'Tudo que queremos consumir de forma mais barata, alguém vai pagar no futuro', diz sócio da Mercur
Prestes a completar cem anos, empresa promoveu uma guinada sustentável e mudou forma de comprar borracha
Em vez de decidir quase tão somente pelo preço, escolher o que é mais sustentável na hora de comprar matéria-prima. E evoluir no conceito com a busca ativa de fornecedores que tiram o látex de seringueiras nativas, provocando menos impacto socioambiental. Essa virada de chave hoje dá o tom do processo de produção da quase centenária Mercur, marca que provavelmente fez parte de sua vida escolar, gravada em borrachas branquinhas, verdes ou bicolores, daquelas com o lado vermelho maior do que o azul.
"Decidimos parar de usar a borracha sintética ou diminuir muito o uso, independentemente do preço", diz Jorge Hoelzel Neto, integrante da terceira geração da empresa familiar criada em 1924. "Tudo que pagamos barato, tudo que queremos consumir de forma mais barata, alguém está pagando ou vai pagar no futuro."
A mudança começou em 2008. Com a demanda por responsabilidade ambiental crescendo, a fábrica com sede em Santa Cruz do Sul (RS) contratou uma consultoria especializada. "A empresa não tinha praticamente nenhum indicador ambiental, embora seguisse a legislação já naquela época", lembra Hoelzel Neto. A produção utilizava borracha sintética, resultante da separação de produtos químicos derivados de petróleo e do gás natural, sempre que o preço dessa matéria-prima estava mais baixo do que o da seiva das seringueiras.
Mais recentemente, a Mercur vem chamando atenção ao comprar o látex diretamente dos seringueiros que trabalham na Reserva Extrativista do Iriri e da Terra Indígena Xipaya, localizadas na região da Terra do Meio, no Pará. Em entrevista ao Estadão, Hoelzel Neto conta mais sobre o projeto Borracha Nativa, que garante renda para 933 produtores locais, e sobre o processo de transformação da empresa.