URV: moeda "virtual" do Plano Real completa 20 anos
Moeda transitória foi aprovada por medida provisória durante a implementação do Plano Real
Há exatamente duas décadas, em 27 de fevereiro de 1994, o governo brasileiro aprovava a medida provisória de número 434, que criaria a Unidade Real de Valor (URV), que começou a valer em 1º de março do mesmo ano. Lançada no período de transição entre o Cruzeiro Real e o Real, a medida de valor foi um estágio para a implementação da nova moeda. Ela garantia uma estabilização dos valores dos produtos, funcionava como uma referência de preços, embora tivesse variação diária.
Nos primeiros sete meses de 1994, o Brasil enfrentou uma inflação de 757,29%. O professor da Fundação Getúlio Vargas, Evaldo Alves, explica que diariamente o Banco Central anunciava o valor da URV, que imediatamente era reproduzido pelos jornais e canais de televisão. "Além dos preços dos produtos, a moeda norteava os gastos dos governos e os contratos", detalha. No primeiro dia em operação, a URV era equivalente CR$ 647,50 (cruzeiros reais).
A URV era uma moeda escritural, o que significa que ela não existia fisicamente, apenas nos balanços de empresas e documentos da época. Ela só foi substituída pelo Real em 1º de julho de 1994. Na equiparação das moedas, CR$ 2.750, o último valor da URV, tornou-se equivalente a R$ 1.
Alves afirma que a importância da URV para o Plano Real está relacionada a forma com que ela foi implementada no País. "A ideia de utilizar uma moeda transitória era tida como uma estratégia sofisticada, pois tratava-se de uma troca menos brusca, tal como foi feito na Alemanha hiperinflacionada de 1923", conta. Além disso, a moeda era escritural, mas era estável, foi ela que recuperou a imagem da moeda brasileira no exterior.
Sob gestão do então presidente Itamar Franco, com Fernando Henrique Cardoso como ministro da Fazenda, o novo Plano Real também previa mudanças como uma renegociação da dívida externa, preços e salários livres, salário mínimo reajustado anualmente (em 1994 ele era de R$ 70), além da aceleração do processo de privatização.
Após enfrentar uma inflação de 2.477,15% em 1993, o País viu uma queda para 244,86% nos últimos seis meses de 1994, com a circulação do Real. Em dezembro daquele ano, a economia brasileira ainda sofreu com a crise mexicana, que em uma tentativa de abertura comercial e financeira causou a desvalorização de sua moeda, o peso. A ação resultou em um déficit que abalou o México, a bolsa local e outros emergentes.