US$ 148 bilhões evaporaram do mercado de capitais em 2024
Elevação taxa de juros e política monetária tornarão 2025 de empresas listadas na B3 ainda mais desafiador
Com a taxa de juros em 14,25%, as empresas listadas na B3 terão dificuldades para atrair investimentos e gerar valor.
O cenário em 2025 para as companhias listadas na B3 não é dos mais otimistas. A decisão do Comitê de Política Monetário (Copom) do Banco Central de continuar subindo a taxa de juros, chegando a 14,25% em março de 2025, apontam que as companhias devem ter ainda mais dificuldades para atrair investimentos, expandir atuação e quitar seus débitos.
A questão é que com os juros tão alto, as empresas não conseguirão rentabilizar o capital em magnitude suficiente para ‘cobrir’ o custo do dinheiro nos níveis atuais (e do futuro próximo), o que reduz os investimentos, a atração de capital produtivo, entre outros efeitos colaterais. Em 2024, a política de juros somada a outros cenários fez com que US$ 148 bilhões evaporassem do mercado de capitais.
Quem explica a equação é Flávio Málaga, sócio fundador da Málaga Assessoria em Finanças Corporativas e Contabilidade Societária. O especialista, que também é professor no Insper, PhD em administração, e que atua em avaliação e emissão de opiniões técnicas em casos que envolvam cálculos de danos econômico-financeiros, estudou os números das 261 empresas listadas na B3 entre 1 de outubro 2023 a 30 de setembro de 2024, e concluiu que 75% delas (ou 196) obtiveram rentabilidade inferior a 13,5% ao ano em 2024.
Desse levantamento, considerando a taxa básica da economia, sua trajetória ascendente e o prêmio de risco que deve ser somado a ela, concluiu que a maioria das empresas não gera valor no Brasil. “Simplesmente elas não possuem modelos de negócios fortes o suficiente para entregar uma rentabilidade acima do custo do dinheiro que, por sua vez, é função da percepção de risco do país e da expectativa de inflação”, explica o professor.
Entre as 261 empresas listadas na B3 e com liquidez, 75% delas (ou 196) obtiveram rentabilidade inferior a 13,5% ao ano em 2024. Considerando a taxa básica da economia (11,25%), sua trajetória ascendente e o prêmio de risco que deve ser somado a ela, conclui-se que a maioria das empresas não gera valor no Brasil. Simplesmente elas não possuem modelos de negócios fortes o suficiente para entregar uma rentabilidade acima do custo do dinheiro que, por sua vez, é função da percepção de risco do país e da expectativa de inflação.
Outra conclusão de Málaga é que a rentabilidade média das 261 empresas foi de 7,76% ao ano, com 45 empresas gerando rentabilidade negativa. A mediana foi de 9,3%. De acordo com Flávio Málaga, para ser considerada com uma rentabilidade ótima, a companhia precisa ter como índice 20% ao ano.
O aumento do custo do dinheiro também se reflete no valor das empresas: o valor somado destas 261 empresas caiu desde o início do ano de US$ 554 bilhões para US$ 406 bilhões, queda de 27% em nove meses. Os US$ 148 bilhões em valor evaporaram do mercado de capitais em 2024. “Esta perda de valor possui alta difusão: foi gerada por 228 empresas (87% das 261), ou seja, é um fenômeno sistêmico, decorrente da conjuntura”, explica.
No mercado financeiro, uma Selic mais alta deixa a moeda mais cara, torna as condições para comprar a prazo ou pedir financiamentos e empréstimos mais difíceis, o custo de vida mais elevado e o apetite pela bolsa de valores diminui. Também é impactada a taxa de câmbio, além de reduzir a demanda dos investidores por ativos de risco.
“Neste caso, na renda variável, o maior custo de dívida das empresas pode influenciar a forma como investidores calculam o que seria o valor justo das ações das companhias listadas, diminuindo o apetite pela bolsa de valores”, afirma Flávio Málaga. “Ressalta-se que a taxa de juros não é causa, mas sim consequência de uma economia desestruturada. Cabe ao Governo compreender as causas e atuar sobre elas.”
(*) Homework inspira transformação no mundo do trabalho, nos negócios, na sociedade. É criação da Compasso, agência de conteúdo e conexão.