Três quartos das grandes empresas têm programas antissuborno e antilavagem de dinheiro, diz pesquisa
Dados foram revelados por pesquisa da consultoria Kroll com 50 executivos de grandes companhias que atuam no País
RIO - Passados alguns anos desde que a Operação Lava Jato investigou esquemas de pagamento de suborno por empresas a políticos, e sistemas de lavagem de dinheiro para ocultar as operações, uma pesquisa da consultoria Kroll com 50 executivos de grandes companhias que atuam no País revela que 73% dos entrevistados relataram manter programas antilavagem de dinheiro (AML, na sigla em inglês) e antissuborno e corrupção (ABC, também em inglês).
Mais do que isso, chamou a atenção que 69% dos entrevistados da América Latina - 100 executivos do Brasil e do México - responderam que consideram seus programas de prevenção eficazes. Emanuel Batista, diretor de risco de conformidade e diligência da consultoria de gestão de riscos e investigações corporativas, destacou os motivos citados pelos entrevistados para considerar esses programas eficazes. No Brasil, 62% disseram recorrer a auditorias internas, 26% citaram revisões por auditorias externas e 62% afirmaram não ter incidentes de suborno ou corrupção identificados.
"Não é só ter programa de 'compliance'. Uma coisa é ter um programa, que você pode baixar na internet, para 'inglês ver'. O interessante é que há casos em que foi comprovado por auditorias que o programa funciona", afirmou Batista.
O "Relatório de Benchmarking de Antissuborno e Corrupção Global 2022", da Kroll, foi lançado globalmente semana passada, com dados extraídos a partir de entrevistas com 700 executivos de 14 países. Pela primeira vez, o relatório colheu a percepção de profissionais da América Latina, com 50 entrevistados no Brasil e outros 50 no México.
Para Batista, embora o relatório não traga dados históricos sobre o Brasil, já que foi a primeira vez que se debruçou sobre o cenário nacional, é possível perceber uma mudança de postura das empresas após a Operação Lava Jato. Tradicionalmente, o trabalho da Kroll no Brasil sempre foi mais focado em investigações corporativas, ou seja, a demanda partia de clientes que identificavam algum incidente e procuravam enfrentar o problema.
Mais recentemente, continuou o diretor da consultoria, aumentou o número de clientes brasileiros que procuram a Kroll para um trabalho mais "pró-ativo". Ou seja, há um crescimento da demanda por consultoria para montar programas de conformidade, que procurem prevenir os problemas.
Na visão global, o relatório destaca que o segundo ano de pandemia foi marcado por uma "calmaria" em ações de fiscalização, com destaque para as capitaneadas pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos e pelo órgão regulador de valores mobiliários americano (SEC), ao mesmo tempo em que os choques da covid-19 nas cadeias de produção e na geopolítica foram reforçados pela invasão da Ucrânia pela Rússia. O conflito no Leste Europeu tende a impactar as políticas de conformidade das empresas por causa das sanções econômicas aplicadas por países ocidentais à Rússia.
"Nossa pesquisa revelou que, apesar desses desafios e incertezas, as companhias, na média, continuam confiantes na eficácia de seus programas antissuborno e corrupção", diz a introdução do relatório da Kroll.
Segundo Batista, as sanções econômicas contra a Rússia colocam os programas de conformidade à prova porque têm o potencial de obrigar as companhias, especialmente as multinacionais que têm fornecedores mundo afora, a trocarem rapidamente as empresas que integram sua cadeia de suprimentos. Muitas vezes, essas trocas passam por fazer diligências para verificar se novos candidatos a fornecedor cumprem requisitos mínimos, inclusive em relação a práticas ilegais, como suborno e corrupção.