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Ucrânia fecha a torneira do gás russo que abastece a UE

30 dez 2024 - 20h31
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Em retaliação contra a guerra, Kiev não renova acordo que permitia a passagem do gás russo por seu território mediante pedágio. O que isso significa para o bloco?Por enquanto, o gás russo ainda flui pela Ucrânia em direção à União Europeia (UE). É um bom negócio para o Kremlin, que além de ganhar dinheiro também quer se mostrar indispensável ao bloco. Já para a Ucrânia, que ruma para o seu quarto ano de guerra, o arranjo com o país agressor era um pedágio.

Trecho húngaro do gasoduto russo Druschba, que corta a Ucrânia; UE diz estar preparada para fim do acordo, mas há quem esteja disposto a mantê-lo de pé
Trecho húngaro do gasoduto russo Druschba, que corta a Ucrânia; UE diz estar preparada para fim do acordo, mas há quem esteja disposto a mantê-lo de pé
Foto: DW / Deutsche Welle

Era, porque Volodimir Zelenski já avisou que não renovará o acordo, que expira em 31 de dezembro. A Ucrânia não permitirá à Rússia que fature "bilhões extras" enquanto continua sua guerra de agressão, disse o presidente ucraniano em 19 de dezembro em Bruxelas.

O fim do acordo foi confirmado pelo presidente russo Vladimir Putin. Ele disse estar confiante de que a estatal Gazprom aguentará o baque: "Vamos sobreviver, a Gazprom vai sobreviver."

Não se sabe, contudo, como isso afetará a situação de abastecimento nos países da União Europeia que não têm costa e, portanto, não têm como importar gás pela via marítima. Áustria, Hungria e Eslováquia ainda são abastecidas pelo gás russo que vem da Ucrânia - e principalmente esses dois últimos países querem manter seu fornecedor.

Uma longa história

Até o começo da guerra na Ucrânia, a Rússia era o maior exportador de gás do mundo e a Europa, seu cliente mais importante. Os governos europeus priorizaram o acesso a energia barata e colocaram isso acima de quaisquer preocupações em fazer negócios com a União Soviética e, anos mais tarde, com Putin.

Na época da Guerra Fria, a União Soviética precisava desesperadamente de dinheiro e equipamentos para explorar jazidas de gás na Sibéria. Ao mesmo tempo, a Alemanha Ocidental precisava de energia barata para sua economia em ascensão. Em 1970, os dois governos assinaram um pacto que previa a entrega de milhares de quilômetros de tubos alemães em troca do transporte do gás russo para a Europa Ocidental.

Essa interdependência no mercado de energia persiste até hoje, já que os importadores europeus muitas vezes têm contratos de longo prazo, dos quais não podem se desvencilhar facilmente.

Além disso, a mudança seria cara, já que os estoques de gás disponíveis no mercado global devem continuar escassos por pelo menos mais um ano, segundo a agência de notícias Bloomberg. Grande parte do gás disponível para importação na Europa já estaria comprometida com países que, nos últimos anos, fecharam usinas nucleares e de carvão.

Dependência do gás russo vem de anos

Em 2023, a UE importou cerca de 1 bilhão de dólares (R$ 6,19 bilhões) por mês em combustíveis fósseis russos, segundo o think tank belga Bruegel. No início de 2022, esse valor era de 16 bilhões de dólares (R$ 99,04 bilhões).

A Rússia ainda respondia em 2023 por 15% do total de gás importado pelo bloco, segundo a Comissão Europeia, mas ficou atrás da Noruega, dos Estados Unidos e dos países africanos, com 30%, 19% e 14%, respectivamente. A maior parte do gás russo fluiu por gasodutos na Ucrânia e na Turquia.

Os maiores compradores de gás russo na UE são Áustria, Eslováquia e Hungria. Grandes consumidores de energia como Espanha, França, Bélgica e Holanda importam GNL russo enviado por navios - uma parte é misturada a outras fontes de gás na rede europeia de dutos, e possivelmente vem parar também na Alemanha.

Preços de energia nas alturas

Os preços de energia subiram em 2022, chegando a custar até mesmo 20 vezes mais, segundo o think tank Bruegel. Esse cenário levou algumas fábricas europeias a reduzir seu ritmo de produção e várias pequenas empresas à falência.

E mesmo que os preços tenham caído desde então, eles continuam acima do nível pré-crise, comprometendo a competitividade da indústria europeia, principalmente na Alemanha. Essa é uma das razões pelas quais empresas como a Volkswagen e a Basf estão em dificuldades.

O aumento dos custos de calefação e energia também afeta as pessoas comuns, que tentam diminuir seu consumo para manter as despesas sob controle. Quase 11% dos cidadãos da UE não puderam manter suas casas suficientemente aquecidas em 2023 por causa disso, segundo a Comissão Europeia.

UE se mostra despreocupada

Na União Europeia, não há sinais de incômodo com o fim do acordo para o trânsito de gás russo pela Ucrânia. Isso já teria sido calculado nos mercados europeus de gás, segundo uma análise do bloco repercutida recentemente pela Bloomberg. O documento é um sinal tranquilizador aos países do bloco e aos mercados; a UE será capaz de encontrar alternativas, o fim do acordo já teria sido calculado nos preços do gás para o inverno, asseguram os autores.

"Com uma produção anual de mais de 500 bilhões de metros cúbicos de GNL, a substituição dos cerca de 14 milhões de metros cúbicos de gás russo transportados via Ucrânia deve ter pouco impacto no preço do gás na UE", diz trecho do documento citado pela Bloomberg.

A UE sustenta já há bastante tempo que os países que ainda importam gás russo via Ucrânia - principalmente a Áustria e a Eslováquia - podem sobreviver sem essa cota, e que por isso não vai negociar a manutenção do acordo.

Desde agosto de 2022, os países da UE já teriam conseguido diminuir em 18% sua demanda por gás em relação aos cinco anos anteriores, argumenta a Comissão Europeia. Além disso, o órgão afirma que os Estados Unidos vão aumentar sua capacidade de fornecimento de GNL nos próximos dois anos. A avaliação oficial é que o cenário mais provável é a interrupção completa do fluxo de gás russo pela Ucrânia, para o qual a UE já está "bem preparada".

Nem todos na UE estão satisfeitos

Ainda assim, as preocupações persistem, especialmente para os governos da Hungria e da Eslováquia, que temem problemas no abastecimento e na relação com a Rússia.

A Hungria tenta manter as importações de gás via Ucrânia apesar de estar sendo abastecida no momento por um gasoduto via Turquia, segundo o primeiro-ministro Viktor Orbán.

Ele, que não quer abrir mão da rota, sugere que o gás seja comprado antes de cruzar a fronteira russa. "Estamos tentando um truque. E se o gás, ao chegar à Ucrânia, já não fosse mais russo, mas propriedade dos compradores? Assim, o gás que entraria na Ucrânia não seria russo, mas húngaro", afirmou, de acordo com a agência de notícias Reuters.

A Eslováquia vai além e ameaça retaliar a Ucrânia pelo fim do acordo. Uma das hipóteses cogitadas pelo primeiro-ministro Robert Fico em um vídeo publicado no Facebook é a suspensão do fornecimento emergencial de energia elétrica à Ucrânia. Em reação, Zelenski acusou Fico de agir a mando de Putin.

Fico é um dos maiores opositores na UE ao apoio à Ucrânia. Em visita surpresa a Moscou em dezembro, ele disse ter ouvido de Putin a confirmação de que a Rússia está disposta a continuar enviando gás à Eslováquia.

Deutsche Welle A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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