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Tombo da Petrobras apaga ganhos recordes recentes e reforça temor de ingerência do governo

Ações da estatal caíram 10% nesta sexta-feira, um dia após anúncio de que dividendos extras ficariam retidos; dúvidas entre investidores não se dissiparam mesmo com esclarecimentos de Prates

8 mar 2024 - 19h39
(atualizado em 9/4/2024 às 11h30)
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A Petrobras foi o centro das atenções do mercado nesta sexta-feira, 8, um dia após a publicação de seu balanço financeiro de 2023. Apesar de a estatal ter reportado o segundo maior lucro da sua história (R$ 124,6 bilhões), ainda que em queda de 33,8% frente ao recorde de 2022, a frustração dos investidores em relação ao corte de dividendos extraordinários dominou a cena e pesou sobre os ativos, levando a baixa de 10,57% (ON) e 10,37% (PN). O mercado esperava algo entre US$ 3 bilhões e US$ 9 bilhões de dividendos extras.

A decisão da maioria do conselho de administração da estatal de mandar o lucro remanescente do quarto trimestre para uma reserva de remuneração de capital, e não para dividendos extraordinários, fez com que a empresa perdesse R$ 56 bilhões em valor de mercado em um único dia. No pior momento, a perda chegou a mais de R$ 70 bilhões.

Mesmo após o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, esclarecer aos acionistas que os dividendos extraordinários retidos não serão usados para investimentos ou para pagar dívidas, o temor do mercado sobre o risco da alocação do capital e a possível influência do governo nas decisões não se dissiparam.

"Essa novela (dos dividendos) continua, não acabou", disse o executivo, indicando que a reserva será usada apenas para pagamento de dividendos e que isso pode ocorrer "a qualquer momento".

Petrobras teve forte queda nesta sexta na B3, após divulgação do balanço de 2023
Petrobras teve forte queda nesta sexta na B3, após divulgação do balanço de 2023
Foto: Paulo Vitor / Estadão / Estadão

Somado a isso, a Petrobras também teve as recomendações de compra alteradas por pelo menos três bancos: Bank of America (BofA), Bradesco BBI e Santander, que rebaixaram as ações para neutra. Agora, a estatal passa a valer R$ 477,5 bilhões, apagando todos os seis recordes que havia alcançado em fevereiro.

"O dia foi bastante agitado, com o Ibovespa já iniciando em queda de quase 2% e cedendo 2 mil pontos. Mas conseguiu reduzir as perdas ao longo da tarde, ficando em torno de 1%. Com o movimento negativo gerado em Petrobras, outra estatal importante, Banco do Brasil, também acabou pagando o pato", diz Nilson Marcelo, analista quantitativo da CM Capital, referindo-se ao temor de ingerência do governo em empresas de economia mista. O Banco do Brasil (ON) fechou em baixa de 0,98%.

Para Lucas Serra, analista da Toro Investimentos, há o temor no mercado sobre a retenção de caixa na companhia que poderia ser distribuído aos acionistas. "Fica a dúvida se pode gerar o retorno mínimo requerido pelos investidores, ou se haverá destruição de valor para os acionistas", afirma.

A percepção de risco também aumentou devido a novas declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no sentido de transformar aumento de arrecadação em mais gasto público. Nesse cenário, o dólar à vista subiu 0,96%, a R$ 4,9811, enquanto os juros futuros mostraram elevação, com destaque para os vencimentos de janeiro de 2027 e de 2029.

Com o tombo da Petrobras, o mercado optou por uma troca de posição dentro do mesmo setor e voltou sua atenção compradora para as petrolíferas juniores. Enquanto a Petrobras dominou a ponta negativa do índice, as três petroleiras menores marcaram presença no campo de maiores altas do Ibovespa: 3R Petroleum subiu 4,28%, seguida de PetroReconcavo (+3,14%) e Prio (+3,11%). O desempenho das juniores também destoa da baixa de mais de 1% dos contratos futuros do petróleo./Com Caroline Aragaki, Amélia Alves e Luís Eduardo Leal

Estadão
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