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Você já notou que a maioria das proibições religiosas começa com a palavra "não"? Exemplos: não use maquiagem, depile, namore, use calças compridas (!), tenha tatuagem, acenda incensos, tenha quadros, livros, use roupas decotadas... Acho uma tremenda falta de fé em si mesmo permitir que alguém entre em sua casa e, em nome de Deus, jogue no lixo pertences que lhe são "caros" porque estes não condizem com a religião.

Esta devoção ao "não" é cega, estúpida e burra. Como diria meu marido: "desculpe, mas pessoas estão mais inteligentes!". Tenho uma passagem curiosa na minha vida e quando recordo-me, acho até muito engraçada: aos sete anos, fui com minha irmã até a igreja para marcar a data de cerimônia do seu casamento. Acredite: o padre não deixou-me entrar, alegando que estava de calças compridas. Ele pediu que eu ficasse do lado de fora esperando. Perguntei-lhe:

- Por que não posso entrar?
- Você está de calças compridas -, disse o padre fitando-me.
- E o que tem a ver a calça com Deus? - Revidei.
- Não pode entrar, minha filha - respondeu-me impacientemente.
- Não sou sua filha e vou entrar.

Sem constrangimento, tirei as calças e fiquei de calcinha, com os braços cruzados e a cara amarrada... dentro da igreja. Deus existe sem a religião, mas a religião não existe sem Deus. "É possível acreditar em Deus e viver sem religião, mas não conheço religião que viva sem Deus" (Filósofo Michel Onfray). Buscamos Deus quando nos sentimos impotentes diante de um impasse.Também O buscamos quando angustiados, com medo de morrer ou com o sentimento de abandono.

Mas não precisamos Buscá-lo. Deus vem ao nosso encontro quando colocamos a cabeça no travesseiro e dormimos em paz, exaustos por mais um dia de trabalho abençoado. Ou seja, Deus está com quem tem a cabeça e as mãos ocupadas pelo trabalho. A mente ociosa, sim, é a oficina do "não", do "diabo".

Por isso tudo, e por algumas experiências de vida, quero dizer: viva intensamente a cada dia, sem conviver com a palavra "não" que teima em estar obstinadamente grudada interferindo no cotidiano das pessoas. Viva, viva com coragem e entenda que você não perdeu sua infância, não está perdendo sua adolescência ou sua idade da sabedoria, porque todas as idades estão ai, dentro de você.

E dentro de você, tem uma morada (na casa do Pai tem muitas portas) linda, com flores na janela, pássaros voando alegremente, plantas, muitas plantas, animais e crianças... Eu sei que dentro de você, não tem um asilo fechado protegido por um imenso muro feito de tijolos da marca "medo". Viva a vida e seja feliz!

Segue o seu destino, rega as tuas plantas, ama as tuas rosas. O resto é a sombra das árvores quase sem vida dos alheios (Fernando Pessoa).

Monica Buonfiglio