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Trabuco: Brasil tem potencial, mas precisa de líder reformista e inspi

30 ago 2018 - 20h23
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O Brasil tem potencial para virar a página atual de baixa atividade econômica, mas precisa conseguir reverter a descrença existente em torno da sua capacidade de reinvenção, segundo o presidente do Conselho de Administração do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi. Para capitanear essa virada e fazer o País voltar ao radar dos investidores internacionais, o executivo diz ser necessário um candidato reformista, com um perfil que agregue quem perder na urna e que sirva de inspiração para indivíduos e empresas.

"O ano que vem é reforma, mas também inspiração. O período eleitoral é um momento em que as paixões afloram. Mas terminada a eleição, o líder tem de ser agregador. Eu acredito nisso", avaliou Trabuco, em entrevista exclusiva ao Broadcast, plataforma de notícias em tempo real do Grupo Estado, durante evento de premiação, em São Paulo.

Na sua visão, um dos principais desafios do próximo governo é elevar a taxa de investimento do País para permitir que a atividade econômica cresça num ritmo maior. Atualmente, conforme Trabuco, a taxa de investimento no Brasil está abaixo de 15% do Produto Interno Bruto (PIB). No entanto, neste patamar, pontua o executivo, o investimento é insuficiente para gerar crescimento ao País.

"Precisamos retomar o investimento ao redor de 20% do PIB. Agora, para que isso aconteça, só tem um jeito: ou você aumenta a taxa de investimento do Estado, o que não é possível, aumenta a taxa de poupança interna ou absorve poupança externa", disse ele.

Uma liderança inspiradora, conforme Trabuco, vai despertar o que John Maynard Keynes batizou de "o espírito animal" do investimento, com as pessoas investindo nas suas próprias empresas. E então, segundo o executivo do Bradesco, será possível ao Brasil retomar um círculo virtuoso que ficou distante em meio à crise. Até mesmo porque, conforme ele, o consumo será um dos motores do crescimento no Brasil, "mas o consumo pelo consumo", como visto no passado, servirá apenas para um "voo curto" no País.

Se a futura administração, de acordo Trabuco, conseguir uma solução para a dúvida que as eleições podem gerar, o País atrairá um maior volume de investimentos. Ele reforçou ainda a necessidade de o Estado ficar de lado neste processo, à medida que precisa recuperar seu equilíbrio fiscal, deixando que as grandes obras de infraestrutura sejam absorvidas pela iniciativa privada. Esse é o caminho, na sua opinião, para crescimento do PIB e geração de renda e emprego. "Não há outra fórmula", segundo Trabuco.

O Brasil, contudo, na sua opinião, tem condições de ter uma arrancada muito mais sólida que outros países que enfrentam desafios maiores, como uma dívida externa impagável, inflação não medida, guerras, problemas religiosos e migratórios. A ausência desses problemas, segundo ele, dá ao Brasil uma condição "muito boa e muito positiva".

Trabuco mencionou que, ao conversar com investidores essa semana, inclusive asiáticos, disse a eles "com muita clareza, porque é o que acredito", que o PIB no Brasil hoje não é suficiente para poder melhorar as condições gerais (do País), mas que o seu potencial está bem acima do patamar atual. "O PIB potencial brasileiro é muito maior do que a gente possa estimar e é um PIB potencial que vai ser alavancado em cima das empresas crescerem, investirem em infraestrutura, das pessoas melhorarem suas vidas, reformarem suas casas", reforça Trabuco.

No início do mês, o Bradesco revisou para baixo novamente projeção para o crescimento do PIB neste ano. A estimativa da equipe econômica do banco passou de alta de 1,5% para 1,1%, levemente superior à taxa de expansão da economia em 2017, de 1,0%. Até junho, entretanto, o Bradesco esperava crescimento de 2,5% para a economia neste ano. Para 2019, o banco demonstra maior otimismo e projeta expansão dos mesmos 2,5% para o PIB brasileiro.

Em relação à tentativa do governo atual de emplacar, passadas as eleições, medidas do ajuste fiscal que não foram adiante, Trabuco afirmou que, independentemente do calendário eleitoral, propostas que possam facilitar um Brasil a partir de 2019 seriam "desejáveis". Também reforçou a necessidade de o País fazer uma reforma fiscal para não só equacionar seu déficit orçamentário, que neste ano está previsto em até R$ 159 bilhões, mas voltar a crescer. Embora a reforma da Previdência não traga reflexos no curto prazo, Trabuco diz que mudará muito a perspectiva de médio e longo prazos, uma vez que ajudará a equacionar o balanço fiscal do governo, fundamental para o Estado voltar a investir.

Eleições

Do lado do crédito, porém, o presidente do Conselho de Administração do segundo maior banco privado do País afirma que a demanda de pessoas físicas e a necessidade de as empresas renovarem seus estoques geraram um aumento na procura por empréstimos. Ponderou, contudo, que as eleições são um divisor de águas para uma maior expansão e que a retomada da economia é essencial para que a leva de renegociações que os bancos fizeram com grandes empresas por conta da crise seja sustentável no médio e longo prazos.

"O crédito teve um desempenho muito restritivo nos últimos anos em função da recessão. Não foi devido a oferta. Foi em função da demanda. O momento é de olharmos com expectativas 2019, que tende a ser melhor pelas definições do ambiente político", destacou Trabuco.

A carteira de crédito expandida do Bradesco, que considera títulos de dívida corporativa, como debêntures, por exemplo, encerrou junho com saldo de R$ 515,635 bilhões, expansão de 6,0% em relação ao fim de março e de 4,5% em um ano. No segundo trimestre, tanto no segmento de pessoas físicas quanto no de jurídicas houve crescimento dos empréstimos.

Sobre o crédito voltar a ser o motor para o lucro dos grandes bancos no País em 2019, uma vez que essas instituições ainda têm se valido mais do menor gasto com inadimplência para impulsionar seus resultados, Trabuco disse que a queda das provisões para devedores duvidosos, as chamadas PDDs, significa que as empresas mais solventes passaram a liquidar seus empréstimos e os bancos fizeram uma limpeza dos créditos problemáticos.

"A educação financeira, até provocada por uma coisa que é muito ruim, que é o desemprego, fez com que o endividamento da pessoa física, das famílias, incluindo o crédito imobiliário, chegasse a 21% da renda anual. Isso dá condições de termos um crescimento muito forte no crédito. Agora, a pessoa física ou a empresa só tomam crédito com a perspectiva de médio e longo prazos", acrescentou.

Trabuco foi reconhecido, nesta semana, como personalidade do ano no setor financeiro pelos 75 anos de contribuições do Bradesco para o desenvolvimento do segmento no Brasil, na 17ª edição do Prêmio Learning & Performance Brasil, promovido pela MicroPower e pelo Institute for Learning & Performance. Desses, o executivo, aos 67 anos, dedicou 50 anos ao banco.

Estadão
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