Quarta-feira, 11 de maio de 2005
Paraíso espiritualista
A espiritualista é uma seguidora do espiritualismo, ou seja, "doutrina que admite quer quanto aos fenômenos naturais, quer quanto aos valores morais, a independência e o primado do espírito em relação às condições materiais, afirmando que os primeiros constituem manifestações de forças anímicas ou vitais e os segundos, criações de um Ser Superior ou de um poder natural e eterno, inerente ao ser humano. Também indica a condição de que nada, nem o universo ou a natureza, por mais simples que sejam são separados ou distantes; ao contrário, o todo está unido". É ser uma estudante da verdade, que dedica-se à descoberta do que é útil e que faz o bem "ao outro", em oposição a simples aparência ou modismo. Ela estuda "o que existe e sempre existiu", em oposição ao que é "transitório". Entende que alguns conceitos são débeis e que só podem ser entendidos se a verdade estiver contida em Deus, a causa primeira e eficiente de toda e qualquer ordem, harmonia, beleza e bondade que preenchem este universo. Ser espiritualista não é algo misterioso ou atraente. Platão foi um grande intelectual e intérprete do mundo, o maior filósofo da era Pré-Cristã, refletindo fielmente em suas obras, o espiritualismo. Ele não enfatizou as crenças ou superstições populares, tampouco racionalizou qualquer concepção metafísica. Uma filosofia superficial inclina a mente humana ao ateísmo, mas, uma filosofia profunda conduz a mente humana ao sagrado, a sabedoria e ao espiritualismo. E como estudante da espiritualidade, faço minhas pesquisas de modo apaixonante, todos os dias. Trabalho no meu escritório que é anexo à minha casa, cuja porta aberta recebe sem cerimônia a passarinhada que faz a festa. Alimentam-se de alpiste na lavanderia, voam para a sala e cozinha. Depois de satisfeitos, mas curiosos, dirigem-se aos quartos, saindo pelas janelas, onde provavelmente as cortinas de voal fazem cócegas (ou quem sabe, mãos de anjos imperceptíveis aos nossos olhos). Tranqüilos, sabem que ninguém os maltratará, nem eu, Urbano, meu marido, Victor, meu filho amado de treze anos e minha fiel escudeira e irmã Márcia. Eles parecem não se intimidarem com nossa presença. Os beija-flores, cada um mais bonito do que o outro sabem que estão sendo admirados e batem freneticamente suas asas. Esperam sua vez para beberem a água adocicada, trocada todos os dias por Urbano, como se estivessem em uma fila imaginária indiana. Respiramos um ar tão puro, onde o vento toca nossas faces e não se deixa aprisionar, parece desejar entrar em nossos corpos... é melhor fechar os olhos. O chilrar dos pássaros, tão ternos e doces, constróem seus ninhos nas árvores do nosso terreno e avisam: "em breve, nossos filhotes começarão a piar". Quando demoro mais tempo em frente a tela do computador e, absorta nos meus pensamentos, percebo o pio, não de um, mas de vários pássaros que ficam no telhado, como que reclamando: vai demorar mana? E a nossa comida? Levanto-me, saio e respondo com um assobio. Eles retrucam, alguns resmungam, outros parecem agradecer. Coloco o alimento nas bacias, assobio novamente, faço pausa depois de cada nota, como se fosse um mantra para obter respostas. Muitos chilreios, mas dependendo do horário, bocejam. Serei capaz de entender a linguagem dos pássaros? Claro que não. A magia está em imaginar que "sim", que entendo e agradeço aos pássaros por mais um bate-papo agradável. Sinto-me abençoada, por mais um dia bem vivido, retornando a mim mesma. Antes de entrar em casa, digo: "agora posso morrer, para amanhã renascer". Deito-me geralmente cedo, para adormecer depois de ler alguns livros. Da janela do meu quarto, com a cortina de voal, a luz do holofote do meu jardim entra e reflete sua claridade na janela no teto de madeira pintado com a cor amarela, emanando uma luz azulada, que até já tentei fotografar, em vão. Durante o sono, sonho. Nos meus sonhos, medito e nas minhas meditações, a sabedoria chega de mansinho, que ao acordar, faz com que teça através deste fio (que não pode ser cortado) mais uma coluna para o Portal Terra. Sigo para meu anexo onde trabalho, uma espécie de "santuário", palavra esta proveniente do grego Temenos. Realmente, um lugar tranqüilo, sagrado, onde a divindade pode ser sentida, "onde quando, duas ou mais pessoas se reunirem em meu nome, ai estarei eu".
Monica Buonfiglio
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