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Vinho extraído do dendezeiro? Brasileira aceitou 'emprego diferentão' para lançar bebida nos EUA

Mariana Silva atua como "entrepreneur in residence", função que pode ser traduzida como "empresário residente", na Ikenga Wines

18 nov 2024 - 05h00
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Mariana Silva está trabalhando como "entrepeneur in residence", cargo que pode ser traduzido como empresária residente
Mariana Silva está trabalhando como "entrepeneur in residence", cargo que pode ser traduzido como empresária residente
Foto: Arquivo Pessoal

Em Salvador, na Bahia, as sextas-feiras são pintadas majoritariamente por duas cores: branco e amarelo. A primeira está nas vestimentas das pessoas, que, por associação a religiões de matriz africana ou apenas simpatia por uma nova tradição, escolhem usar peças brancas no dia que fecha a semana útil. Já a segunda está nas mesas de todos os restaurantes self service da cidade. Sexta é dia de comida baiana. Sexta é dia de dendê. 

O azeite de dendê serve como base para a moqueca, o acarajé, o vatapá e o abará. O que pouca gente sabe é que o dendezeiro, palmeira de onde vem o dendê, também pode ser explorado para a produção de bebidas, mais especificamente para o chamado “vinho de palma”. 

Em território brasileiro, o costume da produção se perdeu não se sabe exatamente quando. No continente africano e em países da Ásia, como na Índia, a bebida continua sendo feita de forma artesanal, principalmente, para celebrações. E, agora, nos Estados Unidos, uma empresa de biotecnologia quer lançar o vinho de palma como produto no mercado norte-americano. 

A baiana Mariana Silva foi convidada para ajudar no desafio, mas não exatamente por sua familiaridade com o dendê. “Eu nunca tinha ouvido falar da possibilidade de usar seiva da palmeira, porque, quando eu penso em dendezeiro, sempre estava relacionado ao fruto. Então, nunca tinha pensado nisso”, confessa. 

Ela, que é biomédica e mestra em ciências médicas, foi contratada pela Ikenga Wines como “entrepreneur in residence”. O cargo pode ser traduzido como “empresário residente”, e não é tão comum no mercado nacional.

“Tem uma ideia muito parecida com o que é realmente empreender, na vida real, com seu próprio negócio, só que dentro de um outro negócio que não necessariamente é o seu”, explica. No caso, Mariana é contratada por um determinado período para entregar sua expertise e estruturar um negócio que está em formação.

Como é feito o vinho de palma

O vinho de palma não leva uva em sua produção e em nada lembra ao gosto do azeite de dendê
O vinho de palma não leva uva em sua produção e em nada lembra ao gosto do azeite de dendê
Foto: Onye Ahanotu

Apesar de ser originário do dendezeiro, o vinho de palma em nada lembra o gosto das comidas feitas com dendê. A produção da bebida utiliza apenas a seiva da palmeira, que passa por um processo de fermentação até se tornar vinho. A bebida não leva uva.

“As notas originais dele se parecem muito com um vinho frutado, leve, adocicado, e a gente está criando uma coisa um pouco mais inédita, que é colocar algumas borbulhas nele. Uma efervescência, trazer uma versão champanhe que, nesse processo de fermentação original, não é possível”, adianta Mariana.

A outra diferença em relação à produção artesanal é que o vinho de palma da Ikenga terá um tempo de prateleira muito maior do que o feito de forma caseira. 

O Palm Wine, na tradução para o inglês e marca adotada pela Ikenga Wines, será comercializado entre US$ 46 a US$ 65 (cerca de R$ 266 a R$ 376), por enquanto sem expectativa de expansão para o Brasil ou outros mercados além do norte-americano.

Com relação a investimento e expectativa de faturamento, Mariana evitou dar muitos detalhes e afirmou que a ideia é começar aos poucos. "Eu acho que como produto premium é isso. A gente basicamente vai sendo boca a boca, quem conhece sabe, a gente não está desesperado pra fazer essa venda acontecer, assim, magicamente. No ano que vem a gente tá planejando um evento de lançamento maior", afirma.

A profissão empreendedora

Para Mariana Silva, ser entrepreneur in residence está sendo a oportunidade para que ela desenvolva habilidades específicas do empreendedorismo. Como biomédica, ela já tinha tentado abrir seu próprio negócio, a Planty Beauty e a Planty Biotech.

A empresa começou na área de cosméticos, com foco em biotecnologia e sustentabilidade, e chegou a ter produtos vendidos em bons canais, como Carrefour e um e-commerce próprio.

“Só que o caixa ainda era muito deficitário, e eu dobrei a aposta, como empreendedora, eu abri um braço de biotecnologia para mostrar o meu plano completo”, conta Mariana.

A aposta não vingou, por falta de recurso financeiro. Nesse momento, a biomédica decidiu voltar sua carreira para levar o que sabe para outras empresas. Quando acabar o período como entrepreneur in residence na Ikenga, Mariana espera atuar novamente no mercado nacional.

Ela, porém, não descarta o retorno de um empreendimento próprio no futuro. “Acho que todo empreendedor vai empreender, ele vai encontrar o caminho de voltar”, afirma.

Fonte: Redação Terra
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