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Viagens de Argentinos para o Brasil são impactadas após mudanças radicais do governo Milei

Estudante argentino relata que ficou com a saúde mental abalada após ver os impactos econômicos que atingiram o país nos últimos tempos

16 fev 2024 - 05h00
(atualizado às 19h51)
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Homem segurando uma nota de um dólar ao lado de uma nota de mil pesos argentinos
Homem segurando uma nota de um dólar ao lado de uma nota de mil pesos argentinos
Foto: Foto: istock

“Retornar para a minha cidade natal, viajar com a minha família e reencontrar amigos se tornou inviável após as mudanças radicais impostas pelo novo presidente da Argentina, Javier Milei”, relata José Silvano, cidadão argentino e estudante de direito da Universidade de Buenos Aires (UBA), em conversa com o Terra.

Antigamente, o estudante costumava frequentar praias brasileiras e viajar dentro do próprio país com a família nas férias. Atualmente, está enfrentando dificuldades até para conseguir realizar as refeições diárias necessárias.

José Silvano, argentino e estudante de direito da Universidade de Buenos Aires.
José Silvano, argentino e estudante de direito da Universidade de Buenos Aires.
Foto: Foto: reprodução Instagram @otiripsesoj

Segundo Alan Guizzi, professor do curso de turismo da Universidade Anhembi Morumbi, o número total de turistas estrangeiros que chegaram ao Brasil antes da pandemia chegou a atingir aproximadamente 6 milhões de pessoas. Desses, quase 2 milhões eram formados por argentinos.

“Mesmo durante a pandemia, ou após a pandemia, quando as fronteiras abriram, o Brasil chegou a receber, por exemplo, no ano de 2022, próximo a 1 milhão de turistas argentinos que vieram visitar, sobretudo, os Estados do sul, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e também São Paulo e Rio de Janeiro”, detalha o especialista.

“De maneira geral, os turistas argentinos entram pela fronteira terrestre, portanto, ali próximo à aduana de Uruguaiana, no Rio Grande do Sul, por exemplo, que é por onde os argentinos vêm ou de carro ou de ônibus. Portanto, os argentinos entram pelo sul do Brasil e percorrem todo esse território nosso até os destinos escolhidos por eles”, completa. 

Alan também explica que os argentinos têm o perfil de deixar no Brasil cerca de 70 dólares diários quando fazem negócios ou, em média, 40 dólares diários quando estão em momentos de lazer - principal motivação de viagem dos argentinos ao Brasil.

Com as medidas conservadoras implementadas pelo governo do novo presidente da Argentina, Javier Milei, surgiram impactos econômicos. A entrada de turistas estrangeiros argentinos por fronteira terrestre apresentou uma queda de aproximadamente 40%, conforme registros da aduana de Uruguaiana, no Rio Grande do Sul.

Além das fronteiras terrestres, o Brasil possui parcerias com companhias aéreas argentinas, como a Aerolíneas Argentinas e a Low Cost Fly Bond. Apesar dos esforços, recentes acordos entre a Embratur, Ministério do Turismo e outros órgãos visando atrair turistas argentinos para o Brasil não alcançaram os resultados esperados. As condições econômicas desfavoráveis na Argentina resultaram em uma queda nas entradas de argentinos, frustrando a expectativa de aumento ou estabilidade no fluxo turístico entre os dois países.

Impactos no dia a dia

Em entrevista ao Terra, o argentino José Silvano relatou como as medidas do novo governo têm impactado a sua vida social e acadêmica. “Tem aluguel na região central de Buenos Aires está em cerca de 1.000.00 milhão de pesos argentinos. O salário mínimo atualmente no país é o equivalente a 150.000 pesos argentinos. Tem gente que recebe entre dois e três salários mínimos, é quase impossível arcar com todos os custos necessários, TV, internet, contas essenciais”, lamenta.

O estudante é natural de Santo Tomé, uma cidade da província de Corrientes, que fica localizada nas margens do rio Uruguai, a 849,0 km de Buenos Aires. Na entrevista, ele relatou que após, as medidas conservadoras de Milei, sua vida social foi impactada, e as visitas para terra natal, que fazia para ver sua mãe e seu irmão mais novo, tornaram-se uma realidade distante. 

“Até o ano passado, uma passagem para minha região de origem custava 15 mil pesos, totalizando 30 mil ida e volta. No entanto, agora o preço subiu para 100 mil, um aumento de 70 mil. Essa mudança torna incerta a possibilidade de retornar para casa e reencontrar minha família, amigos e conectar com minhas origens”, completa José. 

Entre as medidas radicais impostas por Milei estão:

  • Não se renovam os contratos do Estado com menos de um ano de vigência;
  • Decreta a suspensão da propaganda oficial do governo nacional por um ano;
  • Redução de ministérios de 18 para 9 e secretarias de 106 para 54;
  • Reduzir ao mínimo a transferência do Estado nacional para as província;
  • Não serão solicitadas novas obras públicas e serão canceladas as obras já licitadas que ainda não começaram;
  • Redução de subsídios em transporte e energia;
  • Manter as políticas sociais como o Asignación Universal por Hijo (espécie de Bolsa Família argentino) e cartão alimentação e aumentar seu valor;
  • Manter o plano de geração de empregos 'Potenciar Trabajo';
  • Fixação do câmbio oficial em 800 pesos, aumento provisório do imposto PAIS e retenção de exportação de produtos não-agropecuários;
  • Mudança do sistema de importação (SIRA) para retirar autorização prévia;

Crise argentina

Para Altacir Bunde, economista e professor do curso de Ciências Econômicas da Universidade Federal do Pampa, as projeções para a economia argentina não são nada boas, mas o certo é que o país deve enfrentar uma dura recessão econômica, o que deve elevar ainda mais os níveis de pobreza, como apontam alguns economistas. Além disso, a inflação deve continuar elevada levando a classe trabalhadora à perda do poder aquisitivo, soma-se a isso, o não aumento dos salários. Dado estas condições econômicas do país, muitos poderão deixar de viajar, mas como a Argentina é um país grande e possui uma classe média bastante ampla, parte da população continuará fazendo turismo, e sim, as viagens para o Brasil, mesmo em menor número, devem continuar.

Para Altacir, ainda não dá para medir os impactos econômicos das medidas do governo argentino. “É difícil de prever no longo prazo. Mas, no curto prazo, recessão e inflação são elementos que deverão estar presentes entre os argentinos por um período”, explica Altacir. 

“Com a crise argentina, por se tratar de medidas recentes, ainda fica difícil estimar as perdas que o Brasil terá em função da redução de turistas argentinos, especialmente para as praias no Sul do País (principalmente Rio Grande do Sul e Santa Catarina). Mas, o certo é que a crise econômica na Argentina trará impacto direto no turismo brasileiro, uma vez que os argentinos são um dos principais turistas que visitam o Brasil. Isso ocorre porque a desvalorização do peso argentino leva à queda do poder de compra de seus cidadãos e, com isso, muitos deles deixarão de viajar ao exterior, incluindo o Brasil”, completa. 

A cerca de um século atrás, a Argentina foi um dos países mais ricos do mundo, graças às exportações de carne para países europeus, principalmente a Inglaterra, que lhe rendeu a alcunha de “celeiro do mundo”. Mas, atualmente, mais de 40% da população vive abaixo da linha de pobreza, desses, mais de 10% estão na indigência. 

Segundo Altacir, a taxa de inflação na Argentina superou os 211% em 2023, tornando-se a maior inflação mundial no ano de 2023, o que levou o país a uma grande crise econômica. “No que diz respeito às medidas econômicas adotadas pelo novo governo argentino de Javier Milei, elas são várias e polêmicas. Mas, as mudanças que podem impactar o turismo argentino, especialmente quando muitos deles têm como destino durante o verão, praias brasileiras, sem sombra de dúvida, a de maior impacto é a desvalorização do câmbio oficial que, atualmente, supera os 800 pesos. Essa medida faz com que se torne ainda mais caro para os turistas sair do país, durante as férias”. 

Com todas essas mudanças e em meio a crise econômica e financeira no país, diversos cidadãos argentinos estão vivendo o pior momento financeiro de suas vidas. As dificuldades para arcar com as despesas essenciais para viver e estudar em uma capital estão impactando não somente a vida social do estudante argentino, mas também a saúde mental. 

“Viver com essa alta na inflação diariamente me assusta. Ir ao mercado e ver os preços dos produtos mudarem todos os dias gera desconforto e muito medo. O número de pessoas em situação de rua aqui na capital aumentou muito e isso me deixa muito mal”, relata, ainda, o argentino José Silvano.

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Fonte: Redação Terra
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