Vendas do comércio varejista caem 0,3% em agosto ante julho, diz IBGE
Resultado foi menos negativo do que a queda de 0,6% esperada pelo mercado; vendas do setor acumulam crescimento de 5,1% no ano, mostra pesquisa
RIO - Após um início de ano vigoroso, o comércio varejista voltou a vacilar em agosto. O volume vendido recuou 0,3% em relação a julho, segundo os dados da Pesquisa Mensal de Comércio, divulgada nesta quinta-feira, 10, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
"Os dados do varejo hoje vão na direção de uma acomodação da economia no terceiro trimestre", avaliou Marina Garrido, economista do Departamento de Pesquisa Macroeconômica do Itaú Unibanco, em relatório.
De janeiro a agosto de 2024, em relação ao mês imediatamente anterior, na série com ajuste sazonal, houve redução no volume vendido em apenas duas ocasiões: janeiro (3,6%), fevereiro (0,7%), março (0,2%), abril (0,8%), maio (0,9%), junho (-0,9%), julho (0,6%) e agosto (-0,3%).
Apesar da oscilação nos últimos três meses, o volume vendido pelo comércio varejista permanece "muito próximo" de seu pico histórico, frisou Cristiano Santos, gerente da pesquisa do IBGE.
"A gente tem que lembrar também que esse crescimento que houve até maio de 2024 foi um crescimento que levou o varejo ao patamar recorde da série de mais de 20 anos", disse Santos. "Então está muito próximo ainda do patamar de maio. Esse rebatimento que a série teve nos últimos três meses está preservando o patamar (de vendas) bastante elevado. É uma performance muito próxima do máximo da série global".
O varejo operava em agosto em patamar 0,7% abaixo do recorde alcançado em maio de 2024.
No varejo ampliado — que inclui as atividades de veículos, material de construção e atacado alimentício —, as vendas encolheram 0,8% em agosto ante julho. O volume vendido pelo varejo ampliado está 1,4% aquém do pico de agosto de 2012.
"Os últimos dados do varejo ampliado sugerem que o segmento começou a perder fôlego", opinou a economista Claudia Moreno, do C6 Bank, em comentário. "Os números indicam, até agora, que teremos um terceiro trimestre ainda positivo. O resultado de hoje não muda nossa previsão para o PIB (Produto Interno Bruto): crescimento de 3% em 2024 e de 1,2% em 2025?, ponderou.
Na passagem de julho para agosto, houve retração generalizada nas vendas das atividades varejistas: outros artigos de uso pessoal e doméstico, que inclui lojas de departamento (-3,9%), livros e papelaria (-2,6%), equipamentos de informática e comunicação (-2,0%), móveis e eletrodomésticos (-1,6%), vestuário e calçados (-0,4%), combustíveis (-0,2%) e supermercados (-0,1%). Apenas artigos farmacêuticos e de perfumaria cresceram: 1,3%.
No varejo ampliado, as vendas de veículos encolheram 5,2%, atacado alimentício diminuiu 3,9%, e material de construção cresceu 0,3%.
Segundo Santos, o varejo foi impactado em agosto por indicadores positivos e negativos. Do lado positivo, a massa de salários em circulação na economia continuou se expandindo e o número de trabalhadores ocupados também avançou, ao mesmo tempo em que os aumentos de preços na economia deram uma trégua.
"Tem um fenômeno de ligeira deflação geral em agosto, com bastante força na alimentação do domicílio, que é uma coisa que pesa bastante no indicador de supermercados, em termos de volume", apontou Santos.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), apurado pelo IBGE, registrou uma deflação de 0,02% em agosto.
Já pelo lado negativo, Santos menciona que houve uma queda nas concessões de crédito para Pessoa Física. Além disso, as vendas de presentes para o Dia dos Pais se mostraram menos intensas do que em anos anteriores, completou.
"A leitura de curtíssimo prazo é de estabilidade, a leitura de médio prazo é de crescimento no ano de 2024?, resumiu Santos.
Apesar da queda disseminada em agosto, o consumo deve seguir beneficiado por impulsos fiscais, previu o chefe de economia para a América Latina do banco Goldman Sachs, Alberto Ramos.
"Para o futuro, esperamos que a atividade de varejo continue se beneficiando de transferências fiscais para famílias de baixa renda com alta propensão a consumir, sólida expansão da renda disponível real (laboral e não laboral) das famílias e a reversão do ciclo de crédito; mitigados por condições monetárias e financeiras domésticas restritas, altos níveis de endividamento das famílias e baixos níveis de folga econômica", enumerou Ramos, em relatório./Colaborou Gabriela Jucá