Dançarina trans se redescobre através das quadrilhas juninas: "Até o fim da vida vai ser assim"
Dançarina há mais de 10 anos, Dhennyfer Sampaio, 21, passou por um processo de transformação
A jovem, que é apaixonada por quadrilhas juninas, se apresentou neste ano, pela quinta vez, no São João de Campina Grande, na Paraíba, um dos mais importantes do Brasil.
- O Terraiá é o São João oficial do Terra, patrocínio master de Amazon e com cobertura patrocinada por Kwai, Loterias CAIXA, Garnier e Azulzinha, maquininha da CAIXA.
Dhennyfer se apaixonou pelas festividades juninas ainda na infância, quando ainda se identificava apenas com o gênero masculino. Mas foi se apresentar, pela primeira vez, como dama no São João para ela entender qual passo queria dar. Na dança e na vida. Foi assim que a jovem se reconheceu como transexual e embalada no ritmo do xote e do forró, desenvolveu jogo de cintura para superar preconceitos.
"Eu dançava em quadrilhas pequenas. Quando comecei nas quadrilhas estilizadas, eu não me via mais dançando na minha versão masculina. Comecei a me identificar, pegar a saia, dançar, surgiu a vontade. Aí vi também que outras pessoas já dançavam e quis também tentar", conta.
Apesar da paixão à primeira dança, Dhennyfer enfrentou resistência em sua jornada e, assim como a maioria da população transexual brasileira, não contou com o apoio integral de familiares e amigos no início da trajetória.
"O processo é doloroso, mas assim, é uma identificação muito forte para mim. Não me vejo mais dançando de menino. Só danço de menina e sempre, para mim, até o fim da vida, enquanto eu estiver dançando, vai ser assim", afirma.
São João diverso
Natural de Remígio, município localizado a cerca de 37 km de Campina Grande, Dhennyfer trabalha como costureira, além de cuidar da coreografia de uma quadrilha completa, a Rosas de Ouro. Durante o período de São João, a alta demanda faz a dançarina gastar mais de 12h seguidas produzindo figurinos e passar noites sem dormir.
"Pensei muitas vezes em desistir. Me vi muito sozinha para fazer tudo. Sou responsável pela coreografia da quadrilha que eu danço, ambém sou costureira de todas as saias. Passei vários dias sem ver meus pais".
Hoje, aos 21 anos, e com reconhecimento da família e amigos, Dhennyfer se considera realizada como dançarina e celebra o São João como um ambiente de acolhimento das pessoas LGBTQIAPN+. Emocionada, ela se realiza nas pistas de dança e faz valer as noites de sono perdidas e angústias que precedem o show.
"Nunca pensei que eu pudesse possuir a credibilidade de fazer tudo isso como também possuir o apoio de pessoas para que eu pudesse bolar tudo isso. Só de estar aqui é uma vitória muito grande. Para mim significa muito mais que título. É uma emoção muito grande poder levantar a bandeira", completa.