> Esotérico  > Monica Buonfiglio


Sites relacionados
Almas Gêmeas
Planeta na Web
Porto do Céu
Boletim
Assine e receba por e-mail a programação do Esotérico Terra
Monica Buonfiglio
COLUNA DA MONICA
Quarta-feira, 20 de outubro de 2004
Queima Jesus!

Veja também:
Monica Buonfiglio
Coluna da Monica
» Todas as colunas
Perfil
» Fale com Monica
» Quem é Monica

Algumas pessoas desejam obter a elevação da alma espelhando-se em Jesus que morreu crucificado para salvar a humanidade; o filho de Deus "queimou" de amor sua vida por nós. Tomás de Aquino orientou que é importante seguir ao máximo às virtudes, entre elas, a "fortaleza" onde "sacrificar a vida para defender o que acha justo, é uma maneira de chegar à Ele".

O que me preocupa refere-se à criança. Para explorar o seu mundo, faz experiências onde erra e acerta até confirmar o fenômeno. Existem duas razões para isso: o desejo de agradar os pais e a necessidade natural da investigação (neste exemplo, o fogo). A criança raciocina de maneira própria, diferente do adulto. Ela entende com o tempo o que é certo ou errado. Aprende a não usar fósforos, caso contrário queima seu dedo. Pelo mesmo principio, não entende quando os pais bradam em louvores: "Queima Jesus!"

O uso da frase corriqueira e até mesmo banalizada, conduz à imitação da criança aos seus ídolos (pais e Jesus). Ela deve ter a idéia de que o Salvador concede "segurança passada através do amor" e não que "recompensa o bem e castiga o mal (através do fogo)". Até os três anos, concretiza o abstrato; por isso, é importante falar sobre proteção e carinho. De 3 a 5 anos, quer saber como Jesus atua na vida das pessoas. A resposta dependerá dos pais e no que acreditam. Se responderem: "Ele queima", ela imitará queimando.

Entre 6 a 10 anos, a inteligência da criança aumenta e passa a ser mais crítica; nesta fase os pais devem ter cuidado com o que pregam. Dos 11 aos 13 anos (em diante) está na fase do amadurecimento e entende os conceitos. Jesus é um protetor benevolente, consolador e não punitivo.

No culto, ao pedir aos fiéis que cantem, o orador sabe que o inconsciente é um trabalhador incansável, full time que transmite a mensagem sem cobrar por isso. Quanto mais carente estiver o fiel, mais terá sua emoção liberada, envolvendo-se em satisfação ao proferir as palavras. Alguns CDs são lançados sem nenhum critério usando títulos como "Incendeia-me" com o subtítulo "já começa pegando fogo logo de início com as músicas".

Uma das faixas (4ª) começa com o locutor perguntando à platéia:

- "Tem fogo ai? Tem fogo nos seus pés? Fogo do Espírito Santo!!! Fogo, fogo, fogo, fogo, fogo, fogo, fogo, fogo, fogo!!". E continua:
- "Diga para dez pessoas próximas de você: fogo, fogo, fogo, fogo, fogo, fogo, fogo, fogo!! Frases como estas são comuns entre os fiéis: Jesus afirmou: Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim ainda que morra viverá e quem vive e crê em mim nunca morrerá (João 11:25-26). Jesus Cristo é o consolador divino. Sua presença assim como o fogo destrói o pecado. Você será salvo pelo fogo. Ao avisá-los que estavam agindo contra às leis de Deus, disse a um descrente: Em nome de Jesus, vai-te e sê lançado no fogo.

Os apóstolos Tiago e João disseram em uma passagem bíblica: Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu para destrui-los (Samaritanos)? Jesus voltou-se e repreendeu-os. Como quinta causa externa de mortalidade infantil no país, o cirurgião plástico Jaime Anger de São Paulo, indica que o fogo é o elemento mais perigoso por expor diretamente à ele.

A pediatra carioca Maria Cristina Serra relatou que, para dez casos de crianças acidentadas por queimaduras que atende, uma foi para imitar o pai. Raymundo de Lima, psicanalista e professor doutorando de Educação na USP, em seu ensaio O poder hipnótico do slogan alerta: quanto mais são repetidos os slogans maior a possibilidade de se tornarem autônomos em relação às pessoas.

Uma vez adquirido este caráter de transcendência, o slogan passa a ter mais importância do que a própria vida dos membros do grupo. Não existe esforço de análise e as repetições tornam-se cada vez mais automáticas até o desgaste final. Se o slogan conter um significado religioso, passa a ser usado para tudo.

As reuniões longas e altamente emotivas induzem o transe grupal tornando seus participantes suscetíveis ao que está sendo repetido. Quanto mais simplificador o slogan mais perigoso torna a possibilidade do grupo entrar em sintonia, como se estes fossem "os escolhidos" pronto para tudo, considerando-se superior às leis. O orador coloca a responsabilidade (caso aconteça algum acidente) não a ele, mas ao grupo.

O que pode ser feito: fazer com que pelo menos um membro do grupo reflita sobre a afirmação Queima Jesus que está sendo proferida. Outro dispositivo é o humor, capaz de quebrar o fanatismo. Parece que estamos voltando a Idade Média, com o risco de quem não professa a mesma religião, ser queimada em nome D'ele, já que em alguns cultos levantam uma bandeira discriminatória.

Monica Buonfiglio

 
 » Conheça o Terra em outros países Resolução mínima de 800x600 © Copyright 2009,Terra Networks, S.A Proibida sua reprodução total ou parcial
  Anuncie  | Assine | Central do Assinante | Clube Terra | Fale com o Terra | Aviso Legal | Política de Privacidade