> Esotérico  > Monica Buonfiglio


Sites relacionados
Almas Gêmeas
Planeta na Web
Porto do Céu
Boletim
Assine e receba por e-mail a programação do Esotérico Terra
Monica Buonfiglio
COLUNA DA MONICA
Quarta, 21 de setembro de 2005
Ganhei uma anja de presente de aniversário: minha mãe

Veja também:
Monica Buonfiglio
Coluna da Monica
» Todas as colunas
Perfil
» Fale com Monica
» Quem é Monica

Amanhã, dia 22 de setembro, faço aniversário. Ganhei de presente uma anja, minha mãe Laura. Minha mãe nasceu na cidade de Patos de Minas (MG). Não sabemos a data correta do seu aniversário, pois registraram-na somente meses depois. Seu pai chamava-se Gaudino. Ele usava chapéu de abas largas, botina e uma sacola de pano com ervas medicinais trespassada pelo seu ombro. Era casado com uma linda e geniosa índia de dezesseis anos. Seu nome era Domingas, descendente dos araribás (indígenas habitantes na divisa de São Paulo com Minas Gerais).

Falava português sem dificuldade e fazia serviços como lavadeira. Adorava dançar e passear na cidade. Tiveram quatro filhos (minha mãe foi a terceira). Certo dia, minha avó cortou os cabelos estilo chanel, um pouco ousado para a época copiando as dançarinas de Charleston dos filmes dos anos 20. Colocou um colar imitando pérolas e um vestido branco para ir ao baile. Ao chegar, apanhou muito do meu avô; ele suspeitou ter sido traído. A jovem Domingas veio então a falecer, movido pelo ciúme. Ele fugiu da cidade e não pensou duas vezes em vender ou trocar seus filhos. Aos quatro anos, minha mãe foi trocada por um saco de feijão. Nunca mais ouviu-se falar do Gaudino.

Minha mãe ficou numa pensão. Os anos se passaram. Ela cuidava da limpeza da casa, servia os viajantes, cozinhava, lavava e passava. Não recebia nada pelo seu trabalho; tinha de agradecer por ter um teto para viver. Prometia a si mesma: "um dia vou sair dessa vida".

Certo dia, um mercador do interior de São Paulo ficou encantado com ela, levando-a para Rio Claro (SP). Ela contava com dezenove anos. O casamento durou dois anos, pois ele era muito mulherengo. Tiveram uma filha, minha irmã Marly. Minha mãe agüentou o quanto pôde. Um dia, ela decidiu cair fora. Pegou uma charrete com minha irmã de colo e foi para a estação de trem, seguindo para São Paulo. Conseguiu um emprego de cozinheira no bairro da Lapa e viveram no porão da casa.

Em meados dos anos cinqüenta, mulher separada era um escândalo. Dificilmente uma desquitada, como ela, conseguiria ter uma vida decente. Num Domingo, tomou o bonde e dirigiu-se à Igreja de Santo Antônio, na Praça do Patriarca, centro da cidade. Ajoelhou-se diante da imagem de Cristo e pediu ajuda. Queria saber qual direção tomar na vida. Chorando, com as mãos no rosto, escutou: Em uma semana sua vida vai mudar.

Sentada no banco da praça, chorando muito, um homem teve pena dela e perguntou o motivo de tamanho desconsolo. Ela explicou a situação; ele ofereceu um emprego de costureira: "Você sabe costurar?" Ela respondeu: "Claro que sim!". Mentira, nunca havia ficado à frente de uma máquina costura mas exerceu este ofício primorosamente durante vinte anos.

Em 1957 conheceu meu pai, Mário Buonfiglio. De início, ela recusou a aproximação. Com um pouco de insistência começaram a namorar. Casaram e tiveram três filhos, Mário, eu e Márcia. Os dois batalharam juntos e conquistaram tudo o que desejaram. Ela sempre dizia: "Eu não falei que ia sair daquela vida?" Tudo o que ela desejou, conseguiu com muita dificuldade e esforço. Meus pais se separaram em 1988.

Respeito-a profundamente por tudo o que ela passou e por todas as lições que aprendeu na vida. Tenho orgulho de saber que seus esforços para criar seus quatro filhos não foram em vão. Filha de Yansã, minha mãe foi um vulcão de emoções; nunca duvidou de si mesma.

Tudo o que sou, devo aos seus conselhos. Ela dizia-me para que "não tivesse medo de nada, que metesse a cara enfrentando todos os obstáculos, pois tudo na vida passava muito rápido". Suas últimas palavras para mim foram: "Viva a vida intensamente, filha. Curta os bons momentos. Siga sempre a emoção que deixa a mente feliz e não tanto a razão, que entristece o coração".

E de maneira muito rápida, ela despediu-se da vida terrena, transformando-se em uma anja de luz. Obrigada por tudo, mãe. Que Deus à abençoe.

Monica Buonfiglio

 
 » Conheça o Terra em outros países Resolução mínima de 800x600 © Copyright 2009,Terra Networks, S.A Proibida sua reprodução total ou parcial
  Anuncie  | Assine | Central do Assinante | Clube Terra | Fale com o Terra | Aviso Legal | Política de Privacidade