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'Vamos negociar imposto zero para carne na cesta básica', diz Pedro Lupion

Presidente da bancada do agro afirma que postura do presidente Lula cria ruído para o projeto

6 jul 2024 - 17h51
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BRASÍLIA — O presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), deputado federal Pedro Lupion (PP-PR), afirma que negociará para que as carnes entrem na cesta básica com imposto zero no texto final da regulamentação da reforma tributária. Para o deputado, contudo, a defesa que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez da isenção para as proteínas animais, na mesma linha do que defende a bancada do agro, foi uma "jogada para a torcida".

"A postura do presidente Lula cria um ruído, porque a política é feita de narrativas. Acho muito difícil que o Congresso Nacional dê ao presidente Lula a vitória de colocar as carnes na cesta isenta", diz Lupion, em entrevista exclusiva ao Estadão/Broadcast, em meio às tratativas finais do projeto.

Lupion também contesta o cálculo citado por Lira de que a inclusão das carnes na cesta básica aumentaria em 0,57 ponto porcentual a alíquota final. De acordo com ele, os cálculos a que a FPA tem acesso mostram impacto de 0,2 ponto. "Não é o agro que vai fazer a alíquota ficar maior que os 26,5%. É uma conjuntura de vários fatores. As conversas que escutamos nos bastidores é de 27% a 27,5% de alíquota", pontuou. Veja abaixo os principais trechos da entrevista:

A isenção das carnes ficou de fora do relatório da tributária. Como a frente avalia e como se articula a partir dessa "não inclusão"?

Desde o começo defendemos que deveríamos ter uma cesta básica de alimentos constitucional e nacional para permitir alimentos mais baratos na gôndola dos supermercados e aumentar o consumo. Para a nossa surpresa, o PLP 168 veio com uma cesta básica muito reduzida e tirando os produtos que estão no consumo diário de todos os Estados, caso do molho de tomate. As carnes in natura já possuem diferenciação de PIS e Cofins, consideradas na cesta básica, em vários Estados. Queremos colocar carne bovina, suína, aves e pescados na cesta básica para fomentar a cadeia produtiva e dar acesso à população.

Os parlamentares contrários afirmam que a alíquota geral poderia subir 0,57 ponto porcentual com a isenção tributária às carnes. Qual é o impacto estimado pela bancada do agro?

Contestamos esses números. O número apresentado pelos nossos consultores e economistas é de 0,2 ponto porcentual de impacto na alíquota. Esse estudo será apresentado terça-feira. É insignificante perto dos benefícios. Acreditar e tentar levar a sério uma ideia de cashback é muito utópico. Estamos em um sistema ainda pouco informatizado. Não entendo por que esse embate frontal com as carnes.

Nos bastidores, comenta-se que as carnes foram incluídas na elaboração do relatório e retiradas após a fala de Lira sobre o impacto da isenção. Houve esse movimento?

Não acho que foi a fala do presidente Lira. Acredito que foi uma estratégia de dar protagonismo e participação para demais parlamentares para além do grupo de trabalho. Acredito que essas demandas políticas e de setores serão definidas pelos líderes e pelas bancadas partidárias.

A posição do presidente Lula a favor da isenção afetou a entrada das carnes na cesta básica?

A postura do presidente Lula cria um ruído, porque a política é feita de narrativas. Acho muito difícil que o Congresso Nacional dê ao presidente Lula a vitória de colocar as carnes na cesta isenta. Essa versão tem de vir do Congresso Nacional, que é quem está trazendo à tona, até porque a equipe econômica do governo é contrária. Isso tem de passar por uma negociação dentro do Congresso.

O governo ser favorável ao pleito, com a fala pública do presidente Lula, atrapalhou as negociações para isenção das carnes?

Não acho que atrapalhou. Ele jogou para a torcida. Ele jogou o apelo para falar "se der certo, fui eu, e se não der certo, foi o Congresso".

Nessa reta final, a FPA vai buscar o convencimento do Lira e do colégio dos líderes para inclusão das carnes na cesta básica isenta?

Trabalharemos para isso até os minutos finais. A previsão é votar o projeto em meados da quinta-feira. Estamos conversando com os líderes dos partidos, das bancadas e ativamos a coalizão das frentes parlamentares produtivas.

Há outros pontos em aberto que ainda faltam ser pacificados com setor produtivo?

Temos vários pontos que precisam ser resolvidos, como a incidência de tributos sobre o cooperativismo, a garantia do ato cooperativo, o conceito de produto agropecuário in natura, alguns insumos agropecuários que não constam no regime diferenciado de tributação, o diferencial tributário dos biocombustíveis ante os combustíveis fósseis. Defendemos também uma alíquota progressiva para as bebidas alcoólicas, como o vinho nacional e cervejas artesanais. Outra preocupação é quanto ao imposto seletivo sobre as bebidas açucaradas, já que alimentos e bebidas estão no regime diferenciado. Considero, particularmente, o imposto seletivo como meramente arrecadatório.

A FPA pode orientar membros a votar contra ao PLP se não incluir as carnes na cesta básica e os demais pontos não forem atendidos?

Não chegamos ainda na hora de decidir se podemos votar contra ou a favor. Estamos ainda na discussão de muitos pontos a serem resolvidos. Não se trata de nada novo, e sim tudo que deixamos na PEC para resolver nas leis complementares.

Na primeira votação da reforma na Câmara, a orientação saiu nos minutos finais. Pode acontecer agora de novo?

Pode. Eu não posso ser irresponsável de apoiar um texto que seja prejudicial ao setor.

Pedro Lupion, presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), dona da maior bancada do Congresso Nacional, conversou com o 'Estadão' sobre reforma tributária.
Pedro Lupion, presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), dona da maior bancada do Congresso Nacional, conversou com o 'Estadão' sobre reforma tributária.
Foto: WILTON JUNIOR/ESTADAO / Estadão

A posição da FPA, então, sobre a regulamentação da reforma ainda não está definida?

Ainda não, o texto precisa melhorar. Precisamos negociar, chegar no plenário com um texto redondo, para conseguirmos apoiar.

Nessas tratativas finais, o que vai pesar mais, o impacto para o agro como setor econômico ou impacto na alíquota?

Eu, particularmente, não acredito na alíquota de 26,5% que estão falando. Como ela já está mais do que isso, não é o agro que vai fazê-la ficar maior. É uma conjuntura de vários fatores. O agro tem que ser respeitado, tem que ter espaço. As conversas que escutamos nos bastidores é de 27% a 27,5% de alíquota.

Lira sempre foi citado como parceiro do agro e como um grande apoiador dos projetos do setor. A discordância dele sobre a inclusão das carnes na cesta básica pode levar ao rompimento ou ao estremecimento do agro com ele?

Não. É uma questão de ponto de vista. O Arthur Lira é um grande parceiro da bancada. Ele, inclusive, cria gado de corte. É sentar e conversar. Não tem rompimento. Não é questão de posicionamento político e ideológico.

O resultado final da tributária pode influenciar no apoio da FPA ao sucessor do Lira?

Só vamos apoiar quem se comprometer conosco e que tenha dado demonstrações nesse sentido. Agora, eu não vejo nenhum dos nomes que estão aí trabalhando contra qualquer articulação do Arthur Lira ou dos líderes. Elmar Nascimento, Marcos Pereira e Antonio Brito, todos jogam com a gente, quando a gente pede acabam nos ajudando. Temos uma boa relação com todos eles.

O presidente Lula falou recentemente em relação sincera com o agro. A bancada do agro está disposta a isso?

Relação não se faz só com palavras, se faz com atitudes e gestos. Ao mesmo tempo que o presidente fala que há uma relação sincera com o agro, ele coloca o MST no palco do lançamento do Plano Safra da agricultura familiar. A fala dele dizendo que sem-terra não invade e que faz muito tempo que não acontece uma invasão é mentira.

Estadão
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