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Reprogramando Futuros

Automação vai revolucionar as profissões do futuro, até a sua

Um mundo dominado por código tornou-se um caminho sem volta. Você precisa se inserir nessa realidade

24 jan 2023 - 06h15
(atualizado às 12h01)
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Foto: Adobe Stock

Desde a Revolução Industrial, muito se debate sobre a substituição do homem pela máquina. Muita gente acaba ficando de fora, bradando contra a tecnologia, mas outros tantos embarcam nas mudanças e acabam trilhando caminhos mais concretos na vida profissional.

O debate volta à tona com o questionamento básico sobre a automação: ela vai substituir o trabalho humano? A tecnologia vai simplesmente revolucionar todas as profissões existentes, de uma forma ou de outra?

A formação de Human Coders

Vivemos em um mundo dominado por códigos. Esse é definitivamente um caminho sem volta. Tudo passa pelos códigos e quem “fala” com eles está pronto para o futuro mais próximo.

No entanto, ainda são poucos os que “conversam” com essa realidade. O mundo precisa de códigos mais humanos. A tendência é unir tecnologia com habilidades socioemocionais para formar Human Coders.

“As tecnologias exponenciais – inteligência artificial, biologia sintética, computação exascale (superveloz), robôs autônomos e missões fora do planeta ao espaço – estão desafiando nossas suposições sobre o potencial humano”, opina Amy Webb, CEO do Future Today Institute. “Sob confinamento, aprendemos a trabalhar em nossas mesas de cozinha, liderar de nossos quartos sobressalentes e apoiar uns aos outros a distância. Mas essa interrupção apenas começou.” 

“As tecnologias exponenciais estão desafiando nossas suposições sobre o potencial humano”, opina Amy Webb
“As tecnologias exponenciais estão desafiando nossas suposições sobre o potencial humano”, opina Amy Webb
Foto: Divulgação

Mas, como unir tecnologia com habilidades socioemocionais? Como colocar isso na prática no ensino dessas habilidades? É justamente ao responder essas perguntas que se promove a figura do Human Coder, que faz tecnologia para pessoas, não tecnologia por tecnologia.

Essa figura é um cidadão global que flutua sem amarras entre o mundo analógico e o digital. Ele tem a habilidade vitar de aprender a aprender, colaborar em ambientes diversos e resolver problemas complexos, além, obviamente, de saber programar.

Como esse tipo de gente vai mudar sua profissão?

Apenas aprender a programar não é mais suficiente. É preciso saber resolver problemas complexos, ter pensamento crítico, inteligência emocional e flexibilidade cognitiva. Esse o dev (desenvolvedor) do futuro imediato.

“Devs estão escrevendo o futuro e moldando os contornos de nossas sociedades. São a fonte de mudanças profundas em nosso mundo, desenvolvem algoritmos, linhas de código, inteligências artificiais, sistemas que impactam e afetam um grande número de pessoas. Assim, além do desenvolvimento da excelência técnica, é nosso papel – e até mesmo nosso dever – preparar melhor os estudantes para esta crescente responsabilidade de capacitação para evoluir com sabedoria e ética”, diz Sophie Viger, diretora da 42 Network. “Como Bill Hibbard menciona em seu livro ‘Super-Intelligent Machines’, construir máquinas superinteligentes pode ser um grande benefício ou uma grande ameaça para os humanos.” 

“Devs estão escrevendo o futuro e moldando os contornos de nossas sociedades”, diz Sophie Viger
“Devs estão escrevendo o futuro e moldando os contornos de nossas sociedades”, diz Sophie Viger
Foto: Divulgação

A verdade é que ter um mínimo de domínio de tecnologia é uma habilidade essencial para qualquer profissão. 

“A proficiência em tecnologia é uma skill necessária para qualquer pessoa no mundo físico e digital: crianças, jovens e adultos. Para criar, consumir, ser protagonista no mundo contemporâneo é essencial ter letramento digital”, alerta Claudio Sassaki, mestre em Educação pela Universidade Stanford e cofundador da Geekie, empresa que criou a primeira plataforma de educação baseada em dados do Brasil. “Embora a leitura, escrita e matemática sejam as capacidades básicas da sociedade moderna, existem desafios adicionais que precisam ser respondidos por uma educação que deve preparar o indivíduo para as demandas de um futuro que já se faz presente. Se a linguagem de código vai estar por trás dos sistemas que vão fazer a gestão do mundo, é necessário um letramento nesse tema para pensarmos formas mais éticas, inclusivas e democráticas de utilizá-la. Você não precisa ser programador, mas precisa entender a lógica e como as coisas funcionam. Isso é estrutural para a educação.”  

A formação profissional que sai do bolso da empresa

Apesar de a transformação tecnológica e da automação do trabalho acontecer em todas as esferas da sociedade, em um primeiro momento são as empresas ― de qualquer tamanho, inclusive as micro ― que estão investindo nessa formação como resposta à ausência de mão de obra qualificada e especializada. 

A maioria opta por uma formação adicional dentro da própria empresa ou através de parcerias com terceiros. Para trabalhadores que precisam permanecer em suas funções nos próximos cinco anos, quase 50% precisarão de requalificação para suas habilidades essenciais.

“No futuro, veremos que as empresas mais competitivas serão aquelas que investiram pesadamente em seu capital humano – nas habilidades e nas competências de seus funcionários”, diz Saadia Zahidi, diretora do Fórum Econômico Mundial e uma das coordenadoras do levantamento The Future of Jobs Report 2020. 

No Brasil, cerca de 46 mil profissionais são formados por ano em carreiras de tecnologia. Porém, a demanda, até 2024, vai superar 70 mil vagas abertas anualmente, segundo dados da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom). 

O desafio é administrar esse déficit de mais de 260 mil pessoas, na medida em que todos os setores e as indústrias se digitalizam e pedem por mais profissionais de tecnologia. 

Para discutir um pouco mais sobre esses novos desafios para as profissões atuais, conversamos com Bob Wollheim (CSO da CI&T, sócio da The Next Company, que investe em diversas startups, e mentor da Endeavor Brasil) e Lúcia Helena Galvão (professora de Filosofia da organização Nova Acrópole do Brasil).

“Quanto mais tech ficamos, mais será sobre pessoas”, defende Bob Wollheim
“Quanto mais tech ficamos, mais será sobre pessoas”, defende Bob Wollheim
Foto: Arquivo Pessoal

A conscientização dos jovens

Dinheiro em Dia: Um dos grandes desafios da tecnologia é unir soft skills e tech savvy. Seria essa uma das saídas possíveis para trabalhar isso na educação dos jovens, para que eles se tornem profissionais mais conscientes?

Bob Wollheim: Totalmente. Na realidade, eu prefiro usar outros nomes para soft skills, como essencial skills ou heart skills, que significam muita mais realisticamente o que são essas skills. Chamá-las de soft as deixa secundárias, quando, na realidade, o grande diferencial das pessoas profissionais está no suas essencial skills e não das coisas mais formais, como no caso, conhecimento de tecnologia. Em um mundo muito mais complexo, diverso, remoto e conectado, a meu ver, as essencial skills podem ser o grande elemento de inclusão de pessoas jovens no universo de trabalho e é falta delas são, na maior parte dos casos, os grande fatores de bloqueio e de insucesso de estratégias de inclusão.

Dinheiro em Dia: Qualquer área de mercado ― não apenas tech ― pode absorver uma geração nova de devs. Existe uma consciência nas classes menos abastadas que esse é o caminho pro futuro imediato?

Wollheim: Quando você acompanha o que está acontecendo no mundo dev ― low code, no code, augmented coding ―, começa a ficar claro que será muito mais sobre um raciocínio lógico, um mindset de código do que exatamente do codar e isso amplifica generosamente o universo tech. Vejo que sim, há a possibilidade de uma nova geração de devs a partir da exponencialização dessas tecnologias. Infelizmente, isso ainda leve um tempo para se tornar mainstream e para beneficiar as pessoas menos favorecidas. Mas, penso, vai acontecer.

Dinheiro em Dia: A programação low-code aparentemente tem sido muito bem recebida pelo público feminino. Você acredita que pode ser o momento em que as mulheres terão participação maior, o que não ocorre entre os devs convencionais?

Wollheim: Penso que a lógica é um pouco simplista. Dizer que o low-code favorece mulheres seria admitir que existe algum gap de capacidade, o que radicalmente não concordo. O ambiente tech, infelizmente, ainda é muito masculino e os incentivos para que mais mulheres escolham essa carreira, desde a fase de estudos até o momento de trabalho, são baixos e desafiadores. Vejo que essas são as barreiras reais, nunca as de capacidade. O low-code, por outro lado, por abrir mais oportunidades, como falamos acima, pode sim abrir espaços novos, como escolas novas, áreas novas, e portanto receber mais pessoas que não sejam homens, sejam mulheres, ou grupos minorizados ― e até mesmo profissionais de outras áreas de formação. 

Dinheiro em Dia: O turn over na área de tecnologia ainda é alto. Como você acha que é possível brecar esse processo e reter talentos dessa área?

Wollheim: Aqui a regra é simples: oferta e procura. Há um gap global de profissionais ― que deve perdurar, mesmo com a crise do momento que apenas ameniza a situação por uns meses ― portanto haverá sempre um turn over relativamente alto pois há mais procura do que pessoas disponíveis. O que ajuda muito, no lado das empresas, é uma cultura forte de pessoas e a construção de ambientes intra-empreendedores onde as pessoas possam fazer suas carreiras profissionais crescerem rápido. 

Dinheiro em Dia: Antigamente, ter noções do Pacote Office era primordial em um currículo. Qual vai ser o item indispensável da nova geração que chega ao mercado de trabalho?

Wollheim: [Rindo] O Pacote Office ou o Pacote Google”(mais atual) continuam sendo importantes, cada vez mais, talvez. Mas, a geração que chega ao mercado já chega “tech” pois foi criada com isso em seu dia-a-dia. O mais importante, a meu ver, é um mix bom entre as essencial skills ― aquelas do ser, da integridade, do viver em incertezas, da adaptabilidade e da preparação para a constante mudança - e as capacidades de um pensamento analítico, lógico, estruturado e focado, além dos conhecimentos específicos ― cada vez mais disponíveis todos da web. É incrível que como as novas gerações vivem isso nas suas vidas, elas já chegam muito mais preparadas do que as gerações anteriores. 

Dinheiro em Dia: Isso inclui a Inteligência Artificial?

Wollheim: Outro dia via uma citação que dizia algo assim: “IA não vai roubar o seu emprego/trabalho, mas alguém que sabe usar IA vai!” Penso que é muito por aí. IA está virando mainstream (se você ainda não testou o ChatGPT, teste aqui) e saber usar esses recursos maravilhosos para potencializar o trabalho será mandatório em pouquíssimo tempo, ou seja, o “Pacote IA” será superimportante, não substituindo os anteriores, mas se somando a eles. A provocação: quanto mais tech ficamos, mais será sobre pessoas. Olha aí as essencial skills de novo!

“A substituição da convivência humana pela interação digital já é algo que traz preocupações”, defende Lúcia Helena
“A substituição da convivência humana pela interação digital já é algo que traz preocupações”, defende Lúcia Helena
Foto: Arquivo Pessoal

É preciso olhar mais para as pessoas

Dinheiro em Dia: Há um consenso de que a exclusão digital é o novo analfabetismo. Qual seria a solução para reverter esse quadro no Brasil?

Lúcia Helena Galvão: Claro que o esforço das escolas, sobretudo as públicas, e dos professores para estarem basicamente atualizados com tudo o que diz respeito à educação digital é uma necessidade, e isso já tem sido buscado. Além do mais, a perícia digital é um novo e bom atrativo para trazer crianças e adolescentes excluídos para a escola. Só espero que, junto com a perícia, também se ensine a ética no mundo digital, para que ele se torne realmente um meio de inclusão, e não mais um canal através do qual se desenvolve a passos largos a delinquência, como já temos visto.

Dinheiro em Dia: Depois do hardware e do software, temos agora o peopleware. Como afinal desenvolver cada vez melhor as habilidades humanas socioemocionais?

Lúcia: Creio que a nossa maior preocupação seja de que o chamado peopleware seja o grupo mais afetado por suas perdas em termos de habilidades humanas socioemocionais. A substituição da convivência humana pela interação digital já é algo que traz preocupações em nossos dias. A atualização digital é uma necessidade que corre num ritmo que não dá fôlego, e não é difícil que alguém tenha sua vida toda absorvida por esta necessidade de estar atualizado, ou ainda de estar mais atualizado do que os demais, dentro de um mercado competitivo. Interação humana, convivência são fatores que geram uma emotividade equilibrada e uma mente sadia, elementos que também são, é bom lembrar, exigências para um homem verdadeiramente produtivo. Sem o devido cuidado, corremos o risco de criar uma “síndrome do peopleware”, como aqueles seres humanos desatualizados na arte de viver e conviver.

Redação Dinheiro em Dia
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