do ano em que este produto normalmente remunera pior em função de sua sazonalidade de preços", afirmou Botelho.
Quanto ao açúcar, a INTL FCStone prevê agora produção de 30,4 milhões de toneladas nesta safra no centro-sul, de 36,1 milhões no ano passado e 31 milhões na previsão anterior.
OFERTA GLOBAL
A menor produção de açúcar no centro-sul do Brasil deve ser compensada pela de outros países, levando a superávits nas safras globais 2017/18, que se encerra em setembro, e 2018/19.
Para o atual ciclo, a expectativa é de excedente de 10,8 milhões de toneladas, enquanto para o próximo, de 7 milhões. Anteriormente, a consultoria estimava 10,9 milhões e 7,2 milhões de toneladas, respectivamente.
"As expectativas de queda na produção do cinturão canavieiro brasileiro devem ter impacto marginal sobre os elevados estoques de açúcar no ciclo 2017/18. Ademais, os efeitos de um mix mais alcooleiro sobre o saldo global foram compensados por novos aumentos na Índia e Tailândia", destacou Botelho, apostando em uma produção indiana de mais de 32 milhões de toneladas.
Conforme ele, os estoques globais de açúcar ao término da safra 2018/19, em setembro do ano que vem, deverão ser de 89,4 milhões de toneladas, o equivalente a 48 por cento da demanda anual estimada. Trata-se do maior nível da relação estoques/uso da série histórica da INTL FCStone, iniciada em 2001/02.