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UE tem "motor falho" às vésperas da posse de Trump

6 jan 2025 - 17h56
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Alemanha e França não terão governos estáveis no momento em que Donald Trump retornar à Casa Branca. Isso pode levar a grandes problemas de política econômica e financeira.Muito antes de tomar posse, em 20 de janeiro de 2025, Donald Trump já lançava ameaças aos europeus ao dizer que irá aumentar as tarifas sobre seus produtos, reduzir o apoio à Ucrânia e rediscutir o financiamento da Otan.

Alemanha e França são considerados os "motores da UE", por possuírem as maiores populações e as maiores economias da UE
Alemanha e França são considerados os "motores da UE", por possuírem as maiores populações e as maiores economias da UE
Foto: DW / Deutsche Welle

Para fazer frente às turbulências que se aproximam, seria importante que os 27 países da União Europeia (UE) demonstrassem unidade e falassem a uma só voz. Mas, no momento em que Trump se tornar presidente, a Alemanha e a França não terão governos estáveis.

Os dois países são frequentemente chamados de os "motores da UE", por possuírem as maiores populações e as maiores economias do bloco.

Governos sem maioria em Berlim e Paris

Na Alemanha, o governo do chanceler federal Olaf Scholz é composto por social-democratas e verdes, após o colapso da coalizão governista que resultou na perda da maioria no Parlamento. Somente as eleições antecipadas, marcadas para 23 de fevereiro de 2025, poderiam garantir novamente condições estáveis de governabilidade.

De acordo com as pesquisas de opinião, nenhum partido alcançará a maioria absoluta, o que implica na abertura de negociações para a formação de uma futura coalizão. Ou seja, serão necessários provavelmente ao menos dois meses após a posse de Trump até que a Alemanha tenha um governo capaz de agir.

Na França, a instabilidade poderá se prolongar ainda mais. Segundo os prazos estabelecidos pela Constituição francesa, novas eleições não serão permitidas antes de julho de 2025. Até lá, o país terá de lidar com a maioria pouco clara que resultou das últimas eleições, em julho de 2024.

Há três grandes blocos na Assembleia Nacional francesa, nenhum dos quais tem uma maioria capaz de governar: o populista de direita Reunião Nacional (RN), a aliança de esquerda Nova Frente Popular (NFP) e, no centro, a coligação Juntos liderada pelo presidente Emmanuel Macron e seus aliados.

"A situação é altamente instável. Não há maioria no Parlamento. Os três blocos não querem trabalhar juntos", explicou Claire Demesmay à DW. A cientista política é professora do Instituto de Estudos Políticos de Paris (Science Po) e pesquisadora do Centro Marc Bloch, uma instituição franco-alemã de ciências sociais sediada em Berlim.

Demesmay avalia que, na Alemanha, os partidos devem tentar formar uma coligação, enquanto na França "não existe uma cultura de compromisso. A cultura política francesa é muito conflituosa. Isso torna muito difícil encontrar uma maioria para formar um governo."

Orçamento no centro da disputa

Recentemente, o ex-primeiro-ministro conservador da França Michel Barnier fracassou em sua tentativa de aprovar um projeto para o Orçamento do país no Parlamento. Seu governo entrou em colapso em 4 de dezembro, quando os deputados aprovaram uma moção de desconfiança contra ele. Em 13 de dezembro, o presidente Macron nomeou o centrista François Bayrou como primeiro-ministro e o encarregou de formar um novo governo.

Também na Alemanha. o governo entrou em colapso devido a uma disputa sobre o Orçamento federal. Ambos os países, França e Alemanha, entraram em 2025 sem ainda terem aprovado um Orçamento.

"O que agrava ainda mais a situação é que, no que diz respeito às finanças públicas, as duas maiores economias da UE tomam rumos completamente opostos", afirma Carsten Brzeski, economista-chefe do banco ING, em entrevista à DW.

A França tem enormes dívidas e teria de poupar dinheiro, enquanto a Alemanha teria de gastar mais dinheiro e investir em sua infraestrutura desgastada. "A França teria de se tornar um pouco mais alemã e a Alemanha, um pouco mais francesa", observou Brzeski.

Dívida e freio da dívida

Depois da Grécia e da Itália, a França tem agora a terceira mais alta dívida nacional da zona do euro, enquanto a Alemanha excede por pouco o limite máximo estabelecido pela UE.

Quando se trata do orçamento doméstico, as diferenças não poderiam ser maiores. Na Alemanha, o déficit está abaixo do limite da UE de 3% doPIB.

Isso também se deve ao chamado "freio da dívida"; uma regra da Lei Fundamental alemã que estabelece limites rígidos ao montante de novos empréstimos que o governo alemão pode fazer por ano. Os contrários a essa regra dizem que os limites são apertados demais e pedem que eles sejam flexibilizados. Isso, no entanto, exigirá uma maioria de dois terços da nova legislatura no Bundestag (Parlamento alemão).

Na França, Bayrou enfrenta os mesmos problemas que seu antecessor. Ele almeja poupar cerca de 60 bilhões de euros (R$ 379 bilhões) com uma combinação de cortes nas despesas e aumentos de impostos, pois o rombo no Orçamento francês é enorme.

Segundo as previsões, o déficit chegou a 6% do PIB no final de 2024, ou seja, o dobro do que as regras permitem aos países da zona do euro. A França já é alvo, portanto, de um procedimento por déficit excessivo e deve informar regularmente a Comissão Europeia sobre a forma como pretende cobrir o rombo em seu orçamento.

O dilema de Bayrou é que, para cumprir as regras da UE, ele terá de poupar dinheiro. Mas para conseguir aprovar um Orçamento de austeridade no Parlamento, ele precisará de um governo com uma maioria sólida, o que não será possível pelo menos até a metade de 2025. "Isto é a quadratura do círculo", diz Claire Demesmay.

A reação dos mercados financeiros foi clara. O chamado prêmio de risco que a França tem de pagar pela sua dívida nacional subiu para o nível mais alto desde a crise da dívida do euro, que levou a união monetária europeia à beira do colapso em 2010.

O prêmio de risco expressa a forma como os credores avaliam a capacidade de um país de pagar suas dívidas no tempo devido. Mais recentemente, a França se viu em situação ainda pior do que a Grécia, que até há alguns anos era o maior problema financeiro da UE.

Rebaixamento nas agências de classificação

O golpe seguinte veio em meados de dezembro, quando a agência de classificação de risco Moody's rebaixou sua avaliação para a solvibilidade da França, o que tornou mais caro assumir novas dívidas. De acordo com a Moody's, a "fragmentação política" da França enfraquece sua posição fiscal e a impede de adotar medidas abrangentes para reduzir o déficit.

A economia francesa também já não funciona tão bem. O Banco Central prevê um crescimento de 1,1% em 2024. Para 2025, no entanto, a instituição reduziu sua previsão para 0,9%, citando o "aumento das incertezas" dentro e fora de França.

Na Alemanha, muitos ficariam felizes com essa performance. O Bundesbank (Banco Central alemão) projeta uma diminuição de 0,2% do PIB em 2024. Se isso se confirmar, será o segundo ano consecutivo de recessão.

As coisas só ficarão um pouco melhores em 2025, quando o Bundesbank prevê um pequeno aumento de 0,2%. Em outras palavras: a economia alemã está estagnada. O maior fator de incertezas é "possivelmente o aumento do protecionismo global", afirmam os economistas do Bundesbank.

Mercosul, o "pomo da discórdia"

Do ponto de vista alemão, um novo acordo de livre comércio poderia proporcionar alguma margem de manobra - por exemplo, entre a UE e os países do Mercosul (Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai), um pacto que criaria a maior zona de comércio livre do mundo, com cerca de 700 milhões de pessoas.

A Comissão Europeia encerrou a fase de negociação em dezembro, mas ainda não está claro se e como o acordo será ratificado pelos Estados-membros da UE. A única coisa certa é que a Alemanha e a França mantêm posições divergentes nesse tema. A França já deixou claro que é contra um acordo abrangente de livre comércio.

"A questão comercial é um clássico pomo da discórdia entre a Alemanha e a França", diz a cientista política Demesmay. "Na França, as pessoas são muito mais críticas em relação aos grandes acordos comerciais do que na Alemanha. Há um sentimento de que o futuro do país já não está nas suas próprias mãos, e isso é politicamente perigoso."

Como lidar com Trump?

A falta de unidade poderá se tornar um problema quando Donald Trump voltar à Presidência dos EUA. Já durante o seu primeiro mandato (2017-2020), os europeus muitas vezes pareciam não saber lidar lidar com as constantes novas declarações e postagens do americano.

Brzeski acredita que os europeus estão mais bem preparados hoje em dia do que há oito anos. Contudo, seria aconselhável que eles não apenas reagissem ao que Trump fizer. "Em vez disso, deveriam se concentrar em suas economias internas, investir em suas infraestruturas e avançar nas reformas estruturais."

Para Brzeski, uma coordenação estreita é essencial: "sabemos desde o passado que se as duas maiores economias não trabalharem em conjunto e promoverem o projeto europeu, o progresso na Europa será muito lento".

Deutsche Welle A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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