Veja também: Monica Buonfiglio Coluna da Monica » Todas as colunas Perfil » Fale com Monica » Quem é Monica

Neste ano, tenho recebido cada vez mais e-mails questionando sobre religião. As mensagens variam, mas geralmente começam assim: sou católico (a), mas não entendo sobre alguns dogmas, ou sou evangélico (a), mas não aceito algumas proibições que são impostas aos fiéis e assim por diante.

Sou estudiosa das religiões há mais de vinte anos e por isso, não me causou espanto o aumento de perguntas relacionadas ao assunto, especialmente depois do advento da internet. Atualmente, para encontrar informações sobre qualquer assunto, basta colocar a palavra-chave sobre o que deseja em "procura" para obter uma série de links sobre o tema, e o melhor de tudo, sem nenhuma censura.

Quando alguém escreve relatando que tem dúvidas em relação a religião, trabalho, estudo etc, isto ocorre porque no íntimo, não existe a certeza.

Religião é amor e não coerção. Como espiritualista, já passei por situações constrangedoras, quase intimidações para que fosse a uma missa, culto, sessão etc. Não vou e pronto. Sair da minha casa para ouvir que devo fazer tal coisa para ser uma escolhida, ou que não irei para o céu porque acredito nos elementais ou tantas outras proibições, bobagens ditas por quem gosta de amedrontar pessoas, para mim, isto é bem infantil e limitado.

Veja como é incoerente: se eu tivesse algum problema e solicitasse uma orientação a um religioso, a resposta seria: este problema existe porque você é espiritualista.

Se meu casamento estivesse mal, seria visto como um castigo (mas sou casada há dezesseis anos com Urbano Valezim, minha alma gêmea). Caso não tivesse filhos, isto seria decorrente do conhecimento da magia (tenho um filho de treze anos, Victor Valezim, uma bênção de Deus) e se estivesse com problemas financeiros, culpa do tarot ou do esoterismo.

Não seria mais honesto dizer que todos nós temos problemas independente da religião professada? Que na vida de um casal existem altos e baixos? Que se alguém não tem filhos pode recorrer com sucesso à medicina?

Amo a liberdade, estudar, divertir, conversar, brincar, namorar meu marido, passear com meu filho, pesquisar informações nos meus livros! Infelizmente, muitas religiões (especialmente as monoteístas) condenam estes exemplos que acabei de citar.

Não entendo como alguém com o mínimo de inteligência embarque nesta idéia de que ela tem um lugar reservado ao lado do trono de Deus (como se estivesse diante da final de um campeonato de futebol), ou os frutos de uma vida boa serão recompensados depois da morte. O paraíso, depois da morte. Eu tenho o meu paraíso espiritualista e você tem o seu, junto a sua família.

Sempre digo nas palestras: não existem problemas, mas a vida acontecendo! Mude seu destino, seja inconformado (a)!

Helena Blavatsky (fundadora da Teosofia) não passava um dia sequer sem afirmar que a liberdade é minha religião. Estou com ela e não abro. Para concluir, uma poesia de Fernando Pessoa (sem título)

Não a ti, Cristo, odeio ou não quero.
Em ti como nos outros, creio em deuses mais velhos.
Só te tenho por não mais nem menos
Do que eles, mas, mais novo apenas.

Odeio-os sim, e a esses com calma aborreço,
Que te querem acima dos outros teus iguais deuses.
Quero-te onde tu estás, nem mais alto,
Nem mais baixo que eles, tu apenas.

(...)

Cura tu, idólatra exclusivo de Cristo, que a vida
É múltipla e todos os dias são diferentes dos outros,
E só sendo múltiplos como eles,
Estaremos com a paz e a verdade.
(Fernando Pessoa, ficções do interlúdio, página 111, Editora Nova Aguilar, 1976)

Monica Buonfiglio