'Um referencial em diferentes fases da história do país', diz Fazenda sobre trajetória de Delfim Netto
Ex-ministro da pasta morreu na madrugada desta segunda-feira em decorrência de complicações de saúde
O Ministério da Fazenda lamentou nesta segunda-feira, 12, a morte do ex-ministro da pasta na ditadura Delfim Netto, aos 96 anos. O economista estava internado desde 5 de agosto no Hospital Israelita Albert Einstein em decorrência de complicações de saúde.
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"Delfim Netto foi um referencial em diferentes fases da história do país. Por décadas, fomentou debates essenciais sobre a condução da política econômica brasileira", diz trecho do comunicado da Fazenda, que tem como atual ministro Fernando Haddad.
Em comunicado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também lamentou a morte do ex-ministro, que foi conselheiro informal do presidente em seus dois primeiros governos. Em comunicado, Lula disse que Delfim foi um dos maiores defensores daquilo que seu governo fez em políticas de desenvolvimento e inclusão social.
"Durante 30 anos eu fiz críticas ao Delfim Netto. Na minha campanha em 2006, pedi desculpas publicamente porque ele foi um dos maiores defensores do que fizemos em políticas de desenvolvimento e inclusão social que implementei nos meus dois primeiros mandatos", diz Lula.
Quem foi Delfim Netto
Neto de imigrantes italianos, e de origem humilde, Delfim Netto foi professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP), e um dos mais longevos ministros da Fazenda no Brasil. Ele ocupou o cargo de 1967 a 1974, período da Ditadura Militar no país.
Também foi ministro do Planejamento entre 1979 e 1985, ministro da Agricultura em 1979 e embaixador do Brasil na França de 1975 a 1977.
Apesar de ter atuado durante o governo dos generais Costa e Silva, Emílio Garrastazu Médici e João Baptista Figueiredo, ele foi também um dos principais conselheiros de presidentes petistas e de empresários, após a redemocratização do Brasil.
Era ele que estava sob o comando da economia, entre 1967 e 1973, anos mais violentos da ditadura, quando o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 85% e a renda per capita dos brasileiros, 62%. Em 4 anos, Delfim saiu 18 vezes na capa da revista Veja, e era a figura do governo que mais aparecia nos jornais da época.
Delfim não só testemunhou como influenciou alguns dos momentos mais marcantes da história do Brasil. Estava presente (e votou a favor), no dia 13 de dezembro de 1968, quando o general Costa e Silva baixou o Ato Institucional número 5, decreto que acabou com liberdades políticas e deu poder de exceção a governantes para punir arbitrariamente os inimigos do regime. Foi protagonista do milagre econômico, que culminou mais tarde na crise do endividamento externo brasileiro. Viu a hiperinflação, a redemocratização, participou da Constituinte, criticou o Plano Real, ajudou o PT a chegar ao poder.
Após o fim do regime militar, participou das eleições em 1986 como candidato à Câmara dos Deputados. Em 2014, doou para a FEA-USP sua biblioteca pessoal, com mais de 100 mil títulos acumulados ao longo de 80 anos. (*Com informações do Estadão Conteúdo)