Casamento coletivo no São João de Campina Grande: 'Meu pai dizia que se eu não casasse ia me buscar'
Pressionados pela família, Anny e Iratian se casaram no Parque do Povo, na Paraíba
O amor de Anny Sionara Moura Lima Dantas, de 50 anos, e Iratian Dantas Pereira, de 49 anos, pelo São João de Campina Grande ér medido pelo próprio casamento. Há 24 anos juntos, o casal deu início ao casamento coletivo em meados dos anos 2000 e neste ano comemorou mais um aniversário no maior festejo junino do país.
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No mesmo local onde tudo começou, no Parque do Povo, Anny e Iratian, seguem uma tradição quase que ritualística. Debaixo da pirâmide, que guarda histórias e sentimentos únicos do casal, eles revivem o momento do tão esperado e especial do 'sim' anualmente - com exceção de 2020, por conta da pandemia do Covid-19.
O momento, que hoje traz sentimentos de nostalgia, já foi de apreensão e desafio. Isso porque, aos 26 anos, o casal, natural de Mossoró, interior do Rio Grande do Norte, e recém-chegado a Campina Grande, enfrentava dificuldades financeiras e pressão da família para se casar.
"Quando a gente entrou no apartamento, a gente todo 'lascado', ele estudante, só tinha a pensão da mãe que já tinha morrido, e eu, só com o dinheiro de professora substituta na Universidade Estadual da Paraíba. Só compramos um colchão. Meu pai dizia que se eu não casasse iria me buscar ", conta Anny.
Foi quando num rotineiro café da noite, em tom de brincadeira pela situação desafiadora que o casal passava, o tio de Anny deu um conselho que ele não esperava que ela levasse a sério: casar no Parque do Povo, através do casamento coletivo.
"Não era tradicional. Só tinha acontecido uma vez. Ele falou brincando. E na mesma hora eu disse: vou casar. Eles não acreditaram", lembra.
Tomada a decisão, em meados de abril do ano 2000, Anny e Iratian iniciaram uma corrida contra o tempo para organizar toda a festa, que é realizada anualmente no mês de junho. O casal rapidamente conseguiu realizar a inscrição no evento, mas sem estrutura, precisou contar com as preces para Santo Antônio para resolver problemas de logística como fotos, convidados e até roupas.
Na ocasião, a prefeitura disponibiliza apenas 10 fichas para convidados e foi aí que a noiva viveu um verdadeiro dilema para convidar seus parentes e do noivo. Mas assim como uma bênção do Santo Casamenteiro, o casal providenciou junto a organização terno e vestido alugados, além de maquiagem e um bolo e o pagamento pelo registro civil.
"Quando o pessoal da minha família ficou sabendo todos quiseram vir e aí que foi o grande problema. Porque não tínhamos entradas suficientes para toda família (risos). Tirei muito o juízo (insistência) da menina da prefeitura e ela ainda conseguiu mais 10 entradas", conta, aos risos.
Superado os percalços, a noite do dia 11 de junho de 2000 ficou eternizada na memória de Anny e Iratian, que se emocionaram durante a cerimônia e ao relembrarem dela. A simplicidade e o amor efervescente dos jovens foi celebrado com uma calorosa festa junina.
"Tinha tocador de sanfona, trio de forró. Foi emocionante. Eu parecia que estava em um conto de fadas, não estava acreditando que em um ano eu tinha conseguido um emprego na universidade que era o sonho da minha vida e que estava casando. A felicidade era incrível. Ele chorou, coisa que nunca tinha visto na vida, sentiu a presença da mãe", relembra.
Um belo São João para festejar
Terminada a cerimônia, em êxtase, os recém-casados partiram para a folia e esqueceram até mesmo de devolver as roupas alugadas para a cerimônia.
Vinte e quatro anos depois, Anny e Iran voltaram para o local onde tudo começou. Numa visita ao Parque do Povo para comemorar os 24 anos de casados, eles se depararam inesperadamente com mais um casamento coletivo .
"Chegamos na pirâmide e vimos o casamento. Ele pegou na minha mão muito rápido. A gente ficou ali paralisado, relembrando. Foi como se tivesse passado um filme na cabeça da gente. Quando olhamos um para o outro, estávamos chorando", conta para reportagem em tom emocionado.
Há 24 anos casados, Anny e Iran se conheceram ainda na infância, quando cursavam o equivalente ao Ensino Médio, no começo dos anos 90. Eles têm dois filhos, Ian, de 20 anos e Izis, de 16.
"Hoje, estamos num momento muito bom em nossas vidas. Nesse meio tempo eu adquiri uma doença autoimune, o Lúpus, mas estou bem. Esse ano foi só agradecer. Tenho dois filhos maravilhosos. Trabalhamos na Universidade Estadual da Paraíba. Agradecer a Campina Grande por ter nos acolhido como família ", comemoram.